A desvalorização do real frente ao dólar acumulou 27,35% em 2024, marcando a pior performance desde a pandemia. Apesar disso, o impacto na economia brasileira não foi tão grave quanto esperado. De acordo com o portal argentino Ámbito Financeiro, os preços da cesta básica brasileira, quando convertidos para dólares, são mais baixos do que os da Argentina.
No Brasil, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrou 2024 com alta acumulada de 4,83%. Esse valor superou o índice de 2023 (4,62%) e ficou 0,33 pontos percentuais acima do teto da meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Na Argentina, o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (INDEC) registrou inflação de 117,8% em 2024, um recuo significativo em relação aos 211,4% de 2023.
Salário mínimo e poder de compra em queda
Os salários mínimos no Brasil e na Argentina tiveram trajetórias diferentes em 2024. No Brasil, o salário mínimo foi reajustado para R$ 1.518 no início de 2025, o que equivale a aproximadamente US$ 247, considerando a cotação atual. Em 2024, o valor era de R$ 1.412, ou US$ 291, demonstrando perda de quase 25% no poder de compra em dólar.
Na Argentina, o salário mínimo aumentou de 156 mil pesos para 272 mil pesos no mesmo período, representando um crescimento nominal de 76%. Em dólares, o valor subiu de US$ 157 para US$ 228, ficando pouco atrás do mínimo brasileiro.
A “invasão argentina” na região trinacional
A valorização do peso argentino em termos reais e a inflação descontrolada no país vizinho resultaram em um fenômeno curioso: a crescente presença de argentinos em supermercados iguaçuenses e em Ciudad del Este. No Brasil, o foco são alimentos, bebidas e produtos de higiene, que são significativamente mais baratos nos supermercados de Foz do Iguaçu, se comparado com os mercados de Puerto Iguazú. Já em Ciudad Del Este, no Paraguai, consumidores argentinos são frequentemente vistos adquirindo não apenas produtos eletrônicos, mas também itens como chocolates, bebidas importadas e até mesmo alfajores.
Comparação de preços: Brasil x Argentina
Abaixo, confira a tabela com preços de produtos essenciais em dólares nos dois países:
Fonte: Ámbito Financeiro, com base em dados de redes de supermercados nacionais do Brasil e da Argentina.
Fonte: Ámbito Financeiro, com base em dados de redes de supermercados nacionais do Brasil e da Argentina.
Diferença de preços: Argentina é 45,51% mais cara que o Brasil
A análise de preços foi realizada com base nas taxas de câmbio vigentes à época, considerando:
- Brasil: US$ 1 equivalente a R$ 6,14, segundo dados oficiais do Banco Central.
- Argentina: dólar turístico cotado a US$ 1 equivalente a 1.365,65 pesos argentinos.
O estudo revelou que, em média, os preços na Argentina são 45,51% mais altos que no Brasil, quando medidos em dólares.
Consumo em queda: lares argentinos reduzem compras e frequência em supermercados dentro do país
Dados do Instituto Kantar, divulgados pelos jornais na Argentina, revelam que metade dos lares argentinos reduziu o volume das compras realizadas em supermercados e varejistas ao longo de 2024, especialmente no terceiro trimestre.
O consumo de bens não duráveis dentro de casa apresentou uma queda de 4,8% no período, em comparação com o mesmo trimestre do ano anterior.
Além disso, o levantamento destacou que:
- 70% dos domicílios diminuíram a frequência de visitas aos canais de venda.
- 60% das categorias de bens não duráveis perderam penetração nos lares argentinos.
Os números refletem o impacto econômico enfrentado no país, marcado por alta inflação que provoca mudanças no comportamento de consumo.
Fotos: Pixabay/CC