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Direito de ser esquecido existe, mas a sociedade não perdoa

Antigamente, errar era humano e aprender com o erro fazia parte do jogo. O tempo passava, a poeira assentava e a vida seguia. Hoje, não mais. No tribunal da internet, não há prescrição. O erro fica registrado, arquivado e pronto para ser resgatado a qualquer momento.

Vivemos a era da memória implacável. O que foi dito ou feito, mesmo sem maldade ou intenção de ferir, pode voltar anos depois para assombrar quem já mudou, aprendeu ou até esqueceu. Mas o mundo não esquece. Não há espaço para redenção quando qualquer deslize vira um carimbo eterno na testa.

O curioso é que essa mesma sociedade que não perdoa adora falar de empatia, inclusão e segunda chance. Mas a verdade é que as segundas chances parecem reservadas a poucos. A maioria é julgada pelo erro mais infeliz que cometeu e condenada a carregar esse fardo pelo resto da vida.

E não é só para figuras públicas ou influenciadores. Qualquer um pode ser alvo. Um comentário antigo, uma piada fora de contexto, uma opinião que não envelheceu bem. De repente, algo irrelevante do passado vira munição para um linchamento virtual. Sem direito de defesa, sem levar em conta a pessoa que se tornou.

Isso sem falar nos justiceiros de ocasião, sempre dispostos a apontar o dedo, como se nunca tivessem cometido erros. O julgamento, muitas vezes, não tem nada a ver com justiça. É mais sobre poder – o poder de destruir alguém com um clique, de se sentir moralmente superior, de fazer parte da multidão que se considera do lado certo.

Claro, há coisas que merecem ser lembradas e cobradas. Crimes, abusos, atos de corrupção. Mas e os tropeços do passado? E os aprendizados? Se ninguém puder mudar, que sentido tem falar em evolução?

Não se trata de apagar o passado, mas de lembrar que ele não define o futuro. Se a tecnologia insiste em guardar tudo, que ao menos nos permita registrar também as mudanças, as reparações e as segundas chances.

Se não pudermos mais esquecer, que pelo menos saibamos perdoar.

*João Zisman é secretário de comunicação de Foz do Iguaçu