Que os brasileiros de todas as regiões do país estão enfrentando dificuldades para comprar passagens aéreas desde a pandemia da covid-19, não é novidade. A situação degringolou no segundo semestre de 2020 e nunca mais voltou a ser como antes.
Da diminuição da oferta de voos até o encarecimento do custo médio das passagens aéreas, parece que nada colabora para que o brasileiro possa usufruir deste meio de transporte sem ter que deixar um rim empenhado como parte de pagamento.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre janeiro de 2023 e janeiro de 2024, as tarifas que já eram altas sofreram um aumento de 47,24%. Apenas em dezembro de 2023, a alta correspondeu a 8,87%.
Vale lembrar que a metodologia adotada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apenas verifica o preço ofertado das passagens em sites das companhias aéreas, sem levar em consideração os bilhetes realmente vendidos.
Para o iguaçuense “médio”, a coisa ainda fica pior pois, muitas vezes, pagamos o preço de viver em uma cidade turística quando precisamos adquirir uma passagem aérea, mesmo que seja apenas para deslocamento, sem intenções turísticas. Além do encarecimento do preço médio das passagens aéreas, o iguaçuense sofre com a diminuição das ofertas de voos e também com o encerramento de rotas que anteriormente existiam no aeroporto de Foz do Iguaçu.
Algumas rotas, aliás, não foram exatamente encerradas, embora, tecnicamente seja esse o nome dado, mas sim, realocadas em outro terminal aeroportuário. Um dos exemplos é o do Aeroporto de Cascavel, antes limitado a pouquíssimas ofertas de voos regionais e que agora opera com três grandes companhias aéreas – Latam, Gol e Azul, além da recente chegada da companhia Voepass – oferecendo voos para diversos destinos, incluindo Curitiba, Campinas, Guarulhos e Congonhas.
Durante a alta temporada, essas mesmas companhias vem oferecendo opções de rotas para as paradisíacas praias do nordeste brasileiro e outros destinos turísticos, voos que normalmente eram alocados no terminal de Foz do Iguaçu.
Para além da oferta extra de voos, partindo de Cascavel para alguns dos principais destinos buscados pelo morador da região oeste do Paraná, o aeroporto de Cascavel vem também oferecendo preços mais vantajosos que os encontrados no aeroporto de Foz do Iguaçu.
Foz do Iguaçu Vs Cascavel
Utilizando a mesma metodologia do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), decidimos cotar na manhã de hoje, uma passagem de ida e volta para a cidade de São Paulo, um dos destinos oferecidos tanto no aeroporto de Foz do Iguaçu, quanto no aeroporto de Cascavel. Escolhemos um voo na mesma companhia aérea, sem escalas e com as mesmas datas de ida e de volta.
No aeroporto de Foz do Iguaçu, uma passagem aérea emitida pela companhia Latam, saindo no dia 01 de maio e retornando no dia 05 de maio, ambos os voos diretos, sem escalas ou conexões, e ambos os voos tendo como destino de ida e embarque de volta o aeroporto de Guarulhos, custava para o iguaçuense R$ 2.413,00.
No aeroporto de Cascavel, uma passagem aérea emitida pela companhia Latam, saindo no dia 01 de maio e retornando no dia 05 de maio, ambos os voos diretos, sem escalas ou conexões, e ambos os voos tendo como destino de ida e embarque de volta o aeroporto de Guarulhos, custava para o iguaçuense R$ 1.564,00.
Ambos os aeroportos apresentam um valor absurdo – para dizer o mínimo – para uma passagem aérea ida e volta para São Paulo. Mas vale lembrar que essa foi uma consulta feita através da internet, que pode não representar o valor real, oferecido por empresas terceiras, agências e sites de passagem aérea. De qualquer forma, esse é o valor oficial disponibilizado pela companhia aérea, e essa metodologia é muito usada por viajantes – não contumazes – quando decidem buscar uma passagem aérea.
Vale a pena optar por Cascavel?
