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Tráfico de drogas cresce mais de 800% nas fronteiras brasileiras

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Foto: PRF

A orientação de ‘ficar em casa’ por conta da quarentena surtiu efeito contrário nas fronteiras brasileiras, onde os traficantes intensificaram o fluxo de tráfico de drogas. Levantamento do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (IDESF) mostra que os estados da Região Sul e Mato Grosso do Sul, por onde passa boa parte dos produtos contrabandeados que ingressam no País, registraram aumentos expressivos na apreensão de maconha e cigarros.

O comparativo realizado pela Polícia Rodoviária Federal do Rio Grande do Sul, por exemplo, demonstra aumento de 876,14% na apreensão de cigarros no primeiro quadrimestre, em relação ao mesmo período do ano passado. De janeiro a abril, a PRF gaúcha apreendeu 3,29 milhões de maços de tabaco, contra 337,1 mil retidos no mesmo período do ano passado.

A Receita Federal de Foz do Iguaçu também registrou números impressionantes no primeiro quadrimestre. O contrabando de cigarros aumentou 749% na comparação do primeiro quadrimestre de 2020 com o mesmo período do ano passado. Em valores, calculando o preço médio de mercado do produto, as apreensões chegam a US$ 12,8 milhões. Se considerado somente o mês de abril em relação ao mesmo mês do ano anterior, o aumento de retenção em tabaco na aduana iguaçuense foi de 879%.

Nos registros da Delegacia da Polícia Federal, o crescimento na apreensão de cigarros foi de 569,7%. Segundo o delegado chefe, Mozart Fuchs, as ações se mantêm mesmo com as fronteiras fechadas há mais de dois meses, porém nem o aumento significativo na cotação do dólar no Brasil impede a continuidade do tráfico de drogas, contrabando e descaminho na região. “Percebemos uma mudança no comportamento das pessoas que tentam ingressar com mercadorias ilícitas em território nacional. Diminuíram as apreensões nas pontes da Amizade (ligação com Paraguai) e Tancredo Neves (com a Argentina), todavia houve aumento significativo de apreensões no Rio Paraná e no Lago de Itaipu”, relata.

O delegado da Alfândega da Receita Federal em Foz do Iguaçu, Paulo Bini, destaca que com as fronteiras fechadas e sem o turismo de compras, incluindo-se aí aqueles que compram para revender, a retenção na zona primária, ou nos recintos alfandegários, praticamente zerou. “Em compensação, houve movimento na zona secundária (esconderijos, estradas, etc), alimentado por depósitos com produtos já estocados, principalmente de cigarros. São esses produtos que estão sendo pegos nas abordagens”.

Para o superintendente da PRF do Rio Grande do Sul, Luís Carlos Reischak, os resultados operacionais são frutos do serviço de inteligência policial, investimento em tecnologias, qualificação dos agentes e da integração das forças de segurança. “É importante considerar que as fronteiras não estão fechadas para veículos de cargas, que são usados também no transporte de grande quantidade de ilícitos”, apontou Reischak.

Assim como Reischak, Fuchs e Bini também creditam o aumento de apreensões à integração entre as forças de segurança. Bini atribuiu os índices às ações conjuntas como a Operação Muralha, integrada por 22 instituições e realizada duas vezes por ano. “Sentamos na mesma mesa e programamos juntos o que vai ser feito”, define.

Foi a ação integrada da Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal em Mato Grosso do Sul que levou o Estado a registrar a maior apreensão de maconha já realizada no País. Na última quarta-feira (20), uma carga de 28 toneladas do entorpecente ingressada via Ponta Porã foi interceptada pelas forças de segurança. A carga está avaliada em R$ 30 milhões.

Segundo dados da Delegacia da PF de Campo Grande, a média mensal de apreensões da droga este ano é de aproximadamente 13 toneladas por mês, sendo que ano passado foi de pouco mais de seis toneladas mensais. O Estado soma 63,4 toneladas de maconha retidas em 2020, sendo que as apreensões em todo o ano passado chegaram a 79,8 toneladas.

Para o presidente do IDESF, Luciano Barros, este aumento tem relação, também, com a sazonalidade do cultivo da maconha. “Este é o momento pós colheita no Paraguai, gerando maior pressão para a distribuição da maconha. O aumento de apreensão também indica mais atenção e eficiência dos órgãos de segurança na vigilância fronteiriça”, considera Barros.

O superintendente da Polícia Federal de MS, Cleo Mazzotti, confirma que as quadrilhas de cigarro e maconha intensificaram a tentativa de ingresso no País. “As organizações criminosas apostam na redução da atuação policial por conta da pandemia e aumentaram o fluxo, porém nós continuamos atuando. Hoje há uma integração muito grande entre as forças policiais, em várias esferas, principalmente em Mato Grosso do Sul e no Paraná”, afirma.

Vizinhos – A crescente movimentação dos contrabandistas também pode ser observada nas apreensões dos países vizinhos. A Prefeitura Naval Argentina apreendeu este ano mais de 19 toneladas de maconha em diversas ações de repressão, segundo informações divulgadas no site oficial do governo argentino. O mesmo vem ocorrendo no Paraguai. Reportagens do jornal ABC Color mostram que são frequentes apreensões da droga escondidas em meio a cargas de alimentos. Na última quinta-feira, 21, o Ministério Público do Paraguai divulgou nas mídias sociais a apreensão de quatro toneladas de maconha em meio a um carregamento de bananas. A droga seria enviada para a Argentina.

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