“A lua foi ao cinema, passava um filme engraçado…” Esse trecho de um dos poemas mais emblemáticos de Paulo Leminski é também uma homenagem a sua filha caçula, Estrela, que representa o poeta na 19.ª edição da Feira Internacional do Livro. “Essa homenagem é muito especial, porque a gente tem uma relação que já é um vínculo com Foz do Iguaçu”, comentou ela durante uma oficina, ministrada na Escola Municipal Vinicius de Moraes, na tarde dessa quinta-feira.
Estrela lembrou que a cidade foi a primeira a sediar exposições de Leminski e as recebeu em diferentes momentos: “Meu Coração de Polaco Voltou” e “Poeta Alice”. “Foi importante não somente pela propagação da poesia, mas por estar num lugar de permanente crescimento. Brinco falando que ele já foi o maior poeta da Cruz do Pilarzinho e hoje é um dos maiores poetas brasileiros, inclusive cada vez mais internacional.”
A experiência de estar no Ecomuseu, segundo ela, auxiliou toda a família no trato com os objetos deixados pelo pai. “Foz do Iguaçu está nesse crescimento inclusive da gente de gestão de obra, pois aprendemos muito de museologia justamente aqui no Ecomuseu, de como pegar objetos que tínhamos em casa e entender de repente que aquilo era um acervo. Isso foi muito importante para o nosso crescimento, e hoje a gente se vê como Instituto Paulo Leminski, e deve muito a Foz do Iguaçu.”
Unir Ziraldo e Leminski, numa única homenagem, foi uma dobradinha emocionante, ressaltou Estrela. “Eles tinham muita coisa em comum, e isso é fantástico. Ter esse impacto, de ser homenageado, faz com que as novas gerações permaneçam interessadas, entendendo que é um patrimônio. Ele é um artista paranaense, e isso traz uma identificação muito especial. Eventos como a feira permitem que as portas fiquem abertas.”
A escritora e poetisa visitou uma escola e levou a produção de haicais às crianças. “Haicai, por ser uma poesia curta, é excelente poder trabalhar com eles em fase de alfabetização, porque tem estrutura de leitura rápida e geralmente trata de assuntos de natureza, que tocam os baixinhos.”
A oficina de Estrela reuniu mais de 50 crianças e encantou também as professoras. “Fiz minha dissertação de curso sobre haicai brasileiro, e claro que conhecia o trabalho do Leminski. Estudo o trabalho dele e da Alice Ruiz também, é muito interessante ver isso dentro da escola”, disse a professora Elissandra Fatima Conceição.
Histórias indígenas
Respeito aos mais velhos, coragem e gentileza, valores cultivados na comunidade indígena dos Tabajaras, na Serra do Coco (Ceará), trazidos para crianças do outro lado do país. A escritora indígena Auritha Tabajara apresentou narrativas de seu povo e falou com crianças e adultos por meio da contação de histórias.
“Penso muito na questão da troca, aprendo muito com eles [crianças] e levo para minha aldeia, da mesma forma que trago as histórias de lá para cá e fico na ponte de troca de conhecimento. Isso faz parte da nossa cultura circular. O conhecimento não tem começo, nem meio, nem fim, e esse conhecimento precisa circular, e isso é muito importante entre as várias culturas. Nas feiras, sinto essa troca”, revelou a escritora.
Nas oficinas, crianças e jovens conheceram histórias indígenas e canções. “Essa participação é muito importante para que as crianças conheçam de fato mais sobre a cultura do nosso país e também exercitar a escuta”, realçou a professora Ângela Maria Rodrigues.
Felipe Bogado, de 6 anos, estava atento às histórias. “A gente aprendeu a respeitar os mais velhos com a história do peixe.”
Fora do palco, Auritha não apresenta somente seu olhar em cima de histórias cotidianas, mas também atua como portadora de novidades diante de tabus, como a luta LGBTQI+ dentro da comunidade indígena. “Essa luta era silenciada, era tabu muito grande. Eu rompi esse silêncio, e começamos a falar disso na aldeia. Hoje, temos mais espaço, fazemos troca de cartas, falamos sobre isso e a necessidade de enfrentar o medo.”
Foto: Christian Rizzi/Divulgação AMN