Search
Previous slide
Next slide

Foz do Iguaçu: Da promessa de “Hub da América Latina” ao ostracismo do turismo internacional

Com menor oferta de voos, menor número de passageiros e ainda sem a homologação da extensão da pista de pouso, Aeroporto Internacional de Foz do Iguaçu vai perdendo, pouco a pouco, seu protagonismo enquanto vê seus concorrentes próximos ganhando destaque.
Previous slide
Next slide

Em 24 de agosto de 2023, representantes do Destino Iguaçu, liderados pelo prefeito Chico Brasileiro, se reuniram com o Ministro do Turismo, Celso Sabino, para discutir questões importantes para a cidade, como a expansão dos voos.

Durante o encontro, Sabino afirmou que Foz, sendo o segundo destino internacional do país e o principal destino de visitantes asiáticos, teria um papel fundamental como hub aéreo para turistas vindos de países da América Latina, de onde partem voos para todo o mundo. Ele se comprometeu a apoiar essa ideia para fortalecer essas conexões.

O ministro assegurou à comitiva que o presidente Lula anunciaria boas notícias sobre esse assunto nos próximos dias. Infelizmente, o tempo mais uma vez mostrou ser o senhor de todas as verdades. Sete meses depois, o que temos é um claro abandono do projeto e um suposto favorecimento, tanto pelo Governo do Estado quanto pela CCR Aeroportos, para que Curitiba se torne o tão sonhado “hub” que por anos foi almejado pelo setor turístico de nossa cidade.

O início do fim

A entrada de turistas nacionais e estrangeiros em Foz do Iguaçu andava muito bem, e a expectativa de crescimento era enorme. Em 2019, o Aeroporto Internacional de Foz do Iguaçu recebeu 2,27 milhões de passageiros e 17,3 mil aeronaves, entre chegadas e partidas domésticas e internacionais. Mas aí, veio a pandemia e não apenas Foz do Iguaçu, mas o Brasil parou…

Governador Ratinho Jr. e Ministro Tarcísio Gomes de Freitas entregam reforma do aeroporto. Foto: Reprodução / Ministério da Infraestrutura.
Governador Carlos Massa Ratinho Jr. e Ministro Tarcísio Gomes de Freitas entregam reforma do aeroporto. Foto: Reprodução/Ministério da Infraestrutura.

Em 2020, em meio à busca frenética do trade turístico pela retomada do turismo na região, o então ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, inaugurou oficialmente as obras de reforma e ampliação do terminal de passageiros do Aeroporto Internacional de Foz do Iguaçu-Cataratas/PR. 

Com o término das obras, a capacidade do terminal duplicou, passando de 2,6 milhões para 5 milhões de passageiros ao ano. Além disso, o pátio de estacionamento de aeronaves foi ampliado, proporcionando mais quatro posições de estacionamento de aeronaves comerciais, aumentando a capacidade em 57%. 

Durante a entrega das obras, o ministro também autorizou o início das obras de ampliação da pista em 600 metros, possibilitando o pouso de aeronaves maiores e voos diretos para a América Central e Estados Unidos. Na data, cinco companhias aéreas operavam voos comerciais no aeroporto de Foz: Gol, Latam, Azul, JetSmart e a boliviana Amaszonas, que juntas ofereciam voos que ligavam Foz do Iguaçu às cidades de Curitiba/PR, São Paulo/SP, Campinas/SP, Porto Alegre/RS, Rio de Janeiro/RJ, Florianópolis/SC, Confins/MG, Lima (Peru), Santiago (Chile) e Santa Cruz de la Sierra (Bolívia).

Em abril de 2021, o Grupo CCR venceu o leilão de concessão dos Blocos Sul e Central, na 6ª Rodada de Concessões Aeroportuárias da ANAC. No Bloco Sul estavam incluídos os aeroportos paranaenses de Curitiba/PR – Afonso Pena; Foz do Iguaçu/PR – Cataratas; Londrina/PR – Governador José Richa e Bacacheri/PR, além de outros em estados da região sul.

Em março de 2022, a CCR Aeroportos assumiu a administração do terminal iguaçuense. 

“O Aeroporto de Foz possui características únicas no setor aeroportuário. Estamos em uma tríplice fronteira, temos diversos pontos turísticos conhecidos mundialmente e a infraestrutura local permite a realização de eventos ao longo de todo o ano. Tudo isso significa que temos um alto movimento constante e, por isso, não podemos descansar neste trabalho de oferecer um terminal capaz de comportar essa demanda”, pontuou na ocasião o gerente do terminal, Wander Melo Jr, em entrevista cedida ao portal Aeroin.net.

