Um grupo de pesquisadores do Parque Tecnológico Itaipu (PTI), da Itaipu Binacional, da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) e de outras instituições de ensino integram um projeto que tem como objetivo analisar a concentração e influência de agrotóxico existente nos rios, solos e na biodiversidade da área de fronteira entre Brasil e Paraguai.
Em abril devem ser divulgados os resultados da primeira campanha amostral realizada em fevereiro simultaneamente nos dois países. O trabalho de coleta envolveu mais de 20 pessoas, que percorreram aproximadamente dois mil quilômetros durante duas semanas. Ao longo do primeiro ano do projeto, que tem duração total prevista de quatro anos e meio, as campanhas serão realizadas de maneira bimestral (análises da qualidade da água) ou trimestral (análises biológicas).
As atividades do “Estudo da dinâmica de micropoluentes em diferentes matrizes ambientais na região transfronteiriça” são uma continuidade ampliada de um estudo que analisou amostras coletadas em 21 microbacias da Bacia Hidrográfica do Paraná 3 (BP3). Os resultados positivos divulgados no ano passado indicaram concentrações de agrotóxico abaixo dos limites estabelecidos pela resolução 357/2005 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA).
No novo convênio, o objetivo é fazer um monitoramento mais detalhado da região, utilizando como base 12 pontos na BP3 e outros 12 na bacia correspondente na margem paraguaia. A busca agora é por entender como funciona a dinâmica de degradação destes compostos no solo e como eles afetam a biodiversidade. “Na região temos muitas áreas de agricultura e ainda não se sabe muito bem quais são os efeitos e impactos que esse volume de agrotóxico traz ao nosso ambiente. Com base nos resultados, poderemos exigir um manejo melhor e adequado dos extratos ambientais”, explica João Durval, pesquisador do PTI e doutor em Ecologia e Recursos Naturais.
O projeto será dividido em três subprojetos: análise dos micropoluentes nos riachos das microbacias no entorno do reservatório da Itaipu na região transfronteiriça; a avaliação do efeito desses micropoluentes na biodiversidade de algas e peixes nesses riachos; e um estudo da degradação por microrganismos dos agrotóxicos no solo. “A maior importância é ver a saúde do ambiente e com isso aperfeiçoar políticas públicas que já são desenvolvidas pela Itaipu dentro do território”, ressalta Bianca do Amaral, pesquisadora do PTI e doutora em Química Analítica. Ela também ressalta que o projeto é considerado inovador nesta escala de abrangência. “No mundo há poucas ações semelhantes”.
O diretor superintendente do PTI, Jorge Augusto Callado, destaca a importância da detecção dessas substâncias poluentes. Por isso, o Parque quer a continuidade desse trabalho. “Essa detecção requer um alto nível de especialização dos nossos técnicos. Por meio desses resultados, podem ser tomadas medidas mitigadoras dos impactos desses micropoluentes”, destaca.
Uma parte das análises será realizada no Instituto de Química, da UFRGS, mas a maior parte deve ser concentrada no Laboratório Multiusuários Engenheira Enedina Alves Marques, do PTI. O espaço reúne uma série de expertises como Cromatografia, Limnologia, Biologia Molecular, Ecologia da Paisagem, Microscopia Eletrônica, entre outros.
Equipe ampliada e desafios complexos
Para garantir a análise das amostras, a equipe do projeto foi ampliada e envolve diretamente professores pesquisadores da Unila, além de bolsistas de instituições como a Universidade Federal do Paraná (UFPR), o Instituto Federal do Paraná (IFPR), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Universidade Estadual Paulista (UNESP) e a Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL).
Além de expandir o trabalho para o país vizinho, a nova fase do projeto pretende estudar o solo, para identificar os tipos de pesticidas presentes, quantificar os de maior incidência e avaliar o poder de degradação dessas substâncias por micro-organismos.
O estudo prévio apontou que os principais pesticidas utilizados na região são a atrazina e o glifosato, que convencionalmente são aplicados nos cultivos de soja e milho, representando 80% do uso e ocupação agrícola da região. A situação preocupa já que o estado do Paraná é o terceiro maior consumidor de agrotóxico do Brasil, que por sua vez é um dos líderes mundiais no uso.
Para conseguir êxito no estudo, os pesquisadores terão que vencer uma série de fatores que dificultam o trabalho de análise. O glifosato, por exemplo, exige muita atenção para ser detectado. “Depois do momento da aplicação, é necessário que tenha uma grande chuva e que a água escoe para o corpo d’água, e a coleta deve ser logo após essa chuva para ser detectado de forma coerente”, explica Durval.