O Grupo Dalba, um dos maiores nomes da construção pesada no Paraná, entrou com pedido de recuperação judicial. O consórcio é responsável por grandes obras como a duplicação da Rodovia das Cataratas em Foz do Iguaçu, a duplicação e restauração em concreto da PRC-466 entre Palmeirinha e Guarapuava, a restauração em concreto e ampliação da capacidade da PRC-466 entre Pitanga e Manoel Ribas, e a duplicação da BR-277, no Contorno Oeste de Cascavel.
A medida, a qual o Portal Clickfoz teve acesso, foi protocolada no último dia 14 de abril, na 1ª Vara Cível de Ponta Grossa, sob o número 0012281-36.2025.8.16.0019, busca reorganizar as dívidas da empresa e garantir sua sobrevivência diante de uma crise financeira desencadeada por alta de custos, contratos deficitários e um cancelamento bilionário.
Pandemia, insumos caros e crédito restrito pressionaram o caixa
De acordo com a petição, o grupo enfrentou um colapso financeiro progressivo. A pandemia elevou o preço dos insumos — como cimento, CAP e aço — ao mesmo tempo em que fornecedores encurtaram os prazos de pagamento. Para continuar operando, o grupo precisou baixar preços e aceitar obras com margem apertada.
A consequência foi imediata: queda de faturamento, acúmulo de prejuízos e dificuldades para equilibrar as contas. Mesmo com a estrutura operando no limite, o Grupo Dalba viu sua carteira de obras encolher.
Edital bilionário cancelado agravou o prejuízo
O estopim da crise foi o cancelamento de um edital do DER-PR, devido a uma investigação de corrupção que apontava para irregularidades na contratação e fiscalização das obras, incluindo pagamentos indevidos à empresa e desvios de verbas, que poderia render mais de R$ 1,5 bilhão em novos contratos. A Dalba venceu 15 lotes, manteve sua estrutura esperando o início das obras, mas o processo foi suspenso pelo Tribunal de Contas e posteriormente cancelado.
Sem o contrato, a empresa acumulou prejuízos de mais de R$ 50 milhões entre janeiro e outubro de 2024.

Rodovia das Cataratas: obra emblemática em ritmo lento
Outro ponto de tensão envolve a duplicação da BR-469, a Rodovia das Cataratas, em Foz do Iguaçu. Iniciada em 2022 com investimento de R$ 129,6 milhões, a obra prevê a duplicação de 8,7 km entre o trevo da Argentina e o Parque Nacional do Iguaçu.

Apesar disso, nenhum trecho foi entregue até hoje. Até janeiro de 2025, o avanço físico da obra era de apenas 42,4%, segundo dados oficiais. Os motivos para o atraso incluem problemas de desapropriação, redes de infraestrutura não mapeadas, mudanças de projeto e execução abaixo do previsto.
A lentidão da obra impacta diretamente o turismo, a mobilidade e o comércio local — além de gerar questionamentos sobre a capacidade operacional do consórcio executor.
Empresa alega viabilidade e quer negociar com credores
Na petição, o grupo afirma que sua atividade é plenamente viável e que possui estrutura técnica, reconhecimento e tradição no setor de obras públicas. O objetivo da recuperação judicial é abrir espaço para negociar com credores, evitar bloqueios judiciais e permitir o replanejamento financeiro sem paralisar contratos já em execução.
O grupo também solicita autorização judicial para continuar participando de licitações, mesmo sem apresentar certidões negativas, conforme previsto na Lei 14.112/2020.
Impacto em Foz e futuro da obra na BR-469
O desfecho desse processo terá repercussões diretas nas obras em curso, especialmente na duplicação da Rodovia das Cataratas — considerada essencial para o turismo e a mobilidade em Foz do Iguaçu. Caso a Justiça aceite o pedido, o Grupo Dalba poderá evitar colapsos maiores, reorganizar suas dívidas e seguir operando sob um plano de recuperação.
Mas a dúvida que permanece é inevitável: Será que uma empresa fragilizada financeiramente, atolada em contratos deficitários e com obras paralisadas, conseguirá mesmo concluir um projeto tão estratégico quanto a duplicação da BR-469?
Aceitar a recuperação judicial é uma aposta. Resta saber se, dessa vez, a estrada vai terminar em asfalto — e não em poeira e pizza.