Estagnação e retrocesso

Do início da administração do aeroporto de Foz do Iguaçu pela CCR Aeroportos até o momento atual, para além da comercialização de todos os espaços passíveis de locação e de todos os espaços possíveis de uso para exploração de mídia, pouca mudança pode ser notada, seja pelos usuários, seja pela população de Foz do Iguaçu que segue sonhando em ver seu aeroporto se tornar um hub aéreo para a América Latina. 

O aeroporto de Foz do Iguaçu, então, teve sua pista de pousos e decolagens ampliada em 2021 para receber voos internacionais de longa distância, como rotas com a Europa e os Estados Unidos. 

A pista ganhou 664 metros de extensão, passando de 2.194 metros para 2.858 metros, mas após quase três anos da conclusão da obra, a nova extensão da pista segue sem homologação e, segundo a concessionária, o motivo a falta de sinalizações e equipamentos de controle do tráfego aéreo para que o uso total da pista pudesse ser liberado. Segundo a concessionária, essas demandas deveriam ser solucionadas pela Infraero, pois deveriam ter sido entregues pelo órgão antes da privatização do aeroporto.

Consultada no início de 2024 por diversos meios jornalísticos, a Infraero informou que “encaminhou para a CCR Aeroportos toda a documentação técnica e administrativa dos processos de homologação dos auxílios luminosos instalados no escopo da obra de ampliação da pista. Deste modo, considerando a transferência da operação do aeroporto para a CCR, a Infraero não tem mais competência administrativa para atuar perante estes órgãos em nome do Aeroporto de Foz do Iguaçu.”

A Infraero mencionou ainda que se colocava à disposição para fornecer outras informações, reforçando que perante as cláusulas do contrato de concessão, caberia à operadora que assumiu o aeroporto realizar todas as ações necessárias para viabilizar a operação do aeroporto.

E os turistas chegam quando?

Em 2023, o Aeroporto Internacional de Foz do Iguaçu recebeu 1,9 milhão de passageiros, muito abaixo dos números de 2019, mesmo após as melhorias de 2021. O número de pousos e decolagens registrado também caiu drasticamente. Em 2023 foram 14 mil voos, frente aos 17,3 mil de 2019. Das ligações internacionais, partindo do aeroporto de Foz do Iguaçu, apenas o voo para Santiago, no Chile, segue operando.

Em 1º de março deste ano, um requerimento do presidente da Câmara de Vereadores de Foz do Iguaçu, João Morales (União Brasil), cobrando explicações da concessionária sobre o atraso na liberação da extensão da pista do aeroporto internacional de Foz do Iguaçu, foi aprovado pelos vereadores.

João Morales, presidente da Câmara de Vereadores de Foz do Iguaçu. Foto: Divulgação/Câmara Municipal de Foz.

O requerimento (144/2024) pedia informações, esclarecimentos oficiais sobre o atraso e a imediata homologação. “Faz tempo que a cidade espera por isso. Estamos perdendo um grande desenvolvimento para a nossa cidade. Foz do Iguaçu está perdendo muito com isso. Possíveis voos diretos de vários países poderiam estar acontecendo neste momento e não estão ocorrendo por falta de homologação da pista. Cobramos posicionamento da concessionária. Estamos agindo em defesa dos interesses da nossa cidade”, argumentou João Morales. 

Em 18 de março, a CCR Aeroportos, concessionária responsável pela administração do terminal, informou que iria concluir as obras e homologar a extensão junto aos órgãos responsáveis. A expectativa da empresa é que a pista de pousos e decolagens do Aeroporto Internacional de Foz do Iguaçu esteja em plena operação a partir de março de 2025. A concessionária informou que o longo prazo se dá pelo fato de que o processo de homologação leva cerca de 12 meses para ser concluído. Ainda segundo a concessionária, os investimentos foram estimados em R$ 20 milhões.

Enquanto isso, nos outros aeroportos…

Enquanto Foz segue vivendo apenas das promessas e do sonho de finalmente ver seu aeroporto consolidado como um hub internacional, mas ainda à espera da homologação da pista, no Aeroporto de Curitiba/PR – Afonso Pena, também administrado pela CCR Aeroportos, a JetSMART Airlines anunciou recentemente duas novas rotas internacionais: uma para Santiago do Chile (SCL) e outra para Buenos Aires (EZE). Em outubro de 2023, o terminal já havia conquistado uma nova rota, operada pela companhia aérea Azul, ligando Curitiba a Montevidéu.

