Nesta semana, a Prefeitura de Foz do Iguaçu anunciou uma ação integrada com Ciudad del Este para impulsionar o turismo de compras durante a Crazy Week e a Black Friday. À primeira vista, a medida parece um esforço conjunto louvável. Mas, para quem conhece os bastidores da organização desses eventos, a iniciativa parece soar mais como um ato improvisado do que como uma verdadeira estratégia.
A pressa é inimiga da organização
A Crazy Week está marcada para acontecer entre os dias 8 e 11 de maio. Isso significa que, no momento do anúncio da integração, faltavam exatos 30 dias para o início do evento. Um prazo curtíssimo para ações promocionais que visam atrair turistas de todo o Brasil — país de dimensões continentais, onde passagens aéreas e hospedagens exigem planejamento e antecedência.
O timing da divulgação levanta suspeitas. Coincidência ou não, a escolha, feita pelo time que organiza o evento, para a data da Crazy Week parecia inicialmente embasada na expectativa de fluxo turístico gerado pela Fespop 2025, tradicional feira de Santa Terezinha de Itaipu, município vizinho a Foz. O problema? A Fespop foi cancelada no dia 19 de março por recomendação do Ministério Público do Paraná (MP-PR). Sem o evento, caiu por terra a premissa do aumento natural de visitantes na região. E o que era uma “estratégia de integração” passou a soar como uma reação apressada — e tardia. A organização decidiu manter a data anunciada, mas sem a Fespop, precisou buscar uma nova estratégia, e surgiu essa “ação integrada”, agora com o município certo, o de Foz do Iguaçu, vizinho de CDE.

O problema é antigo: falta de antecipação
Desde 2012, a Loumar Turismo é a principal divulgadora e transportadora turística dos eventos promocionais em Ciudad del Este. Ao longo de mais de uma década, enfrentamos uma dificuldade recorrente: a falta de planejamento e, principalmente, a ausência de definição antecipada das datas pelos organizadores.
A Black Friday de 2024, por exemplo, teve sua data confirmada oficialmente apenas em agosto — o que já foi considerado um avanço. A Crazy Week, por sua vez, só foi definida em março daquele ano. E em 2025, o mesmo se repetiu com a Crazy Week e a Black Friday CDE segue sem data definida.
Esse tipo de comportamento compromete todo o potencial de atração turística da região. Para o turista brasileiro — que historicamente representa 95% do público dessas datas promocionais —, o prazo de apenas um mês para se programar é insuficiente. Falta tempo para garantir passagens com bons preços, buscar hospedagem justa e, sobretudo, organizar uma viagem em família com foco em compras.
Integração só existe com planejamento
A verdadeira integração precisa envolver, desde o início, os agentes privados que detêm o know-how do turismo na fronteira. Agências, transportadoras e operadores turísticos que vivem e trabalham com esse público têm uma leitura muito mais precisa do comportamento do consumidor e das estratégias necessárias para atrair o turista certo, na hora certa.
No entanto, as sugestões da iniciativa privada vêm sendo sistematicamente ignoradas pela Câmara de Comércio de Ciudad Del Este. Estratégias são lançadas sem consulta e com prazos inviáveis. É impossível ampliar o fluxo de turistas em tão pouco tempo — a não ser que se acredite em milagres ou na capacidade do turista de atravessar fronteiras por impulso.
O risco do improviso: quem paga a conta?
A falta de antecipação também alimenta outro problema: a escalada nos preços de passagens e hotéis. Sem tempo para se planejar, o turista brasileiro vira refém de tarifas inflacionadas por companhias aéreas e redes hoteleiras que aproveitam qualquer sinal de aumento na demanda para aplicar preços abusivos. Resultado: a viagem em família, que poderia ser econômica, se torna inviável.
Por isso, defendemos que eventos como Crazy Week e Black Friday sejam incluídos no calendário oficial da região trinacional. A antecipação é o único caminho para permitir uma campanha nacional de divulgação com eficiência e alcance. Mais que isso: é a única maneira de respeitar o turista e garantir que a economia local, de fato, seja aquecida.
Conclusão: sem data, não há destino
Enquanto os órgãos oficiais continuarem tratando ações promocionais como improviso de última hora, estaremos sempre um passo atrás. A iniciativa privada tem feito sua parte. Falta agora que alguns órgãos — especialmente a Câmara de Comércio de Ciudad del Este — compreendam que turismo se faz com planejamento, não com esperança.
E se ainda restam dúvidas sobre o impacto direto da falta de antecipação, basta olhar os números. Fizemos a cotação de um pacote aéreo entre São Paulo e Foz do Iguaçu, com hospedagem no Hotel Rafain Centro (4 estrelas, no centro da cidade), para o período de 12 a 17 de novembro de 2025 — data em que, poderia existir a possibilidade de estar acontecendo o evento da Black Friday em Ciudad del Este. O pacote inclui cinco diárias com café da manhã, voos de ida e volta pela GOL, bagagem de mão, taxas de embarque e traslado de chegada e saída.
Veja a diferença de preços:

Ou seja, em apenas três meses, a mesma viagem ficou até R$ 2.200 mais cara. A antecipação das datas é mais do que uma sugestão: é uma necessidade urgente para garantir competitividade, atratividade e, acima de tudo, respeito ao consumidor.