Biólogos e veterinários de Itaipu Binacional comemoraram nesta segunda-feira (27), o nascimento da 11ª harpia na maternidade instalada no Hospital Veterinário do Refúgio Biológico Bela Vista (RBV), em Foz do Iguaçu. A pequena ave de rapina nasceu com apenas 61 gramas, penugem rala e pele cor-de-rosa; uma semana antes, no mesmo local, outro filhote da mesma espécie viu a luz pela primeira vez.
A alta taxa de fertilidade no refúgio comprova o sucesso de uma das mais importantes experiências de reprodução em cativeiro da América Latina. “O nosso programa é para a preservação da harpia no Sul do Brasil, que está ameaçada. Não fosse o cativeiro, essa espécie não existiria mais por aqui”, afirmou o biólogo Marcos de Oliveira, da Divisão de Áreas Protegidas (MARP.CD) e um dos responsáveis pelo projeto.
O esforço de preservação vale a pena: a harpia é um gavião florestal, um dos maiores, o mais pesado e o mais potente do mundo. Adulto, chega a pesar 10 quilos – no caso das fêmeas – e a ter dois metros de envergadura. O talão, como é chamada a unha da ave, pode alcançar 6 centímetros, equivalente à unha de um urso pardo.
Originalmente, a espécie habitava uma ampla região que ia do Sul do México ao norte da Argentina, compreendendo todo o atual território brasileiro. O contínuo desaparecimento das florestas, no entanto, fez reduzir drasticamente a população dessas aves, que precisam de grandes áreas de mata contínua para sobreviver.
Hoje, no Brasil, ela só é encontrada em abundância na região do bioma amazônico, além de poucos registros no que restou da Mata Atlântica. No Paraná, embora tenha a imagem representada no alto do brasão de armas, sua presença é rara. O mais recente registro é de 2005, no município de General Carneiro, no sul do Estado.
O projeto – A ideia de reproduzir a espécie em cativeiro surgiu em 2000, quando o Refúgio Biológico recebeu um macho apreendido pela Polícia Civil. Dois anos mais tarde, chegava a primeira fêmea; no dia 13 de março de 2006, os biólogos e veterinários de Itaipu avistaram o primeiro ovo. O caminho para reprodução estava aberto.
Após quatro tentativas frustradas – o embrião de um ovo morreu e outros três filhotes não sobreviveram aos primeiros dias –, nasceu no dia 15 de janeiro de 2009 o primeiro espécime mantido com sucesso pelo projeto. Na sequência, vieram outros dez filhotes – o último deles, de número 11, nascido nesta segunda-feira.
Marcos de Oliveira explica que nas primeiras semanas o filhote se alimenta cinco vezes por dia. Ao final de 24 horas, ele chega a comer de 30% a 35% o equivalente ao próprio peso. Por isso, cresce muito rápido: é fácil observar a diferença de tamanho entre o que nasceu segunda-feira e o de seis dias antes, que ainda está sendo cuidado no Hospital Veterinário.
A fase de incubação varia de 53 a 56 dias, com temperatura e umidade controladas. Depois, os filhotes são transferidos para um viveiro – é o caso de duas outras aves que nasceram nos dias 26 de dezembro e 1º de janeiro, respectivamente, e já estão com cerca de 3 quilos cada uma.
Ampliação – Hoje, Itaipu mantém 12 aves da espécie, incluindo os dois filhotes. O número poderia ser maior, mas o refúgio já cedeu uma harpia que nasceu no local para outras unidades de recriação – como uma localizada em Campina Grande do Sul, na região metropolitana de Curitiba.
Também há problema de espaço. A capacidade atual do refúgio é para abrigar até três casais simultaneamente. De acordo com Marcos de Oliveira, a ideia do grupo é elevar a capacidade para até seis casais, ampliando assim as chances de reprodução.
“São aves destinadas à preservação da espécie em cativeiro”, destacou o biólogo, sobre o estágio atual do projeto. “No futuro, com um número adequado de aves, poderemos desenvolver um programa de reintrodução na natureza”, acrescentou.