Um leitor entra em contato comigo e diz ter sido vítima de uma situação no mínimo estranha: procurava uma vaga para estacionar o carro em uma rua da área central de Foz, próxima a uma igreja. Verificou, então, que uma vaga estava fechada (ocupada) por dois tijolos. Imaginou que eles – os tijolos – estivessem abandonados, esquecidos, e prontamente desceu do carro e foi liberar a vaga para, assim, estacionar seu carro. E foi aí que tudo aconteceu.
A velha musiquinha dizia “se essa rua fosse minha”. Apesar da nostalgia causada em nós, este começo da música deixa claro: “se fosse minha”, mas não é. A rua, como as calçadas, etc, faz parte do patrimônio público e pertence a todos, sem restrição. Fechar uma rua ou ocupar o espaço para fins privados ou restringir seu uso a terceiros é um afronte à vida em sociedade. Mas, em nossa cidade, há pessoas que se esquecem dessas lições.
O caso que comecei a narrar acima, relatado por um leitor, terminou da seguinte maneira: um homem, algo como um porteiro ou segurança do estabelecimento religioso, sai lá de dentro gritando: “a vaga está reservada”. Indignado, o leitor, pretendendo estacionar seu carro e ir à padaria, contesta: “a vaga é pública” e ouve um sonoro “essa não!”. Outro porteiro/segurança, um pouco maior que o primeiro, sai lá de dentro e recoloca os tijolos e, para garantir a posse do espaço, traz um cone e, definitivamente, delimita seu território.
Esta história aconteceu na sexta-feira passada. Hoje, no final da tarde, fui dar uma volta pela cidade para ver como alguns estabelecimentos agem com as vagas de estacionamento. Eu, que não uso carro diariamente, confesso, não havia percebido que a prática é muito comum. Flagramos, entre 18h e 19h desta terça, pelo menos vinte locais (pizzarias, hotéis, igrejas, pontos de moto-táxi, supermercados e até um “cachorro quente”) reservando vagas, de inúmeras maneiras. Fotografei algumas, as que julguei em ambiente “pouco perigoso”.
A foto abaixo foi tirada na Rua Marechal Deodoro, em frente a um hotel que, à noite, aluga seu salão para uma congregação religiosa. Observe e tire sua próprias conclusões.
Esta outra foto, na Rua Quintino Bocaiúva, foi tirada em frente a uma igreja. No local, segundo os vizinhos, a rua fica tomada nos dias de culto e há reservas de várias vagas. Eu mesmo presenciei diversos cones “encostados” no meio fio, esperando a hora de entrarem em ação e limitarem o uso do espaço público.
Cabe salientar que, em ambos os casos, tratamos de uma região de alto movimento à noite, devido à concentração de restaurantes e, assim, a reserva de vagas prejudica não só o morador da região, mas também o turista e o cidadão que passeia por ali.
Mas isso não ocorre apenas no Centro.
No Conjunto Libra, flagramos uma pizzaria delimitando as vagas para estacionar as motos da entrega, como mostra a foto abaixo.
Mesmo não sendo uma área de grande procura por vagas – pois se trata de um bairro -, cercar o espaço público é errado e este ato deve ser combatido.
E como mudar?
Uma alternativa seria regulamentar algumas vagas, como já acontece em frente às farmácias ou nas áreas reservadas a idosos e portadores de necessidades especiais (PNE), desde que o estabelecimento comprove a necessidade e desde que haja uma rotatividade (colocando-se, por exemplo, a obrigatoriedade de pisca-alerta ligado e limitando o tempo de uso em, no máximo, 15 minutos). Outra saída é obrigar que estabelecimentos de alta concentração (como igrejas), em seus projetos de reforma ou construção, prevejam recuos (dentro dos terrenos) para estacionamento de carros “especiais”. Em caso de descumprimento dessas normas, os estabelecimentos poderiam ser autuados a, por exemplo, ter de arcar com a revitalização da pintura das vagas usadas de forma irregular, como punição educativa. Observo, por fim, que, para cobrar dos cidadãos, o poder público deve ser cuidadoso com a sinalização, mantendo-a sempre em boas condições para não haver desculpas.
É tudo uma questão de cidadania e fiscalização.
* Luiz Henrique Dias é dramaturgo, estudante de Gestão Pública e comunista (convicto). Ele escreve todas as segundas no Jornal A Gazeta do Iguaçu, às quartas aqui no ClickFoz e, diariamente, em seu site www.luizhenriquedias.com.br. O Luiz é o do tipo que sai para tirar fotos e fica disfarçando, com medo de apanhar do fotografado. Julgamos que essa atitude é covarde, mas entendemos, pois não queremos um colunista banguela. Dá pra seguir o Luiz no Twitter, também: @LuizHDias
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