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Dez projetos da Unila que estão mudando a realidade de moradores de Foz

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Que uma universidade colabora com o desenvolvimento local ao formar profissionais em diferentes áreas, ninguém tem dúvidas. Mas o desenvolvimento também pode ser resultado de uma série de ações e projetos realizados por docentes e estudantes com diferentes grupos da sociedade. 

Crianças e adolescentes aprendendo a tocar um instrumento musical e idosos aprendendo a lidar com um computador? Tem. Fazer o levantamento dos preços da cesta básica na cidade e ajudar nas compras – e nas contas – das famílias? Tem também. Da educação à tecnologia, da cultura à engenharia, a Unila desenvolve, neste ano, 173 ações de extensão (projetos, cursos e eventos) em todas as áreas e está presente na vida de dezenas de cidadãos.

“A extensão universitária prima pelo diálogo com a sociedade por meio de ações transformadoras que promovem a troca de conhecimentos e saberes entre acadêmicos e a comunidade, atuando tanto na formação de professores da Educação Básica como em cursos diversos oferecidos à comunidade; na oferta de atividades artístico-culturais; e em ações que desenvolvem atenção e promoção da saúde a crianças, jovens, adultos, gestantes e idosos”, descreve a pró-reitora de Extensão, Maria Eta Vieira.

Confira nesta reportagem dez projetos de extensão que estão mudando a cara de Foz do Iguaçu e da região.

1 – Crianças atendidas pela AFA têm o primeiro contato com a educação musical

Na Associação Fraternidade Aliança (AFA), localizada na Vila Boa Esperança, crianças e adolescentes com idade entre 10 e 15 anos estão aprendendo a tocar violão e, futuramente, farão parte de uma pequena orquestra de violões. A atividade é desenvolvida por alunos e professores do curso de Música da Unila.

O projeto teve início em 2015 e já foi desenvolvido no Centro de Convivência Escola Bairro Arnaldo Isidoro de Lima, na Vila C. No segundo semestre do ano passado, as atividades foram transferidas para AFA por solicitação de seus dirigentes, que buscaram o curso de Música.

“O projeto serve como porta de entrada para a música, permitindo que crianças e adolescentes usufruam ativamente desse universo”, aponta o coordenador do projeto, Gabriel Henrique Bianco Navia. Além disso, aponta o docente, “o estudo de um instrumento contribui amplamente para o desenvolvimento da concentração e da consciência corporal”; e permite a introdução de estilos musicais diversos, que “geralmente não fazem parte do repertório da criança”. O professor completa, ainda, que a proximidade de relação da “música com as emoções possibilita que as crianças se tornem adultos mais sensíveis”.

Como uma via de mão dupla, o projeto também contribui para a formação de estudantes do próprio curso de Música, que têm uma experiência didática. “O bolsista é encorajado a contribuir com a construção do curso, propondo atividades, refletindo sobre a ordem de apresentação dos conteúdos, sugerindo repertórios, confeccionando arranjos e compondo pequenas peças para os grupos”, explica o coordenador. “Além disso, a prática do ensino exige que o aluno reflita sobre sua própria técnica, leitura musical e outros hábitos relacionados ao instrumento, contribuindo para sua evolução como violonista e músico”, completa.

2 – Ações garantem melhores condições de vida a moradores de ocupação

Na Ocupação do Bubas, localizada no Porto Meira, bairro da zona sul de Foz do Iguaçu, os moradores passaram a entender que podiam lutar pelo direito à moradia adequada, previsto na Declaração Universal dos Direitos Humanos, a partir de ações desenvolvidas pela Unila, entre elas, o projeto de extensão “Reestruturação urbana e social da fronteira” e “Escola popular de planejamento da cidade”.

Maior ocupação urbana do Paraná, com 40 hectares, o Bubas recebeu professores e estudantes da UNILA em 2015, quando contava dois anos de existência. Hoje, a Ocupação tem mais de mil famílias – cerca de 5 mil pessoas. “Os moradores têm um respeito muito grande pelo pessoal da Unila, pelo projeto correto que fazem, pelo trabalho sério”, comenta Roseli Nori dos Santos, que mora no Bubas e é uma das líderes comunitárias.

Em 2015, mais de 200 alunos da Unila e professores da Universidade fizeram um estudo socioeconômico com as famílias para determinar o perfil da população e levantar suas demandas. Esse estudo foi encaminhado à Defensoria Pública do Estado do Paraná, que pede a desapropriação da área em favor das famílias que ali residem.

Além do levantamento, foram realizados mutirões para “batizar” todas as ruas da Ocupação, o que facilitou a acesso de ambulâncias em caso de emergência. Outra ação foi o resgate de memória feito com os moradores, como as campanhas “Eu faço parte da cidade” e “Eu tenho direito à memória e à cidade”, que retrata a história de moradores mais antigos da Ocupação.