Curitiba tem ainda voos de Latam para Santiago do Chile e da Aerolineas Argentinas para Buenos Aires. O voo da Latam para Santiago passará a ser diário nos próximos meses. E estão pleiteando um voo para de Lima, no Peru, para a capital do Estado.

A estagnação do aeroporto iguaçuense também vem fortalecendo os aeroportos da região. Enquanto no terminal de Foz, os números estão abaixo do esperado, no terminal de Cascavel, localizado a cerca de 148 quilômetros de Foz do Iguaçu, os números não param de ser superados. O aeroporto que já contava com operações das empresas Latam, Gol e Azul, passou a contar com voos de uma quarta empresa aérea, a VoePass, que fez seu voo inaugural no dia 31 de março, com destino ao Aeroporto de Congonhas (SP).

Aeroporto Municipal de Cascavel. Foto: Divulgação/Prefeitura de Cascavel.

O Aeroporto de Cascavel voltou a quebrar o recorde de movimentação em 2023, quando recebeu mais de 373 mil passageiros, número cerca de 35% maior que o registrado em 2022. O número de voos também aumentou e atingiu a marca de 81, 8% maior que o do ano anterior. Atualmente, os voos que saem de Cascavel têm como destinos Curitiba, Campinas e São Paulo (Guarulhos e Congonhas).

Com ofertas de voos diretos e com menor custo do que no aeroporto de Foz do Iguaçu, turistas e moradores da região tem optado pelo deslocamento até Cascavel para só então embarcar em uma aeronave. De acordo com os usuários, a vantagem econômica justifica o deslocamento. 

O Aeroporto Municipal de Cascavel conta com o assessoramento, orientação à administração e consultoria comercial da Infraero, por meio de um contrato firmado com a Prefeitura, através da Autarquia Municipal de Mobilidade, Trânsito e Cidadania (Transitar). 

Um hub aéreo internacional logo ao lado

Outro terminal que vem tentando se aproveitar da estagnação do Aeroporto Internacional de Foz do Iguaçu é o Aeroporto Internacional Cataratas del Iguazú, localizado em Puerto Iguazú, cidade argentina que faz fronteira com Foz do Iguaçu. 

Aeroporto Internacional Cataratas Del Iguazú. Foto: Reprodução/Redes Internet.

Nesta semana, Puerto Iguazú está sediando o “III Encontro de CEOs de Empresas Aerocomerciais Internacionais”, reunindo importantes representantes do setor aéreo e autoridades nacionais.

A escolha de Puerto Iguazú como local do evento destaca sua posição estratégica no mapa regional e a vantagem competitiva de contar com o aeroporto internacional de menor tarifa da região. Isso o torna um ponto-chave para discutir a implantação de novas companhias aéreas e o crescimento do setor, segundo o Ministério do Turismo da Província de Misiones.

O evento visa promover a visão futura de Puerto Iguazú como um hub de operações aéreas, o que não apenas impulsionaria a economia local, mas também aumentaria a conectividade e o fluxo de voos na região.

Estão participando do encontro importantes representantes de companhias aéreas comerciais, como Flybondi e JetSmart, conhecidas por oferecer passagens aéreas de baixo custo, tanto para voos domésticos, quanto para voos internacionais. 

Também participam do evento, representantes do Ministério do Turismo, Meio Ambiente e Esportes da Argentina, e representantes das companhias Aerolíneas Argentinas, Avianca, Royal Class, Paranair, Azul Linhas Aéreas e DHL.

A articulação do terminal argentino, caso dê certo, pode não apenas tirar de Foz do Iguaçu a possibilidade de finalmente se tornar a cidade de um dos mais importantes terminais aéreos da América Latina, mas também, mudar todo o fluxo de turistas na região. 

A decisão do governo Lula de exigir vistos para turistas dos EUA, Canadá e Austrália a partir de 2025 pode se tornar a última de uma série de decisões desfavoráveis que vão condenar Foz do Iguaçu ao ostracismo do turismo internacional, fazendo com que o tão sonhado aumento no fluxo de turistas estrangeiros aumente, só que do outro lado da fronteira. 

Previous slide
Next slide