O diretor de Coordenação e Meio Ambiente de Itaipu, Nelton Friedrich, propôs a realização de um encontro, no dia 22 de abril, em Foz do Iguaçu, para discutir as principais experiências desenvolvidas no Brasil com base na Carta da Terra, uma declaração de princípios éticos e sustentáveis reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU). A ideia é articular uma ação conjunta de comunicação para uma apresentação na conferência Rio+20, em junho, no Rio de Janeiro.
Foto: JIE |
Uma das resoluções do Fórum Social Temático foi a discussão da Carta da Terra que acontecerá em Foz do Iguaçu |
A proposta do encontro já foi apresentada à Secretaria Internacional da Carta da Terra, com sede na Costa Rica, e ratificada no último sábado (28), em Porto Alegre, no seminário Atualidade da Carta da Terra e a Rio+20. O seminário, realizado dentro da programação do Fórum Social Temático (FST 2012), lotou o principal auditório da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul e reuniu alguns dos principais expoentes da causa ambiental no País.
Entre os presentes na mesa, estavam o teólogo e escritor Leonardo Boff, um dos autores da Carta da Terra; a ex-ministra de Meio Ambiente e ex-senadora Marina Silva; Paulo Roberto Padilha, do Instituto Paulo Freire; Rubens Born, coordenador do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (FBOMS); e Ricardo Young, conselheiro do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS).
O dia 22 de abril não foi escolhido por acaso: nesta data é comemorado o Dia Internacional da Mãe Terra. “Queremos que representantes dessas experiências em andamento, das iniciativas que aplicam a Carta da Terra, se encontrem para se conhecer e definir uma tática e uma estratégia na Rio+20. E, quem sabe, construir uma política de comunicação dessas iniciativas, que podem ter replicabilidade no País”, comentou Nelton, que fez parte da mesa para falar do Programa Cultivando Água Boa (CAB).
A ex-ministra Marina Silva destacou que as mobilizações até a conferência do Rio de Janeiro serão importantes para fortalecer a luta contra retrocessos na legislação ambiental – como o Código Ambiental. “E também para sairmos da Rio+20 com uma agenda de compromisso e uma avaliação à altura da gravidade dos problemas que estamos vivendo”, comentou.
Na avaliação da ex-ministra, o encontro em Foz do Iguaçu seria parte deste esforço. “Com certeza. E com a potência de um grupo [Itaipu] que há muito tempo vem fazendo essa discussão, procurando traduzir do ponto de vista de uma ação prática efetiva nas comunidades e locais que atua”, completou.
A secretária-executiva do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), Alexandra Resthke, que coordenou o seminário, disse ser importante que ações em andamento com base na Carta da Terra sejam conhecidas para inspirar outras iniciativas. “Essa proposta de nos encontrarmos para compartilhar tudo o que está acontecendo com base na pedagogia da Carta da Terra é excelente. Que possamos sim realizar esse sonho”, disse, citando o próprio Cultivando Água Boa como exemplo a ser seguido.
Seminário – A Carta da Terra é um documento global, que foi discutido ainda na conferência sobre o clima no Rio de Janeiro, em 1992, e lançado em 2000, com articulação, entre outras personalidades, do ex-líder da extinta União Soviética, Mikhail Gorbachev. Em 2005, em Amsterdã, na Holanda, o Programa Cultivando Água Boa foi reconhecido com o Prêmio Carta da Terra como uma das melhores práticas socioambientais do planeta.
“A Carta da Terra nos dá alicerce para os ‘Ps’ das políticas públicas. Nos ensina a olhar para o ‘p’ das populações vulneráveis; nos dá o ‘p’ da participação; nos dá outro ‘p’, o da pressa para as transformações; o ‘p’ da perseverança, da paz e da plenitude”, disse Rubens Born, na sua participação no seminário em Porto Alegre.
Para Marina Silva, a Carta da Terra “tem endereços que devem ser visitados”. A ex-ministra cita os maiores poluentes do planeta como destinatários do documento, como os Estados Unidos e a China, e também os países mais pobres, que precisam adotar modelos diferenciados de desenvolvimento. “Esses países não podem resolver seus problemas com o mesmo modelo dos países desenvolvidos”, comentou.