Arte de Vilmar Machado |
Tanto o AFA, quanto o Foz FC tiveram uma imagem ruim na temporada 2009 |
O ano de 2009 tinha tudo para ser dos melhores em Foz do Iguaçu para o futebol profissional. A cidade voltava, após 15 anos, a disputar a Primeira Divisão do Campeonato Paranaense, enfrentando grandes clubes como o Atlético-PR, Coritiba e Paraná. No entanto, o Foz Futebol Clube não correspondeu às expectativas e foi rebaixado novamente à Segunda Divisão.
Quando parecia que o futebol ficaria parado por um longo período (até a disputa da Divisão de Acesso de 2010), surgiu a parceria – até hoje mal explicada –, com o AFA, situado na cidade de Umuarama, e que passaria a mandar os jogos em Foz do Iguaçu, mas com uniformes, dirigentes e até alguns jogadores e comissão técnica do Foz FC. A ideia era antecipar em um ano o retorno à Primeira Divisão, pois, de acordo com o dirigente Arif Osman, a vaga seria de Foz e não mais de Umuarama, algo, segundo ele, possível dentro da lei. Mas assim como o primeiro, o segundo time da cidade também levou revés e foi eliminado precocemente da briga.
Decepção – O torcedor iguaçuense tem pouco a comemorar quando o assunto é o futebol profissional na cidade. A começar pela Divisão de Acesso de 2008. Devido a problemas internos, que culminaram com a demissão do treinador Betão, por pouco o Foz FC não chega à última rodada sem chances de classificação. Apesar da conquista do Foz Futebol Clube no conturbado jogo contra o Operário, o processo se estendeu por vários meses, e o time da fronteira conseguiu a vaga nos tribunais. O Operário havia abandonado o campo aos 41 do segundo tempo, na marcação de um pênalti a favor do Foz, quando o jogo ainda estava empatado em 1 a 1 e só a vitória interessava à equipe da terra das Cataratas.
Passado pelas angústias dos tribunais veio a Copa Paraná e o Foz deixou escapar o título do primeiro turno para o Londrina. Com a chegada da Primeira Divisão, vieram bons patrocínios e o incentivo dos torcedores – sempre lotando o estádio do ABC (que é alugado pela diretoria do clube). Contudo, a campanha ficou muito aquém do esperado, com o precoce rebaixamento à Segunda Divisão, depois de 14 anos de esforços para a cidade voltar a disputar entre os clubes “grandes” do Paraná.
Teoricamente, o futebol profissional na cidade deveria ter parado neste momento e voltado apenas no primeiro semestre de 2010, com a disputa do Foz do Iguaçu Futebol Clube na Divisão de Acesso. No entanto, o diretor financeiro Arif Osman e o presidente Loiri Dalla Corte (Lóli) anunciaram uma parceria com o AFA, de Umuarama. O time presidido por Terra Junior entraria com a vaga e mandaria os jogos em Foz do Iguaçu, usando um uniforme com o símbolo do Foz FC, apenas escrito AFA na camiseta. Os responsáveis pela parte técnica e administrativa continuariam sendo os mesmos, Arif e Lóli, com a promessa aos torcedores de que a vaga na Primeira Divisão em 2010, caso conseguida na Divisão de Acesso de 2009, seria da cidade e o nome do clube mudaria para Clube Atlético Foz. Porém, nenhum acordo oficial foi assinado entre as duas partes.
Investimento sem retorno – Com a esperança de antecipar em um ano o retorno ao futebol de elite (algo que se fosse levado à risca o regulamento, seria proibido, pois como o Foz FC foi rebaixado em 2009, só poderia disputar a Segunda Divisão no ano seguinte), tiveram início os preparativos para a disputa do campeonato.
A comissão técnica do antigo Foz Futebol Clube, comandado por Rogério Perrô, foi reintegrada. Fizeram uma pré-temporada durante vários dias na usina hidrelétrica de Itaipu, treinando em campos muito mais sofisticados do que muitos clubes do interior paranaense. Várias empresas da cidade continuaram investindo no time, na expectativa de ver o retorno dentro de campo. Mas esse retorno não veio. A equipe acumulou derrotas na primeira fase e conseguiu a classificação ao Hexagonal Final com muita sorte, marcando o gol da vitória contra o São José no último minuto, no mesmo instante em que o Campo Mourão empatava com o Francisco Beltrão, classificando o AFA/Foz.
Boa parte dos torcedores perdeu o entusiasmo de ir ao estádio, em virtude dos maus resultados obtidos ao longo do torneio. A diretoria do Foz Futebol Clube acabou denegrindo a própria imagem, com mais um fracasso em uma equipe profissional.
Time sem base – Além dos resultados negativos no ano de 2009 – duplamente – o torcedor desconfia do futuro do futebol na cidade pela falta de investimento na formação de atletas de base. Nessa temporada, por exemplo, após o fracasso do time oficial de Foz os recursos dos patrocinadores foram investidos em um clube “de fora”, cujo sucesso era incerto. Esses recursos – de valor expressivo – poderiam, por exemplo, serem revertidos para outras modalidades esportivas, beneficiando atletas iguaçuenses ou até mesmo aplicados na formação de atletas da categoria de base do próprio Foz Futebol Clube, dando chance a jovens da cidade que sonham em se tornar atletas profissionais e, no futuro, ter um time formado por atletas da “casa” como ocorre em vários clubes do Brasil.
