Nesta terça-feira, 3 de agosto, bem cedinho, quatro filhotes de jacutinga nascidos no Parque das Aves, em Foz do Iguaçu, serão enviados para a Serra da Mantiqueira, região de São Francisco Xavier, em São Paulo, onde ficarão sobre os cuidados do Projeto Jacutinga, da SAVE Brasil (Sociedade para Conservação das Aves do Brasil), representante da Birdlife International no Brasil. Se estiverem aptos para a reintrodução, passarão a viver em uma área protegida de Mata Atlântica.
“Estas vão ser as jacutingas 7, 8, 9 e 10 que enviamos para o Projeto. Em 2017, outras seis foram enviadas, e cinco foram consideradas aptas e reintroduzidas na região, juntando-se ao bando de mais de 30 animais reintroduzidos pelo Projeto Jacutinga desde 2016”, comenta Paloma Bosso, diretora técnica do Parque das Aves.
O envio dos filhotes para São Francisco Xavier
Na terça, equipe e jacutingas vão começar as atividades bem cedo, mais precisamente às 6 da manhã.
“Como os animais devem sair daqui em um voo pela manhã e como precisam chegar ao Aeroporto de Foz do Iguaçu com no mínimo 3 horas de antecedência, deverão estar lá às 7h55. Ou seja, vamos começar bem cedinho, para realizar o procedimento com bastante calma, abrigando-os com muito cuidado e carinho nas caixas de transporte”, reforça Paloma.
As caixas de transporte, feitas em madeira, foram confeccionadas pela equipe de manutenção do Parque das Aves, seguindo a legislação da IATA (Associação Internacional de Transporte Aéreo) proporcionando o bem-estar necessário para uma viagem tranquila.
“As caixas têm cortinas, que fecham a janela onde elas podem ser observadas, e contam com muito feno, além de um pouco de comida e frutas, para que se hidratem. E como vou acompanhar as jacutingas, levando-as ao Aeroporto de Foz e buscando-as no Aeroporto de Guarulhos, para então levá-las de carro até São Francisco Xavier, poderei cuidar para que estejam seguras e confortáveis”, comenta Paloma.
Os filhotes
Ao todo, quatro filhotes de jacutinga, que nasceram no Parque em 2020, serão enviados para o Projeto Jacutinga, da SAVE Brasil. E, devido à criatividade e carinho dos seguidores do Parque nas mídias sociais, todos os animais já têm nome: Iguaçu, Tinguinha, Jurema e Atlântica.
“É uma tradição dar nomes para as aves que vêm para o viveiro de reabilitação, em São Francisco Xavier. Normalmente nossa equipe batiza as aves, mas essa turminha que está vindo do Parque das Aves já tem nomes graças à ajuda dos internautas”, fala Alecsandra Tassoni, coordenadora do Projeto Jacutinga.
Todos os quatro filhotes foram minuciosamente examinados pela equipe de veterinários, e tiveram materiais biológicos coletados para amostras em exames variados, condição essencial para garantir um controle sanitário adequado.
A jacutinga e o Parque das Aves
A jacutinga (Aburria jacutinga) é uma espécie de ave endêmica da Mata Atlântica, ou seja, só ocorre nesse bioma. Ela está ameaçada de extinção nacionalmente, e já se extinguiu em algumas regiões do país, principalmente devido à caça e à degradação de seu ambiente, mas também por causa da exploração indiscriminada do palmito juçara, importante fonte alimentar da ave. Hoje, sua população é estimada em aproximadamente 2.000 indivíduos e com tendência de declínio.
“Aqui no Parque das Aves mantemos a espécie sob nossos cuidados desde o ano de 2000, com sucesso reprodutivo considerável. Nesses 21 anos, mais de 90 filhotes nasceram, e hoje 20 jacutingas vivem aqui conosco, incluindo quatro casais que geram descendentes criados em recintos amplos que possibilitam expressões comportamentais bem naturais”, reforça Paloma.
O Projeto Jacutinga
O Projeto Jacutinga, da SAVE Brasil, foi iniciado em 2014 e tem como finalidade a reintrodução e monitoramento de jacutingas, baseado em pesquisa científica, educação e articulação com órgãos de fiscalização ambiental. Neste momento, a reintrodução das aves acontece na Serra da Mantiqueira, região de São Francisco Xavier, mas já ocorreram também em Caraguatatuba e no Rio de Janeiro.
