Neste próximo domingo, 24, acontece a 91ª cerimônia do “Academy Awards”, a premiação do Oscar. Atualmente, a Academia possui em seu quadro cineastas de mais de 40 países, incluindo o Brasil. Os últimos brasileiros a ingressarem foram o compositor Carlinhos Brown, e a atriz Alice Braga, ambos em 2018.
O Brasil, aliás, concorre a estatuetas do Oscar desde 1945, quando Ary Barroso disputou a estatueta de Melhor Canção Original pelo filme norte-americano “Brazil”, com a composição da música “Rio de Janeiro”. De lá para cá, foram muitas as indicações para brasileiros e suas produções, e sim, nós já faturamos o prêmio. Em 1993, a brasileira Luciana Arrighi consagrou-se vencedora do Oscar de Melhor Direção de Arte pelo drama inglês “Howards End”. Produções em que houve co-produção brasileira já faturaram o Oscar em quatro ocasiões, a última, em 2018 pelo filme “Me Chame pelo Seu Nome” que levou a estatueta de melhor roteiro adaptado.
Não foram apenas atores, atrizes, diretores (as) e compositores me mantiveram o nome do Brasil vivo nas mais de 90 edições da premiação. Muita gente não sabe, mas mesmo sem receber os créditos na trama, muitos cenários brasileiros já foram utilizados em grandes produções hollywoodianas. Entre as locações que mais apareceram, existe uma que está bem próxima dos iguaçuenses, praticamente no nosso quintal. Nós estamos nos referindo às Cataratas do Iguaçu. Sim, o Parque Nacional do Iguaçu e as Cataratas já serviram de set de filmagem para mais de 20 produções (nacionais e internacionais) e algumas delas concorreram à uma estatueta do Oscar. Não sabe do que estamos falando?
Vamos relembrar algumas das principais produções:
Embora boa parte da trama de “Moonraker – 007 Contra o Foguete da Morte” (1979) se passe na Amazônia e no Rio de Janeiro, muitas cenas de ação desse filme foram rodadas no Parque Nacional do Iguaçu, Rio Iguaçu e Cataratas do Iguaçu. Roger Moore, ator que protagonizou o espião britânico na época, embora tenha se hospedado, juntamente com o resto da equipe, do lado argentino do parque, passou algum tempo curtindo a cidade e chegou, inclusive, a dividir umas tragadas de charuto com Laurindo Ortega, empresário do setor hoteleiro em Foz do Iguaçu na época.
Em “A Missão” (1986), acompanhamos a história do padre Gabriel, (Jeremy Irons) um jesuíta que luta para defender os interesses indígenas ao lado de Fielding (Liam Neeson) ao mesmo tempo em que tenta convertê-los para o cristianismo na quase intocada América do Sul do final do século XVIII. O filme, que foi praticamente todo rodado dentro do Parque Nacional do Iguaçu, retrata o evento histórico da formação e posterior destruição das grandes Missões Jesuíticas na década de 1750, na região que hoje forma a tríplice fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai. O filme ganhou a Palma de Ouro em Cannes e foi indicado ao Oscar em sete categorias, se sagrando vencedor na categoria de Melhor Fotografia. Com um cenário desses, não poderia ser diferente, né?
O filme “Mr. Magoo” de 1996, faz referência ao Brasil como destino de um roubo milionário. Na trama, Mr. Magoo (Leslie Nielsen) vem parar no Brasil na trilha de um diamante gigante que desapareceu de um museu. O longa cita o Rio de Janeiro e Foz do Iguaçu, mas no Brasil, teve cenas gravadas apenas em Foz do Iguaçu. Os takes, aliás, foram gravados separadamente das feitas em estúdio e o diretor Stanley Tong cometeu um erro geográfico imenso, dando a entender que o Rio de Janeiro e as Cataratas do Iguaçu são vizinhos. O diretor só percebeu isso quando já não se podia mais fazer alterações para consertar o erro. Pela grotesca falha, o diretor chegou a pedir desculpas aos brasileiros publicamente.
Não, Harrison Ford não esteve nas Cataratas do Iguaçu, mas os magníficos efeitos especiais, que são marca registrada em produções cujo diretor é Steven Spielberg, o colocaram não só às margens das quedas, mas também dentro delas, juntamente com outros atores que despencaram nas quedas dentro de um carro anfíbio da época da guerra fria. As cenas para “Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal” (2008), trama que se passa em 1957 em meio à floresta amazônica, foram gravadas de 6 a 10 de agosto de 2007, por uma produtora do Rio de Janeiro. Spielberg, que tentou a todo custo manter as gravações na América do Norte e tinha a intenção de gravar as cenas das quedas no Hawaii, acabou sendo obrigado a mudar seus planos graças a um furacão que atingiu o Hawaii. Para as gravações foram mobilizadas 25 pessoas e locados sete veículos. As tomadas foram feitas nas trilhas e do alto do Parque Nacional do Iguaçu com uso de equipamentos de última geração e um helicóptero. Os efeitos visuais utilizados por Spielberg foram tão bons, que muitos iguaçuenses não reconheceram as Cataratas ao assistir o filme na “telona”.
“Tartarugas Ninjas – Fora das Sombras” (2016) levou para as “telonas” uma cena de tirar o fôlego, onde Leonardo, Rafael, Donatello e Michelangelo surfam nas corredeiras das Cataratas do Iguaçu. Infelizmente, os personagens anfíbios e muito menos April O’Neal, vivida, por Megan Fox, não estiveram na Terra das Cataratas. As cenas foram captadas por parte da equipe técnica do filme, em parceria com uma co-produtora brasileira, que utilizou inclusive profissionais iguaçuenses durante as filmagens. “Tartarugas Ninjas – Fora das Sombras” deu início a uma série de filmes de heróis cujo algumas cenas incluem as Cataratas do Iguaçu. Algumas das imagens captadas para o filme, serviram também para as cenas do próximo filme de nossa lista.