Imagem ilustrativa da Rede Globo |
Com os "altos e baixos" ao longo dos anos, os times de futebol profissional tiveram alguns momentos de bola cheia, mas em outros ela era murcha |
Como é o caso do Roma Esporte Clube, de Apucarana/PR. O time fundado em 2000 teve boas participações na Primeira Divisão Paranaense, tendo participado inclusive do Brasileiro da Série C em 2007 e Copa do Brasil de 2008. Atualmente, conta com dez atletas no time profissional que foram revelados pelas categorias de base do clube. Ao todo, são 22 jogadores nascidos entre 1989 e 1992, alojados no time apucaranense. “Hoje é imprescindível que um time profissional tenha uma categoria de base. Inclusive, passou a ser uma exigência da Federação Paranaense de Futebol que qualquer clube federado tenha trabalhos voltados às categorias de base e invistam na profissionalização para dar sequência à carreira dos atletas que chegam à idade adulta. Isso passará a ser uma exigência assinada pelo presidente Hélio Cury”, disse Márcio Adriano, responsável pelas categorias de base do Roma de Apucarana. Jogadores como Rafael Ricardo (hoje no futebol do Qatar) e Alessandro, treinando atualmente no Atlético Paranaense, são algumas das revelações do Roma.
Esse trabalho poderia ser desenvolvido em Foz do Iguaçu, com o Foz Futebol Clube. No entanto, a cada ano a cena se repete. Às vésperas de um campeonato são contratados inúmeros atletas, trazidos de vários clubes do estado, com um ou outro jogador nascido na cidade. A situação é pior quando o time está para disputar um Campeonato de Juniores organizado pela Federação Paranaense de Futebol.
Para o Paranaense Sub-20, que começa em agosto, o time foi formado, novamente às pressas, numa verdadeira “peneirada” realizada pelos times do futebol amador de Foz do Iguaçu, em parceria com alguns atletas da prefeitura municipal, que disputaram os Jogos da Juventude. O torneio será disputado em agosto (com o AFA estando no grupo do Foz FC) e após o campeonato, permanecerá a incerteza sobre o futuro desses jogadores. Manter uma estrutura como essa tem um alto valor, não há dúvidas. Porém, com o apoio que os dirigentes já provaram conseguir, parece ser viável arranjar fundos para a manutenção de uma estrutura profissional ao Foz Futebol Clube. Resta saber agora, se essas parcerias continuarão existindo.
“Jogando com o regulamento embaixo do braço” – Outro episódio protagonizado pelo time AFA/Foz que não agradou aos torcedores e menos ainda aos profissionais envolvidos no Campeonato Paranaense, ocorreu na penúltima rodada do Hexagonal Final da Divisão de Acesso, domingo (26). O AFA/Foz não compareceu ao estádio Bom Jesus da Lapa, em Apucarana, para a partida contra o Roma e perdeu por WO. Apesar do time não possuir mais chances de classificação, o dirigente Arif Osman, alega que o motivo que o levou a tomar tal atitude foi o número insuficiente de atletas para entrar em campo. “O regulamento me permite levar um WO sem maiores prejuízos e decidimos usá-lo. Eu tinha só sete jogadores e não fazia nenhum sentido gastar com viagens, hospedagem, alimentação, correr o risco de algum acidente pela estrada, para ir lá e tomar uma goleada. Não me arrependo”, disse Osman em entrevista ao jornal “Gazeta do Povo”. O dirigente garantiu que seu time entrará em campo na última rodada, no sábado (1º de agosto), contra o Arapongas no estádio do ABC.
Caso não compareça, estarão desrespeitando o artigo 11 do regulamento da Divisão de Acesso. O texto diz que “depois de iniciado o campeonato, caso uma EPD (Entidade de Prática Desportiva) abandone a competição, ou seja eliminada do campeonato por decisão da Justiça Desportiva, seus jogos serão anulados, e os resultados desconsiderados para todos os efeitos”. Seria considerado abandono, neste caso, se uma equipe levasse dois WO’s na mesma competição (parágrafo 2º do artigo 11).
Um campeonato de futebol é algo sério e que envolve várias pessoas, desde jogadores, dirigentes, torcedores, imprensa, entre outros. Aceitar participar de um torneio oficial acarreta responsabilidades que não podem ser esquecidas. A desistência do AFA/Foz pode trazer prejuízos a vários clubes, principalmente aos que jogaram e ganharam contra o time da fronteira. É o caso do Operário, que venceu as duas partidas, e perderia seis pontos em caso de desistência; o Serrano quatro. Com essa “nova tabela”, o Fantasma precisaria empatar na última rodada para garantir a classificação à Primeira Divisão e o Roma, hoje em terceiro, não teria mais chances de brigar por uma vaga.
Apesar das suspensões dos atletas continuarem valendo, uma vez que não houve assinatura da súmula na partida contra o Roma, a garantia por parte do clube, é de entrar em campo no estádio do ABC, no sábado (1°/08), contra o Arapongas. Com certeza é o que esperam os torcedores e demais profissionais envolvidos no Campeonato.