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Assim, de graça? Será que a Globo vai mesmo divulgar Foz do Iguaçu?

Por muitos anos, os principais veículos de comunicação com alcance nacional dedicaram-se a noticiar apenas o lado negativo da região trinacional.

Tráfico, contrabando, armas – temas recorrentes nos noticiários, quase diários. Não que esses problemas tenham desaparecido, mas, em algum momento, descobriram que aqui também há histórias positivas a serem contadas.

Sou prova disso. Um dos meus primeiros trabalhos foi escrever sobre os atrativos turísticos da cidade na internet – talvez um dos primeiros conteúdos enaltecendo Foz do Iguaçu na rede mundial de computadores.

Posso dizer que fui um dos pioneiros, mas jamais o único – e isso é excelente. Com o tempo, o trade turístico de Foz do Iguaçu percebeu que produzir conteúdo de qualidade ajudaria a “limpar” a imagem da cidade, antes manchada pelo estigma do contrabando e da muamba, que estampavam as capas dos jornais.

Aqui, preciso reconhecer o trabalho excepcional de Gilmar Piolla, à frente da comunicação da Itaipu, que apostou na mídia de influência para trazer jornalistas dos maiores veículos do Brasil para conhecer Foz do Iguaçu. Muitos desses profissionais, até então, nunca haviam sentido o doce sopro das Cataratas do Iguaçu ao pôr do sol.

Mas, quando se trata de mídia nacional, parece que as prioridades nunca mudam.

O Remake de Vale Tudo: uma nova chance para Foz?

Em 2024, a Globo iniciou as gravações do remake de Vale Tudo, um dos maiores sucessos da emissora, como parte das comemorações dos 60 anos da TV Globo e dos 100 anos do Grupo Globo.

Na versão original, alguns personagens começavam sua trajetória em Foz do Iguaçu. “Aquele fim de mundo”, como muitos diziam na época, teve sua grande – e talvez única – oportunidade de exibir as Cataratas do Iguaçu para milhões de brasileiros. Mas a novela foi um fenômeno não pelas belezas naturais da cidade, e sim pelo mistério que parou o país: afinal, quem matou Odete Roitman?

No novo remake, a promessa de dar destaque a Foz do Iguaçu durou pouco. Soube que as gravações não aconteceriam na cidade. Em vez disso, tudo seria rodado nos novíssimos estúdios da TV Globo, no Rio de Janeiro. Apenas algumas imagens das Cataratas deveriam captadas para “contextualizar” a história – o que, convenhamos, já é um avanço. Para uma cidade que, por anos, só foi lembrada pelas páginas policiais, qualquer visibilidade positiva poderia ser motivo de gratidão.

No final das contas, o trade se uniu (coisa rara de acontecer) e viabilizaram o valor que a Globo pediu para gravar inloco na cidade.

Mas será que devemos sentir gratidão mesmo?

O mesmo roteiro de sempre: Rio de Janeiro no centro do palco

O que vimos no dia 24 de fevereiro, quando a Globo revelou o primeiro trailer da novela em horário nobre, responde a essa pergunta.

A trajetória parece ser a mesma: Foz do Iguaçu ganha destaque por apenas dois ou três capítulos iniciais da trama. Depois, entra em cena o verdadeiro protagonista – não um personagem, mas um destino.

No trailer, a personagem interpretada por Bella Campos sonha em “deixar de ser caipira”, reforçando ainda mais o estigma de que Foz do Iguaçu é um lugar sem importância, um ponto de partida sem futuro. E qual é o grande sonho da personagem? Para onde ela deseja ir, em busca de uma vida melhor?

Claro, para o Rio de Janeiro, a Cidade Maravilhosa.

O roteiro pode ter sido atualizado, os atores podem ser novos, mas a narrativa segue a mesma: o Brasil começa e termina no eixo Rio-São Paulo. Enquanto isso, cidades como Foz do Iguaçu, que movimentam milhões com turismo e desenvolvimento, continuam sendo tratadas como um pano de fundo exótico para a verdadeira estrela do show – o Rio de Janeiro.

E assim, de novo, ficamos com algumas imagens das Cataratas e o velho rótulo de “interior” para reforçar o conto de que, se alguém quer ser bem-sucedido, precisa correr para as praias cariocas.

Imagem de destaque: Reprodução TV Globo

*Garon Piceli é diretor de marketing do Grupo Loumar e editor do Portal Clickfoz.com