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A Unila, os benefícios e alguns abusos

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Começo dizendo que estudei em uma Universidade Federal nos tempos de FHC e sei o quanto era sofrido. Meninos do interior e pobres. Passar por apuros financeiros, fome e humilhação, sem assistência estudantil nenhuma. Ter que escolher entre pagar aluguel e comer. Viver de favores de familiares e amigos. Não desejo isso para nenhum estudante, pois, a carência de auxílios foi, ao longo de décadas, a responsável pela maior parte das evasões nas universidades públicas brasileiras, aumentado a desigualdade e elitizando o Ensino Superior em nosso país.

Hoje a situação é bem diferente: novas universidades federais foram construídas e as já existentes foram reformadas e ampliadas, tanto em estrutura e número de cursos e vagas, quanto na forma de atender à população, com políticas afirmativas, graduações em período noturno – para favorecer o trabalhador – e a assistência estudantil.

Em Foz do Iguaçu temos a Unila.

A Universidade Federal da Integração Latino-Americana.

Uma vitória para nossa cidade. Tanto no quesito verbas federais quanto no quesito humano. A cidade ganhou outros ares com estudantes vindos de todo o Brasil e de diversos países latinos. Sem falar nos professores, doutores, que desembarcar todos os meses, trazendo consigo suas famílias, seus sonhos e sua vontade de construir uma Universidade Federal de excelência.

Eu, pessoalmente, convivo com diversos alunos e professores da Unila e todos sabem do meu entusiasmo pela Universidade. Todos sabem do meu respeito pelo projeto e por todos – todos – que dele participam.

Por isso, cenas como a que vi agora pouco, há vinte minutos, me entristecem demais.

Depois de ler uma pública da UPE (União Paranaense dos Estudantes) que, ao meu ver, era justa em suas reivindicações (http://upepr.blogspot.com.br/2012/05/nota-publica-da-uniao-paranaense-dos.html) fui até uma lanchonete, na Avenida Brasil, próxima de minha casa. O local é muito frequentado por estudantes e fica ao lado do hotel onde faleceu, há alguns dias, um aluno da Universidade, ainda por causa não divulgada. Lá pedi um lanche e, na saída, na fila para pagar a conta, vi dois alunos, um brasileiro e outro que falava espanhol, que não soube identificar a nacionalidade, comprarem bebidas alcóolicas e cigarros e pagarem com o cartão alimentação que recebem da Universidade.

Acho que devemos fazer um discussão madura acerca da gravidade deste fato, deste acontecido, que, espero, seja pontual e não represente a realidade do uso do benefício alimentação. Este, assim como outros benefícios, servem para auxiliar o estudante em sua graduação. São benefícios de caráter inclusivo. Dão possibilidade à quem não teria possibilidade. Representam um avanço na visão do Governo sobre o papel da Universidade Pública e de qualidade. Atitudes como estas – comprar bebida alcóolica e cigarro com o benefício alimentação – comprometem a luta de quem – como eu – defende a educação como processo de adensamento de forças sociais e dão margem para aqueles que discursam contra às políticas inclusivas.

Mas como eu disse: convivo com muitos alunos e tenho certeza que quem abusa representa uma minoria. Inconsciente.
 


 

 

 * Luiz Henrique Dias é dramaturgo e ativista de esquerda. Ele acredita na Unila e nos estudantes desta Universidade. Pois ela, para o Luiz, é uma arma poderosa contra o passado e a favor do futuro da América Latina. Leia mais em luizhenriquedias.com.br e siga ele no Twitter: @LuizHDias.

 

 

  A opinião emitida nesta coluna não representa necessariamente o posicionamento deste veículo de comunicação

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