Era uma tarde ensolarada de Foz.
De passeio pela cidade, resolvi comprar uma caneta – sim, uma caneta – pois, sinceramente, não sei viver sem uma.
Assim, estando próximo da Avenida Brasil, optei por uma loja de materiais escolares, localizada na esquina da Jorge Sanwais com a Almirante Barroso. Fiz tal opção pouco por conhecer bem o lugar e sempre comprar canetas lá e pouco, também, por ser uma loja grande, ampla e com diversas opções.
Chegando a loja, entrei quase que vetorialmente, pois sabia o produto desejado – a caneta – e onde ele se encontrava. Apesar de se tratar de uma tarde de quarta-feira, estamos em época de volta às aulas e acho compreensível a uma loja de materiais escolares estar cheia. Na ocasião, portava uma pequena mochila que sempre carrego comigo, onde guardo minha carteira, um livro, alguns objetos, meu telefone celular e um iPad. Por uma questão de opção, coloco ela nas costas, ao invés de carregar pendurada em um dos ombros, como é de costume entre aqueles usuários de bolsas.
E foi nesta cena posta – eu entrando na loja lotada, com minha bolsa – que tudo aconteceu.
Senti alguém tocar em mim. Resbalar, talvez. Por se tratar de uma loja cheia, pensei que poderia ser uma trombada típica de lojas lotadas. Mas o tal resbalão tomou a forma de uma mão e segurou meu braço.
Neste momento vi, então, ser a hora de parar minha caminhada quase vetorial e olhar para o lado. Era uma atendente/vendedora/funcionária/estagiária, não sei, que, ao estar cara-a-cara comigo bradou:
– Não pode entrar de mochila. (grossa)
Parei por um instante. Tentei argumentar que eu iria apenas pegar uma caneta.
– Não pode entrar de mochila. (um pouco mais grossa que na primeira vez)
Olhei em volta. Olhei a loja. Olhei para as pessoas na fila do caixa, entre as gôndolas, fazendo compras, etc. Várias mulheres estavam com bolsas, sendo muitas delas bem maiores que a minha.
– você me ouviu? (grossa)
– moça, há várias pessoas na loja com bolsas. (tentei)
– bolsa pode, mochila não.
Entendi que era uma "regra" relacionada com a possibilidade de furtos no interior da loja. Até este momento eu não havia pensando nisso, então tentei conversar com a atendente/vendedora/funcionária/estagiária (e agora segurança).
– Veja, a minha mochila está fechada e nas minhas costas. aquelas bolsas estão abertas e ao lado das pessoas. É muito mais seguro para vocês uma pessoa de mochila do que uma de bolsa. Posso entrar.
– Bolsa pode porque nela vão documentos e a carteira. (falou, roboticamente e complementou com uma alternativa) você vai ter que deixar ali. (apontou para uma espécie de guarda-volumes).
– Mas na minha mochila estão apenas documentos, carteira e alguns objetos pessoais. (tentei)
– É a regra da loja.
Apesar de não concordar com a injustiça de não poder entrar com minha mochila, quando diversas pessoas estavam lá, como disso há algumas linhas, com bolsas muito maiores que a minha e, aparentemente, mais propícias a delitos, fiz o que qualquer pessoa de mínimo bom senso faria: fui embora.
Fui embora para, certamente, nunca mais voltar lá.
Acho, sim, que uma loja, sendo privada, e tendo um dono, tem o direito de criar suas regras, seus códigos e seus regulamentos, mas partir de pressupostos não lógicos (pessoas com bolsas roubam menos que pessoas com mochilas) é colocar em xeque os clientes e frequentadores.
Sonho com o dia em que os estabelecimentos de Foz, em especial os que vendem livros e afins (como a loja em questão nesta coluna), tratem os leitores, os estudantes, ou simples pessoas dispostas a comprar uma caneta para escrever, como eu, como algo maior que simples clientes ou compradores de livros ou materiais de escrita.
É bonito – e legal – tocar, passar as páginas, testar as canetas e poder fazer isso com nossos pertences próximos a nós, para não nos preocuparmos se estão bem guardados naqueles armários horrorosos e cafonas, típicos de lojas que tratam seres humanos como ladrões e nos geram um clima de tensão constante, como se a meta fosse fazer você pegar logo o que quer levar e sair dali logo. Lugares assim não são agradáveis.
Lugares assim eu, particularmente, não frequento mais.
* Luiz Henrique Dias é escritor e adorador de canetas e cadernetas. Ele frequente lojas de materiais escolares e livrarias, sempre em busca de um bom atendimento e respeito. Quando não encontra, ele se frustra um pouco mais com a raça humana. "Mas só um pouco" – diz ele. O Luiz escreve às segundas aqui no ClickFoz e em seu site: www.luizhenriquedias.com.br. Dá pra seguir ele no Twitter também: @luizhdias