Não há nada tão revoltante quanto um caso de violência sexual, ainda mais quando a vítima é criança ou adolescente. E, ainda assim, apenas 10% dos casos são notificados nas delegacias em todo o Brasil. Em 2011, no Paraná, mais de 600 casos foram registrados. Foz do Iguaçu foi a cidade paranaense com maior taxa de ocorrência sexual no ano seguinte, de acordo com o Sistema de Informação de Agravos de Notificações (SINAN).
Esse índice levou Luane Natalle, analista de monitoramento do Centro Marista de Defesta da Infância, a organizar o livro "Infância, Adolescência e Direitos – Enfrentamento à Violência Sexual em Foz do Iguaçu", lançado nesta quarta-feira, 26, em uma coletiva de imprensa.
Foto: Letícia Lichacovski / Clickfoz |
Livro foi lançado nesta quarta-feira, 26, no Hotel Bella Italia, em Foz do Iguaçu |
Os números levantados durante a pesquisa podem assustar. Em 2012, por exemplo, 80% dos casos de abuso sexual na cidade vinham por pessoas da própria família. Ainda conforme o trabalho de Natalle, desde 2001 a tríplice fronteira conta com o Programa de Prevenção e Eliminação da Exploração Sexual Comercial, mas muitos serviços foram descontinuados pelas gestões.
Natalle apontou alguns fatores importantes para que a situação mude. "Precisamos de maior sensibilização e de mais compreensão aos casos. Também é necessário maior valorização das campanhas feitas no dia 18 de maio, Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, e que asações sejam potencializadas na cidade. Precisamos de mais estratégias de prevenção, como ampliar os canais de denúncia", explica.
O especialista em políticas públicas em atendimento à crianças e adolescentes, Valtenir Lazzarini, também presente na coletiva, acrescentou que é necessário "transformar isso numa política de estado, porque está se tornando normal os empenhos de um ano ficarem como restos a pagar no ano seguindo. Em 2012, foram autorizados R$11.131.334, mas só R$ 186.385 foram pagos, ou seja, apenas 1,66%. Não temos nada efetivamente realizado em 2013, apenas contas pagas do ano anterior. Então, isso não ajuda na continuidade do planejamento", informou
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Luane Natalle e Valtenir Lazzarini apontam principais fatores para que o combate à violência sexual fique ainda mais forte |
Sobre a obra – O livro foi produzido com a participação de diferentes organizações do município e profissionais ligados ao tema, como objetivo apresentar um panorama local sobre o enfrentamento a violência sexual praticada contra crianças e adolescentes. Para isso, reúne políticas, dados, análises e relatos que podem facilitar e promover a elaboração de intervenções e a construção de uma agenda política focada sobre o tema.
Letícia Lichacovski é repórter e fotógrafa do Clickfoz e
blogueira do Cereja no Ombro. Para interagir com a
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