Já passava das 11h da manhã. Era domingo, um belo domingo de sol. Um domingo que prometia ser feliz e tranquilo. Depois de tomarmos café em uma padaria próxima de casa, minha namorada decidiu embarcar em um ônibus do Centro em direção à Zona Sul da cidade. Fomos até um ponto , localizado na Rua Rui Barbosa, próximo à Avenida JK. Tinhamos o horário da linha e tudo parecia estar bem. O único incômodo era uma leve dor que ela sentia na perna direita e que a impedia de caminhar normalmente. Mas, fora isso, tudo bem. Chegamos ao ponto e, por este estar cheio, nos aproximamos de um muro para que ela pudesse se escorar um pouco, até o ônibus vir. E ele – o ônibus – não demorou muito e, em cinco minutos, apontou na esquina e foi aí que tudo aconteceu.
Eu saí de onde estava e, fui até a margem da rua. Dei sinal para o ônibus. Voltei para ajudá-la e, num golpe de vista, vi que o ônibus não iria parar. Voltei à margem correndo abanei os dois braços. Finalmente o motorista parou, alguns metros depois do ponto.
Retornei até próximo ao muro e fui dar apoio para que ela caminhasse até veículo. Tamanha foi minha surpresa quando vi o motorista acelerando e saindo. Gritei. Disse “espere, por favor”. Ele parou, agora mais à frente e, aborrecido com a demora dela em embarcar, começou a andar o ônibus devagar com a porta aberta como se dissesse “andem logo”. Ela, mesmo com a perna dolorida, saltou para dentro do ônibus em movimento. O motorista me encarou e seguiu viagem. Quando pensei em ligar para alguém e reclamar, minha namorada me telefona de dentro do ônibus dizendo que, depois do embarque, o motorista disse a ela “quem não tem pressa, tem que esperar o próximo”.
Fiquei transtornado.
Liguei no FozTrans. Ninguém atendia. Claro, era domingo. Eles não trabalham no domingo. Apesar que deveriam, pois a população – que paga o salário deles – precisa dos serviços funcionando. Liguei então na empresa que eu julgava ser dona do ônibus (porque em Foz é assim: pra ganhar a licitação é um consórcio. Agora, pra resolver problemas, aí são várias empresas e uma joga a culpa na outra). Informei a linha, 103, o horário, 11h30, o local, o sentido, etc. Eles disseram que era em outra empresa. Me deram o número.
Liguei. O rapaz que me atendeu, disse que era “só fiscal” e que não poderia fazer nada, mas anotoria os dados e passaria para o Atendimento ao Usuário. Passei os dados e contei o caso. Ele disse que anotou tudo. Alguns minutos depois, lembrando de outro detalhe, liguei novamete e ele não sabia meus dados. Ou seja, não havia anotado. Discutimos por telefone e ele prometeu passar o caso para o responsável, na segunda.
Como não acreditei nele, segunda, logo cedo, entrei em contato com a empresa e o “responsável” pelo atendimento ao usuário não sabia de nada. Ou seja, fui enganado. Reclamei do motorista e do funcinário que me atendeu anteriormente e recebi a promessa de providências. Horas depois, fiz contato com o “responsável” novamente e ele me disse que o funcionário – aquele que não anotou nada – havia dito ter perdido as anotações pois “a mesa dele estava uma bagunça”, mas que ele – o responsável – cuidaria pessoalmente do caso. Para tal, pegou os contatos meus e de minha namorada e prometeu retorno. E até agora, quarta, 10h56, 48 horas depois, não me retornou.
Ainda tenho esperança que ele nos ligue. Que faça contato. Ainda tenho esperança em ver o motorista tomar uma bronca para nunca mais tratar um cidadão, usuário de um serviço público, dessa forma. Imaginem se fosse uma pessoa idosa? Enfim… ainda tenho esperança em ver as pessoas serem bem tratadas e que os prestadores de serviços de concessão pública respeitem nossos direitos. O que eu não tenho esperança, gente, é ver esse transporte de Foz mudar se as coisas continuarem como estão, nas mãos de quem estão e, principalmente, sendo fiscalizado por um órgão que avaliza comportamentos como esse e, quando a gente reclama, inventa mil desculpas para justificar o mal atendimento por parte daqueles que ele – o órgão – deveria cobrar providências e, na falta destas, aplicar multas.
Bom dia a todos!
* Luiz Henrique Dias é dramaturgo e encenador da Cia Experiencial O Teatro do Excluído. Desde que inventaram o telefone celular com câmera, ele passa o dia fotografando motoristas caras-de-pau e “cidadãos” desatentos. Mas o feitiço virou contra o Luiz. Semana passada ele passeava com seu cachorro quando, de repente, o animal – cachorro – fez xixi em um parquímetro. Nós fotografamos a cena e vamos usar isso contra ele – Luiz – em breve. Pra que nosso colunista aprenda a não enrolar o rabo e ficar falando do rabo alheio. Leia mais em www.luizhenriquedias.com.br e siga ele no Twitter: @LuizHDias.
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