Foram realizados, ainda, outros trabalhos, como cordéis, que também registravam a história de vida dos moradores; um jornal, publicado a cada dois ou três meses, com informações sobre o processo judicial de regularização da área e assuntos do dia a dia; e uma cartilha informativa sobre o direito à moradia e que traz dados sobre o perfil dos moradores da Ocupação Bubas.

3 – Levantamento inédito na fronteira auxilia famílias nas escolhas de compra

Todos os meses, estudantes de graduação da Unila percorrem os supermercados de várias regiões de Foz do Iguaçu anotando os preços dos produtos da cesta básica. Os dados são utilizados para calcular o Índice de Preços ao Consumidor de Foz do Iguaçu (IPC-Foz), ou seja, a variação do preço da cesta básica na cidade. Após analisadas, as informações são divulgadas em boletins mensais, disponíveis para toda a população no site do CEPECON, um canal que ajuda a população iguaçuense a fazer melhores escolhas de consumo.

O levantamento realizado pelo CEPECON/Unila é a primeira pesquisa mensal sobre a variação de preços na região trinacional. Embora já existam cálculos nacionais do preço da cesta básica, como os realizados pelo IBGE e o Dieese, eles são baseados em dados das regiões metropolitanas e não refletem a realidade do interior do país e, muito menos, da região de fronteira, que conta com a influência da situação politica e econômica dos países vizinhos. “Um exemplo é alta inflação na Argentina, que faz com que muitos argentinos venham fazer compras no Brasil. Então, o comércio de Foz do Iguaçu acaba atendendo a uma demanda muito maior do que o esperado para uma cidade do seu porte. Essa grande demanda pode influenciar diretamente nos preços praticados aqui”, explica Henrique Kawamura, coordenador do CEPECON.

Em 2018, o projeto foi expandido e hoje, além do IPC-Foz, o grupo faz o levantamento do Índice de Preços ao Consumidor de Ciudad del Este (IPC-CDE), em parceria com pesquisadores da Universidad Nacional del Este.

4 – Treinamento que ajuda a salvar vidas

“As doenças cardiovasculares estão entre as maiores causas de óbito na população. Metade das pessoas que sofrem um infarto não conseguem chegar vivas ao hospital. Isso ocorre porque essas pessoas, ao terem uma parada cardíaca em via pública, demoram a receber um primeiro atendimento”, explica o médico e professor da Unila Luis Fernando Boff Zarpelon.

O professor é coordenador do projeto de extensão “Pequenas ações salvam vidas”, que tem como principal foco o treinamento da comunidade para o primeiro atendimento em casos de problemas cardíacos. “Quando você tem um mal súbito, geralmente o SAMU é acionado e leva, em média, de 8 a 15 minutos para chegar ao local onde está a vítima. Durante esse tempo, as pessoas que estão prestando socorro costumam apenas aguardar passivamente. Numa parada cardiorrespiratória, cada minuto sem ação diminui em 10% a chance de sobrevivência”, completa.

O projeto foi responsável por vários treinamentos em escolas públicas, em Unidades de Saúde, no 34º Batalhão de Infantaria Mecanizado, entre outras instituições. Mais de 2 mil pessoas da comunidade receberam treinamento prático sobre as técnicas de reanimação cardiopulmonar que devem ser adotadas para socorrer adultos e crianças e que podem ser aplicadas por todos. “Se tivermos leigos treinados em ressuscitação cardiopulmonar e uso dos desfibriladores externo automáticos (DEA), eles podem iniciar o atendimento (suporte) básico de vida até que chegue o SAMU. E isso salvará vidas”, atesta Zarpelon.

5 – Centenas de pessoas passaram pelos cursos de idiomas

A região da Tríplice Fronteira agrega diferentes etnias e, portanto, línguas e culturas. A Unila, como uma universidade bilíngue, além de desenvolver ações internas para integrar falantes de português e espanhol, oferece à população das três cidades cursos gratuitos que garantem a aprendizagem de várias línguas: Inglês básico; Alles klar? – Curso de alemão para a comunidade; Português brasileiro e cultura na fronteira para migrantes e refugiados; Español en la triple frontera; Língua grega clássica – Oficina de tradução; Italiano nella frontiera; Kreyòl ayisyen: kreyòl pale, kreyòl konprann! (creoule haitiano); Português para estrangeiros; Idiomas sem fronteiras; Português para estrangeiros e arabismo; Bonjour, Foz do Iguaçu! (francês). 