A diferença de preço entre o aeroporto de Foz do Iguaçu e o de Cascavel é de cerca de 54.28%, o que representa um valor considerável para um viajante, e quando trata-se de uma viagem em família então, essa diferença se torna decisiva.
A distância aproximada de Cascavel para Foz do Iguaçu é 142 km e percorrer essa distância demora aproximadamente 1 hora e 45 minutos de carro. Levando em consideração uma média de consumo de 10 km por litro de combustível, o viajante que sai de Foz do Iguaçu e vai à Cascavel gastaria algo em torno de R$ 150,00 de combustível – ida e volta – e levando em consideração os pedágios, o custo para o viajante seria de pouco mais de R$ 200,00 para ir e voltar de Cascavel, um custo muito menor do que os 54,28% que ele vai economizar embarcando no aeroporto de Cascavel.
Por que tamanha diferença?
Existem muitas razões para a passagem aérea custar tão caro no Paraná, mas essa diferença entre Foz do Iguaçu e Cascavel possui duas principais principais: A alta procura (demanda por voos) em Foz do Iguaçu, que é uma cidade turística, em contraste com a baixa oferta de voos, faz com que os preços das passagens aéreas fiquem mais caro para o iguaçuense do que para o cascavelense. As taxas aeroportuárias também podem influenciar no preço final da passagem aérea. Em Foz do Iguaçu, o aeroporto é administrado pela empresa CCR Aeroportos, desde 2022. Em Cascavel, o aeroporto é municipal e recentemente passou a ser “co-administrado” pela Infraero, antiga responsável pela administração do aeroporto de Foz.
O combustível representa cerca de 30% dos custos da operação de uma companhia aérea, por isso, os custos de operação podem variar de um estado para outro, principalmente por conta da alíquota de ICMS cobrada sobre o querosene de aviação.
Antes da pandemia de Covid-19, a alíquota de ICMS do Querosene de Aviação (QAV) em São Paulo era de 25%. Como medida de alívio ao setor, um dos mais afetados pela parada das atividades, o percentual do imposto no estado foi reduzido, e hoje é de 12%. No Paraná, em fevereiro de 2019, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre o querosene de aviação sofreu uma redução de 18% para 12%. Segundo a CCR Aeroportos, que também administra o aeroporto de Curitiba – Afonso Pena – desde 2022, o número de destinos para a capital paranaense superou os ofertados em 2019, graças ao incentivo oferecido pelo Governo do Estado para fortalecer a aviação civil no Paraná.
Tratamento diferenciado e obscuro…
Atualmente, não é possível afirmar qual é a alíquota que incide sobre o querosene de aviação já que, por intermediação da Invest Paraná, agência de promoção de investimentos do Estado, as companhias aéreas recebem um tratamento diferenciado no recolhimento do ICMS que incide sobre o querosene de aviação civil. A Secretaria de Estado da Fazenda estabelece, em termos contratuais, uma alíquota reduzida, que pode ser reduzida a até 1,5%. Em contrapartida, as empresas devem cumprir uma série de requisitos – que não são claramente divulgados – em prol do fortalecimento da aviação civil no Estado.
Neste “fortalecimento da aviação civil no Estado”, aparentemente a Azul Linhas Aéreas vem desempenhando um papel importante. Recentemente a empresa anunciou nova rota internacional Curitiba-Montevidéu, partindo do Aeroporto Internacional Afonso Pena, em um voo operado por uma aeronave Embraer E2 da Azul, que leva adesivado em sua fuselagem a mensagem “Visite o Paraná”. No último dia 08 de abril a Azul Linha Aéreas apresentou a segunda aeronave da companhia adesivada com o selo “Visite o Paraná”. No evento, também foi anunciada a ampliação da malha aeroviária do Estado, com uma nova rota operada pela Azul entre Pato Branco, na região Sudoeste, e Campinas, em São Paulo.
Os “requisitos” estipulados pelo Estado, seja para a Azul Linhas Aéreas ou para outras companhias, não estão disponíveis, mas aparentemente, eles não incluem uma maior oferta de voos no aeroporto de Foz do Iguaçu.