A penitenciária de Foz do Iguaçu conta atualmente com 898 presos, destes 353 estão em regime semi aberto e podem ser inseridos no mercado de trabalho, atualmente 142 já estão trabalhando. Este projeto de inseri-los no mercado de trabalho é uma parceria da penitenciária com o governo Municipal e com a Cooperativa Lar.
Fotos: Garon Piceli | Clickfoz |
Atualmente a Penitenciária de Foz do Iguaçu conta com 898 detentos |
De acordo com o diretor da penitenciária, Rodrigo Pereira, a o sistema legal permite que os presidiários ocupem até 10% das vagas disponíveis nas empresas em que trabalham. A primeira alternativa seria encaminhá-los para uma colônia penal agrícola, mas no estado do Paraná só tem uma e não atende toda a demanda.
"Em tanto tempo de trabalho nós já sabemos o que dá errado, eu acredito que estamos indo pelo caminho certo", Rodrigo Pereira, diretor da penitenciária |
Pereira afirma que a vontade de sair para trabalhar parte do presidiário, judicialmente todos os que estão em regime semi aberto tem o dever, mas ninguém é obrigado. A partir do momento que o detendo manifesta vontade de ingressar no mercado de trabalho então ele passa por uma comissão técnica de avaliação onde é observado todo o histórico do presidiário, o tipo de crime cometido, o comportamento e a situação familiar, caso seja aprovado ele passa por acompanhamento psicológico para então começar o primeiro dia de trabalho.
Este projeto já existe há quase dois anos, até então não houve problemas com disciplina no trabalho, ou evasão. O diretor da penitenciária afirma que os resultados ainda são poucos, porém satisfatórios. “Nós já temos quatro ex-presidiários que começaram a trabalhar na cooperativa Lar através desse sistema, cumpriram a pena e foram contratados pela empresa, estão trabalhando lá, não voltaram para o crime. Nós estamos dando uma oportunidade de trabalho que muitos deles nunca tiveram”.
O diretor conta que a mudança de comportamento a partir do momento que determinado detento começa a trabalhar é nítida e rápida. “O semblante deles é a primeira coisa que muda, deixa de ser carregado e passa a ser mais tranquilo, as conversas dentro das celas também passa a ser outra. Antes eles conversavam sobre os crimes que cometeram, agora conversam sobre como foi o dia de trabalho”.
Muitos detentos estão trabalhando na construção de casas populares e alguns estão ajudando na reforma do Zoológico Bosque Guarani |
O presidiário que começa a trabalhar tem algumas vantagens, a primeira delas é a redução da pena, a cada três dias trabalhados é descontado um da pena a ser cumprida. Eles também recebem ¾ do salário mínimo, aproximadamente R$500. A família do presidiário pode receber até 80% desse valor se ele quiser e autorizar, os outros 20% é obrigatoriamente depositado em uma poupança para que ele tenha recursos quando entrar em liberdade.
“Esse sistema está dando certo e nos estamos tendo bons resultados, hoje já temos presos que foram promovidos e são chefes de setor. O ponto mais importante é a pessoa ser encarada como ser humano e não ser reconhecida pelo erro que cometeu. Se formões levar em conta os erros ninguém teria oportunidades”, afirma Pereira.
Fozhabita – atualmente parte dos presidiários trabalham para o projeto de construção de casas populares do Fozhabita. O município tem estrutura para contratar até 35, mas atualmente trabalha com uma média de 12 porque não tem mão de obra o suficiente.
O diretor do Fozhabita, José Augusto Carlessi, acredita nesse projeto e tem expectativas de que ele cresça cada vez mais.
"Eu acredito muito nesse projeto, Foz do Iguaçu é uma das primeiras cidades do estado a fazer isso e está dando certo", José Augusto Carlessi |
“Hoje se nós tivéssemos gente o suficiente poderíamos utilizar toda a mão de obra para a limpeza do Rio Boicy, por exemplo. Estamos também estudando a possibilidade de alojamentos para eles morarem nos locais de trabalho de segunda a sexta-feira e só voltarem para a penitenciária no final de semana”.
Resultados – durante a conversa com o diretor da penitenciária ele mostrou a pintura feita por um dos detentos, Clovis Alberto Silveira, ele vem se destacando entre os demais devido ao gosto que tem pelo desenho.
Fotos: Garon Piceli | Clickfoz |
Detento se emociona por diversas vezes ao contar sua história para o Clickfoz |
O detendo antes de ser preso ele era casado, tem cinco filhos, trabalhava como soldador e tapeceiro. Foi dentro da penitenciária que começou a trabalhar com tinta e gostar do que fazia.
“Eu sempre tive o dom do desenho, sempre gostei de fazer caricatura, aí pedi uma oportunidade e eles me deram, me deram um setor e é por causa do sistema que eu estou aqui fora trabalhando”.
Ele trabalha como pintor e letrista, atualmente está ajudando na reforma do zoológico Bosque Guarani. Lá gostaram tanto do trabalho dele que até um ateliê de arte foi improvisado para que ele pudesse pintar suas telas. Além de pintar ele também está dando aula para outros detentos que também se interessaram pela arte.
Em todas as telas do detento pintor o estilo de pintura já está bem definido, ele pretende ensinar outras pessoas que também se interessam pela arte |
“Eu tenho planos de continuar em Foz do Iguaçu e continuar dando aula aqui. Meu trabalho é pintar e cuidar dos mais novos para que eles não cometam erros, aqui todo mundo gosta da gente, nós ganhamos nosso espaço na sociedade de novo”, conta.
Ele se mostra satisfeito em estar trabalhando e se diz grato pela oportunidade que teve de mudar. “Depende muito de cada um querer mudar também, se o cara quiser ser pra sempre um presidiário ele vai ser. Eu também fiz pro merecer este espaço, durante os quase oito anos que estou preso nunca cometi uma falta, nunca briguei nem desrespeitei ninguém”.
Quando foi preso, ele perdeu o apoio da família, hoje um dos objetivos dele é recuperar o respeito e a consideração dos filhos. “Eu quero que no futuro eles olhem pra mim e tenham orgulho de dizer ‘esse é meu pai’”.