Nos quase dez anos da Unila, centenas de pessoas passaram pelos cursos oferecidos, que despertam grande interesse da população. Somente em 2019, estão sendo oferecidos 15 cursos (e diversas turmas). Os cursos de idiomas estão reunidos no “Programa permanente de línguas para a comunidade: ensino e formação para integração”. Dois dos três eixos de trabalho do programa são a oferta de cursos de línguas para a comunidade e a formação de professores de escolas municipais.

Para a coordenadora do programa, Jorgelina Tallei, os cursos de idiomas são uma forma de aprender mais que uma nova língua, principalmente em uma região como a da Tríplice Fronteira. “As línguas são importantes para a comunicação humana, para o conhecimento da cultura e saberes. Aqui na fronteira, é de extrema necessidade, uma vez que estamos entre dois países que falam espanhol – também guarani, no Paraguai. O aprendizado de uma outra língua é fator fundamental para a integração e missão da Unila”, diz, citando, também, o fato de a cidade receber muitos turistas. 

A comunidade sempre busca os cursos, especialmente o de espanhol, mas também o de português para estrangeiros, o francês e o alemão, comenta Jorgelina. “Isso demonstra, uma vez mais, a integração da UNILA com a cidade, multicultural e diversa como Foz”.

6 – Óleo que sobra da preparação de alimentos vira sabão e fonte de renda

Na comunidade da Vila C, boa parte do óleo de cozinha que sobra da preparação de alimentos em residências, bares e estabelecimentos comerciais e que normalmente é descartado de forma incorreta, tem um destino diferente: transforma-se em um sabão de propriedades fitoterápicas e emolientes.

“A participação da comunidade nas atividades vem demonstrando cada vez mais o interesse pelo projeto, e muitas famílias o têm aplicado como fonte de renda alternativa”, comenta o professor Alvaro Barcellos Onofrio, que coordena o projeto. Além disso, essa ação ajuda a população a entender a importância de “colaborar para reduzir a poluição ambiental, evitando que este tipo de resíduo seja descartado na rede de esgoto, chegando ao leito dos rios”, completa o coordenador.

Os participantes aprendem a fazer desde o tratamento do resíduo do óleo, com todo o cuidado que a manipulação de produtos químicos exige, até a mistura de reagentes para a produção de um sabão que possa ser utilizado em animais domésticos e utensílios da casa.

Um dos diferenciais do sabão produzido é a adição de ervas medicinais com propriedades cicatrizantes, anti-inflamatórias, analgésicas e que atuam muito bem contra eczemas e outras feridas de pele. O professor explica que estão sendo realizadas análises clínicas e físico-químicas para comprovação da eficiência e eficácia do produto.

Há relatos de moradores da comunidade da Vila C de que animais com feridas apresentaram uma melhora considerável em poucos dias de uso do sabão, com uma aceleração do processo de cicatrização. Também encontra-se em avaliação o uso da citronela, planta que tem a capacidade de afastar o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue. O projeto vem sendo realizado há sete anos e, além do coordenador, conta com cinco estudantes e outros docentes.

7 – Inclusão digital para a terceira idade

Todo mundo tem em casa alguém com mais idade que tem dificuldades para lidar com as tecnologias disponíveis. Boa parte dos idosos sequer faz ideia de como utilizar as facilidades que a internet pode proporcionar, como fazer compras on-line, conversar com familiares distantes, reencontrar amigos ou ler notícias. Para oferecer os primeiros contatos com computadores, com a internet e com programas básicos, uma equipe formada por professores, estudantes e servidores técnico-administrativos da Unila conduz o projeto “Inclusão digital – Informática para a terceira idade”, junto com a Associação da Terceira Idade Força das Águas, no Centro de Convivência do Idoso de Foz do Iguaçu, localizado na Praça da Bíblia. “Observamos um enorme desejo de participação, de integração, de sentimento de pertencimento, de renovação no âmbito intelectual e sociocultural, que torna os idosos mais fortes e os faz buscar constantemente a aprendizagem”, salienta o docente e coordenador do projeto, Marcelo Kapp.

O projeto-piloto foi realizado no ano passado, com 20 idosos recém-alfabetizados. “O projeto foi proposto como uma extensão das atividades de alfabetização e cultura para idosos já proporcionadas com muito carinho e atenção na Associação”, conta Kapp. Na associação, o projeto de alfabetização é conduzido por Izalino Thomé e Mafalda Dias. “O retorno tem sido muito gratificante e já foi possível constatar um grande aumento na busca por vagas na edição deste ano”, completa. O objetivo agora é ampliar a oferta de vagas, mas, para isso, o grupo terá de superar a dificuldade com equipamentos e infraestrutura. 

