Dia desses eu estava em uma aula no Instituto Henfil quando, como é de costume, começamos, eu e os alunos, a oscilar entre o conteúdo e assuntos transversais. Caímos em um tema deveras polêmico: violência urbana.
Chamo de polêmico porque envolve diversos, dezenas, centenas, pontos de vista, todos baseados na percepção individual do problema – violência – e, até, em experiências vividas. "Já fui assaltado", "já sofri sequestro relâmpago", "meu irmão ficou com uma arma na cabeça", etc.
Não quero aqui esgotar o assunto, inesgotável inclusive, e nem emitir opiniões sobre modelos de presídios, maioridade penal, porte ou não porte de arma por cidadãos, mas, sim, falar de um recorte específico: a educação como prevenção à violência. Longe de cair no preconceito de "quanto menor escolaridade, maiores chances de ser bandido.", o que não é verdade, mas usando o acesso à educação como fator relevante nas estatísticas reais.
Na ocasião, emiti aos meus alunos o seguinte posicionamento: "um dos motivos por não estarmos lá" – envolvidos em criminalidade – "é porque estamos aqui" – na sala de aula.
Muitos daqueles que participavam daquela aula, e de certa forma é o meu caso também, não têm a casa própria, não têm o carro pago, não tem uma fortuna ou mesmo uma boa economia para ter uma vida sem solavancos, mas todos ali, e me incluo, percebem um fato: têm uma oportunidade. E é aí, na oportunidade, que pode morar a não adesão ao crime.
Os tidos por nós, "cidadãos de bem", como marginais, bandidos, delinquentes, etc, não tiveram ou não têm a mesma sorte e perceber oportunidade no futuro, seja ele próximo ou distante, mas vêem sim, no crime, uma oportunidade. Seja ela de adentrar no mercado de consumo – buscando ter aquilo que não podem comprar por sua baixa ou inexistente renda -, seja de se sentir aceito a determinado grupo de convívio ou social, seja para alimentar sua família.
A possibilidade de educar-se, no sentido de capacitar-se ao trabalho, ao dia-a-dia, às artes e aos direitos e deveres, cumpre uma função de inserção e pertencimento, a qual podemos chamar de cidadania. Esta, somada ao trabalho, à segurança alimentar e o acesso ao lazer e à saúde, pode ser plena e, assim, produzir efeitos benéficos nos índices de violência em nossa sociedade.
Assim, é dever do Estado: dar igualdade de condições, equiparar direitos.
E o primeiro passo é sim a educação.
Nossa luta, então, deve ser por mais investimentos na formação de professores e melhoria da estrutura da rede de ensino. Nossa luta deve ser pelo cumprimento dos percentuais previstos na constituição, pela destinação e controle dos recursos do pré-sal à educação, pela expansão do ensino superior público e de qualidade e da obrigatoriedade do cumprimento função social das universidades, sejam elas públicas ou privadas.
Nossa luta contra a violência é mais demorada que a ação policial ostensiva, clamada pelos justiceiros sociais. Nossa luta é, sim, lenta, tijolo a tijolo.
Falei aos meus alunos: "Parece chavão, clichê, e é, mas nossa luta deve ser por menos presídios, mais escolas."
* Luiz Henrique Dias é escritor e entusiasta social.
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