Os mais “apressadinhos” não conseguiram ver ou reconhecer as Cataratas do Iguaçu em nenhuma cena de “Capitão América – Guerra Civil” (2016). Isso porque, realmente não há. Ou, pelo menos, não durante o filme em sí. A cena onde aparecem as Cataratas do Iguaçu podem ser vistas apenas em uma cena pós créditos. Os takes foram captados em 2015 por uma grande equipe que contou com a participação do fotógrafo e filmmaker Rafael Bechlin que inclusive, comemorou em suas redes sociais após o término das gravações e na ocasião do lançamento do filme.
A cena captada nas Cataratas do Iguaçu e usadas no pós créditos de “Capitão América – Guerra Civil” obviamente, não faz alusão às Cataratas, então é preciso ser exímio conhecedor de uma das Sete Novas Maravilhas da Natureza para reconhecer o local.
Na cena, Pantera Negra e Capitão América conversam, olhando para uma vista repleta de névoa e de cachoeiras. O local foi escolhido para retratar Wakanda, o país fictício governado por T’Challa e serviu para anunciar a produção baseada no universo Marvel que viria a seguir, Pantera Negra.
Wakanda é aqui!
*Se você ainda não assistiu Pantera Negra, cuidado, a partir daqui, o texto pode conter spoilers!
As Cataratas do Iguaçu voltaram às telas do cinema com a super produção “Pantera Negra” (2018) que teve sua estreia mundial em 15/02/2018. O filme conta a trajetória percorrida pelo príncipe T’Challa para assumir o trono após a morte de seu pai, que era rei de Wakanda. As imagens usadas para construir as paisagens de Wakanda para o filme foram tão elaboradas e pesquisadas que, muitos espectadores ficaram em dúvida sobre a existência ou não do país. Não, Wakanda não existe, mas os locais que serviram como base para que esse país fictício fosse montado são bem reais. As cenas panorâmicas de Wakanda foram produzidas em um computador, usando muitos efeitos especiais. Mas, as imagens usadas para construir a cidade principal do filme Pantera Negra foram gravadas em localidades reais de 3 países; África do Sul, Uganda e Zâmbia.
Já a famosa “Warrior Falls”, ou “Cataratas do Guerreiro”, em uma tradução livre, é nada mais nada menos que a nossa querida e já famosinha Cataratas do Iguaçu. As imagens foram gravadas no lado argentino e brasileiro das Cataratas. Já as cenas de batalhas foram montadas no estúdio, através de efeitos especiais.
O diretor Ryan Coogler, de apenas 32 anos, fez mais do que simplesmente construir mais uma cidade do universo cinematográfico da Marvel, ele produziu o maior e (até o momento), mais lucrativo filme da história das produções, baseadas no universo Marvel.
O filme teve orçamento estimado de 200 milhões de dólares, mais barato que o custo dos também atuais “Vingadores” e “Liga da Justiça”, e arrecadou nos primeiros quatro dias de exibição aproximadamente 404 milhões de dólares em bilheteria, ultrapassando “Jurassic World” que arrecadou 234 milhões, e “Star Wars – O Despertar da Força”, que que arrecadou 241 milhões de dólares na primeira semana.
Além de quebrar recordes de arrecadação entre os filmes de super heróis, “Pantera Negra” rompeu uma barreira, a dos prêmios técnicos de efeitos visuais, fotografia, edição e roteiro, para os quais geralmente filmes como esse são indicados. “Pantera Negra” se tornou o primeiro filme de super heróis a ser indicado ao prêmio de melhor filme e também foi indicado aos prêmios de Melhor Canção Original (All of The Stars), Melhor Design de Produção, Melhor Figurino, Melhor Mixagem de Som, Melhor Edição de Som e Melhor Trilha Sonora totalizando 7 indicações ao Oscar.
Na categoria Melhor Filme, “Pantera Negra” concorre com “Infiltrado na Klan”, “Bohemian Rhapsody”, “A Favorita”, “Green Book: O Guia”, “Roma”, “Nasce Uma Estrela” e “Vice”.
Se você não ainda não tinha elegido um filme para torcer nessa premiação, agora você já sabe o motivo pelo qual todo iguaçuense deveria torcer por “Pantera Negra”.
“Pantera Negra” não é apenas mais um filme de super herói, “Pantera Negra” é as Cataratas do Iguaçu no Oscar!
Outros filmes…
A lista de filmes em que as Cataratas do Iguaçu, Foz do Iguaçu ou a Região da Tríplice Fronteira aparecem ou são citadas é enorme, e para não deixar o texto extremamente longo, citamos apenas os mais relevantes. Mas, pra não dizer que não falamos de outros, deixamos abaixo uma pequena relação de filmes que vale a pena assistir onde nossa região de alguma forma aparece ou é citada:
“Sai de Baixo – O Filme” (2019),“Paddington 2” (2017), “Pela Janela” (2017), “If Cats Disappeared From The World” (2016), “Operação X” (2011), “Brasil Animado” (2011) “OSS 117: Rio ne répond plus” (2009), “Salve Geral” (2009), “In the Hands of the Gods” (2007), “Miami Vice” (2006), “Gaijin 2 – Ama-me Como Sou” (2005), “A Saga” (2003), “Felizes Juntos” (1998), “Tummy” (1995), “O Trem Caipira” (1994).
Kaká Souza é roteirista e autor do e-Book
“Compras no Paraguai – O Guia Definitivo“