8 – “Desafio lixo zero” leva educação ambiental para a comunidade

O projeto “Desafio lixo zero”, desenvolvido pelo Observatório Educacional Ambiental Moema Viezzer, um grupo de pesquisa e extensão da Unila, teve forte atuação em 2017 e 2018, com ações de gestão e educação ambiental na região trinacional e está vinculado aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. 

Foram realizadas oficinas – com público médio de 40 participantes por encontro – em que todos puderam trocar práticas e saberes. Dados científicos sobre a produção dos resíduos na região e estratégias de mudança foram compartilhados com os grupos participantes. As reuniões foram realizadas no Centro da Juventude e no Clube de Mães do Jardim Naipi, onde foram ensinadas técnicas de reaproveitamento e de produção de produtos de higiene e limpeza a partir de ingredientes naturais, entre outras ações.

Para os coordenadores do projeto, a mudança de hábito dos participantes ficou visível no acompanhamento das discussões on-line e no compartilhamento das ações no dia a dia e de preocupações ambientais. “O benefício mais tangível do projeto é o bolso, com a produção de produtos de higiene, limpeza e outros, com segurança. O projeto também contribui para diminuir a poluição, tanto dentro do corpo das pessoas como fora. Além disso, tem um caráter de estreitar relações entre as pessoas”, diz Luciana Ribeiro, uma das coordenadoras do Observatório.

Além disso, a mudança para hábitos sustentáveis criou uma rede de mobilização “que funciona como uma ferramenta de controle social da sociedade civil”, uma vez que o grupo passou a envolver-se para a implantação de uma política de gestão integrada de resíduos. 

Todos os resultados positivos do projeto fizeram com que as oficinas se tornassem uma parte de um curso permanente acerca de educação ambiental para a sustentabilidade, o “Casa sem lixo”, que está sendo desenvolvido neste ano e que consiste em cursos permanentes voltados a clubes de mães, para chamar a atenção para o lixo produzido em cada cômodo das casas.

9 – Trabalho de orientação busca reduzir o endividamento das famílias

As dívidas das famílias, principalmente com o cartão de crédito e o cheque especial, são uma constante no Brasil. O índice de endividamento vem se mantendo constante nos últimos anos, na casa dos 60%. Para orientar as famílias na busca de soluções e mostrar a necessidade de um maior controle no orçamento doméstico, vem sendo realizado, desde 2013, o projeto “Desmistificando a análise econômico-financeira pessoal: uma assessoria econômico-financeira à comunidade de Foz do Iguaçu”.

Entre as ações, estão a distribuição de cartilhas com dicas para a organização financeira pessoal, palestras em escolas, instituições e empresas, e assessoria individual, gratuita e sigilosa, para aqueles que precisam colocar as finanças em ordem. “A grande questão, para além de orientar as pessoas no sentido de prestarem atenção na questão do endividamento, é orientar sobre qual a melhor forma de endividamento”, explica o Wolney Carvalho, professor do curso de Ciências Econômicas – Economia, Integração e Desenvolvimento e coordenador do projeto.

De uma maneira simples, o leitor é apresentado a tabelas e planilhas para o detalhamento das receitas e despesas mensais (fixas e variáveis). Uma das tabelas auxilia o controle de dívidas parceladas, como as de cartão de crédito, carnês e financiamentos. Também há dicas para a economia de água, energia e nas compras do supermercado. A cartilha tem edição em português e espanhol e vem sendo distribuída em Foz do Iguaçu, Ciudad del Este (Paraguai) e Puerto Iguazú (Argentina).

10 – Quando a arte e a alegria ajudam a encarar as dificuldades

Levar alegria, descontração, arte e informações importantes sobre saúde são as linhas de atuação do projeto Eternizar-te, que é realizado desde 2015, cada ano com um tema e com foco em uma instituição ou grupo. Assim, os integrantes da ação já estiveram presentes no Lar dos Velhinhos, escolas municipais, Comunidade dos Pequenos Trabalhadores e hospitais, discutindo assuntos como alimentação correta e prevenção de doenças.

Trabalho conjunto dos cursos de Medicina e Saúde Coletiva, o Eternizar-te utiliza uma dinâmica que envolve brincadeiras lúdicas, interação, momentos de escuta e teatro, com apoio de personagens como o clown (palhaço) como um facilitador, um agente que melhora a relação entre as pessoas e a equipe de saúde. 

Em 2017, uma das frentes de atuação foi o Hospital Municipal, onde o tema foi a humanização hospitalar. Os integrantes do projeto buscavam, através do humor, a superação dos traumas nascidos com os processos de enfermidade e internação. Outros objetivos foram reduzir o estresse da rotina de trabalho dos profissionais de saúde da atenção terciária e capacitar outros grupos que atuam nos hospitais. Em 2019, o trabalho ganhou a região: está sendo desenvolvido em São Miguel do Iguaçu.

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