Na semana passada tive o privilégio de passar por uns momentos que com certeza não esquecerei tão cedo. Fui gentilmente convidada a fazer uma contação de história para uma turminha de 3ª série da Escola Municipal Cora Coralina, Foz do Iguaçu, Parque Morumbi II. Confesso que fui imaginando que seria um encontro normal, ou seja, eu teria que lidar, desde o início, com o desinteresse e a balbúrdia das crianças que provavelmente ouviriam a história devido à insistência da professora.
Enganei-me redondamente. Ao chegar fui recebida pela cordial diretora. Solícita, quis saber todas as minhas necessidades, para realizar o momento lúdico com os pequenos. Em seguida, fui levada por um educado rapaz até a sala onde, aproximadamente, 25 crianças esperavam-me com uma ansiedade que saia pelos olhos. Todas eram só ouvidos.
Comecei, como sempre, entoando uma pequena canção e, logo depois, iniciamos a viagem. Eu podia palpar o encanto delas. Enquanto narrava, ia imaginando: “Nossa! Eles estão mergulhados no mundo que estou contando… Quanta responsabilidade!” E quando terminei, pude ouvir suspiros, inclusive da professora, a fantástica professora Jaqueline. Quando estamos no palco, sentimos a energia da platéia e, se esta é positiva, o desfecho é extremamente prazeroso para todos. Então veio o bate-papo e assim pude entender aquele comportamento.
A professora fez-me saber que, desde o mês de março deste ano, começou um projeto de arte e leitura com aquelas crianças. No início do ano ela tinha percebido o desinteresse e a dificuldade delas em relação à leitura e à interpretação de textos. Ela resolveu achar uma alternativa para melhorar a situação. Começou a representar as histórias dos livros com o teatro, a fazer saraus de poesias. As próprias crianças, vestidas com um figurino, passaram a ser contadoras de histórias para as outras. Mesmo a diretora e a professora atuaram nos esquetes que foram apresentados para todos. Está tudo registrado. A professora mostra com orgulho as fotografias.
As crianças me encheram de perguntas, principalmente quando souberam que sou atriz. Elas mesmas admitem que se sentem melhores, pois aprenderam a gostar de ler. Ninguém ali tem vergonha de se expressar. Há na turma até uma menininha que adora inventar estórias – me contou – e tem várias guardadas. Seus olhinhos brilharam, quando eu disse que ela poderá um dia publicar tudo num livro e que suas estórias serão apresentadas por aí, como aquela que eu havia acabado de contar.
Após uma conversa gostosa, inclusive com a participação da diretora, elas pediram para que eu contasse mais uma… E contei. A criativa professora Jaqueline, sem perder tempo, foi logo dizendo: “Olhem, crianças! Com essa dá pra fazer uma peça de teatro”! Resumindo, foi uma festa. Fique tão feliz por ter vivido esta experiência que pensei: “Ah, professora Jaqueline! Se todos os educadores fossem como você, nosso mundo seria bem mais bonito!”
Senhores governantes, atuais e futuros senhores educadores, senhores pais e mães… É isso que precisa ser feito. O caminho da arte, além de tantos outros benefícios, traz principalmente o crescimento do educando enquanto ser humano. Por favor! Quando teremos mais incentivo e iniciativas para melhorar nossa realidade? Nós estamos aqui, esperando e fazendo o que nos cabe.
*Claudia Ribeiro é atriz, contadora de história, produtora, dramaturga e professora.
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