Sob a coordenação de Alecsandra Tassoni, o projeto já reintroduziu mais de 29 jacutingas apenas na região de São Francisco Xavier. Além dessas, 6 foram reintroduzidas no Parque Estadual da Serra do Mar, em Caraguatatuba/SP, e 2 na Reserva Ecológica de Guapiaçu, em Guapiaçu/RJ.
“Já durante os treinamentos das jacutingas observamos se vão estar aptas a viverem sozinhas na natureza, reconhecendo predadores, alimentando-se do que a mata tem para oferecer, e voando pelas copas das árvores. Após a liberação, acompanhamos os sinais emitidos por seu transmissor e checamos se está desempenhando seu importante papel ecológico como dispersora de sementes”, comenta Alecsandra.
A reintrodução das jacutingas
Antes das jacutingas serem enviadas para o Projeto Jacutinga, elas viveram em zoológicos, como o Parque das Aves, ou criadouros. Assim, elas precisam aprender como sobreviver neste novo ambiente, fugindo de predadores, voando, encontrando alimento e água, assim como parceiros e locais para formar ninhos e terem seus filhotes. Tudo isso para que a espécie volte a crescer em regiões onde sua população diminuiu ou não existe mais.
Durante o treinamento, por 3 meses, as aves passam por uma ambientação no recinto de reabilitação e aprimoram comportamentos naturais. Após o treinamento, a janela do recinto é aberta.
“Nesta etapa, há um convite sutil para que os animais examinem a floresta do entorno, e podem escolher sair quando se sentirem confortáveis. Essa soltura gradativa é chamada de ‘soft release’, soltura branda em português, e é uma etapa que requer muita dedicação, monitoramento diário e uma preparação de toda a equipe”, comenta Alecsandra.
A quinta jacutinga fica no Parque
Ao todo, cinco jacutingas tinham sido selecionadas para serem enviadas para o Projeto Jacutinga, da SAVE Brasil. Mas no final, quando o resultado dos exames sanitários chegou, foi decidido que seria melhor uma delas permanecer mais um tempo conosco.
“Apesar de apresentar uma saúde excelente, com o resultado de um dos exames em mãos, achamos mais prudente deixar o indivíduo Coquinho aqui no Parque neste momento, para realizar novos exames complementares”, diz Paloma.
Agradecimentos
Diversas empresas colaboraram para o envio das jacutingas, desde o nascimento destes animais.
“Conservação é feita sempre a muitas mãos, e apenas juntos podemos realizar esse trabalho lindo, que vai culminar na reintrodução de mais indivíduos de jacutinga na natureza e, em um futuro muito próximo, com o nascimento de filhotes na região onde eles estão inseridos”, comenta Paloma.
Várias instituições estão envolvidas neste trabalho, principalmente o time do Parque das Aves, sempre muito engajado em salvar espécies da Mata Atlântica, e todas as pessoas que visitam o atrativo e dão suporte de alguma forma.
“No caso do Parque das Aves, é importante lembrar que esta conquista foi somente possível por causa de cada um de nossos visitantes. Enquanto instituição privada, é através dos recursos angariados na nossa bilheteria, restaurante e loja que conseguimos proteger espécies ameaçadas da nossa Mata Atlântica”, comenta Paloma.
As instituições que não mediram esforços, e trabalham incansavelmente para salvar as jacutingas estão: a SAVE Brasil, responsável por todo trabalho de treinamento, gestão e monitoramento das jacutingas em seu ambiente natural, incluindo Alecsandra Tassoni e toda a equipe de campo do Projeto; o Prof. Carlos Ruiz (UENF) e a equipe de monitoramento e testes comportamentais; o Eduardo Araujo, do CEMAVE, ICMBio, coordenador do PAN Aves da Mata Atlântica; a Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil – AZAB, incluindo a diretora de conservação Ana Raquel, a presidente Mara Marques e toda a diretoria; a Ampligen, na pessoa do Danilo Cavicchioli, que nos auxiliou nos exames de PCR biologia molecular; e a comunidade de São Francisco Xavier, onde algumas propriedades são certificadas como protetoras das jacutingas, com monitoramento participativo, além dos comerciantes e empresários da cidade, que contribuem com estímulos ao avistamento dos animais.
“Além disso, gostaríamos de agradecer imensamente o apoio fundamental que recebemos do movimento União BR, representado pela Tati Monteiro, além de agradecer a GOLLOG pelo cuidado no transporte aéreo desses animais. O que eles levam nestas caixas é de valor inestimável: a esperança de recuperação da integridade ecológica da nossa Mata Atlântica”, finaliza Paloma.