O retorno às aulas presenciais foi tema de um longo debate nesta segunda-feira, 21 de junho, na Câmara de Foz. A discussão foi proposta pela vereadora Yasmin Hachem (MDB), em atendimento ao Requerimento nº 190/2021 e à solicitação dos sindicatos da área da educação. A discussão contou com a participação de cientistas, professores e profissionais da educação. O debate girou em torno do cenário epidemiológico; da vacinação; dos protocolos sanitários; lotação das UTIs; perda de aprendizado dos alunos; testagem; monitoramento das atividades; dentre outros fatores necessários para tomada de decisão.
Diversos profissionais de educação falaram dos desafios e do trabalho exaustivo dos trabalhadores para manter o ensino e garantir a aprendizagem de alunos. Viviane Jara Benitez, professora e diretora do Sinprefi, enfatizou: “Nossa escolha neste momento é priorizar a saúde. É uma falácia dizer que os profissionais da educação não estão trabalhando ou recebendo sem trabalhar. O ensino remoto, as atividades continuam. Os profissionais da educação estão trabalhando e cumprindo seu papel. Já tivemos nove óbitos de profissionais da educação e eles não são números, eram pessoas. Hospital está sem vaga. O nosso debate deveria estar focado em quando e como deveria ser a reabertura. O Sinprefi defende a volta às aulas, mas com segurança para todos”.
Maria Justina, secretária Municipal da Educação destacou: “Iniciamos aulas remotas em maio de 2020, sendo entregue atividades para as famílias. As escolas estão equipadas para iniciar as aulas. Hoje temos planos de contingência, que têm os passos para retorno às aulas presenciais. Temos algumas unidades maiores e outras menores, como Josinette Holler, com 600 alunos. Precisamos retomar o vínculo das crianças com a escola”.
Lucas Ferrante, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), abordou em sua fala os riscos do retorno com os profissionais vacinados apenas com uma dose e enquanto a curva se acentua em crescimento. “Existe maior aglomeração no transporte público desses alunos, diferente da rede privada que se utiliza mais de transporte particular”.
Roberto Doldan, enfermeiro da Vigilância Epidemiológica, falou do comportamento da pandemia em Foz: “A gente sentiu nas últimas três semanas um pequeno aumento nos internamentos. Como as pessoas estão se contaminando também é um dado importante a se observar, 85% são transmissões comunitárias. A grande massa que pega covid em Foz são adultos e jovens. Em Foz, existe a preocupação com os cuidados, tivemos reuniões para discutir o protocolo sanitário aplicado ao setor de educação. Recomendações da vigilância: sempre acompanhar o cenário epidemiológico; retorno gradativo às aulas; aplicação de protocolo sanitário; fiscalização e monitoramento. O processo de vacinação aqui está acelerado, então acreditamos que teremos uma boa cobertura vacinal. Já temos mais de 7 mil profissionais vacinados”.
Marli Maraschin, do Sinprefi, disse: “Como mãe eu deixo meus filhos em casa. Como professora, eu comecei minha carreira com ensino de adultos, e consegui alfabetizar uma pessoa de 69 anos. Com a vida garantida, a gente consegue aprender a qualquer momento”.
O vereador Adnan El Sayed se posicionou: “Acho que discussão aqui é se há ou não segurança para o retorno. Do ponto de vista dos professores, a grande preocupação que senti é distanciamento, higienização, professores em grupos de risco. Por outro lado, há uma questão social, pensar nos pais que precisam trabalhar”. O parlamentar deu duas sugestões: de antecipar segunda dose a todos os trabalhadores da educação e que cada escola tivesse um plano, dialogado com a Vigilância. Podemos ter diferentes planos para diferentes escolas”.
O vereador João Morales (DEM) pontuou: “A vacinação é importante, mas pensando na tríplice fronteira, nós nunca chegaremos a 100%. Precisa retornar, sim. Quem não quer mandar os filhos vai ter o ensino híbrido”. O vereador Cabo Cassol (Podemos) contribuiu: “O vírus chegou, se instalou, a educação parou. Precisamos evoluir, sim. Já estamos atrasados em retomar à educação. Os protocolos funcionam, ninguém é irresponsável”.
Dr. Fernando Xavier, Promotor Público, afirmou: “Temos feito reuniões com a Secretaria da Educação, em que cobramos e monitoramos como o trabalho tem sido desenvolvido pela pasta. Também precisamos considerar a questão da UTI pediátrica”.
A proponente, vereadora Yasmin Hachem (MDB) enfatizou: “Sabemos que há prejuízo acadêmico, psicológico, econômico, mas nada disso é definitivo como a morte. Não estamos em condição de pretender agora o que é ideal. Estamos em época de excepcionalidade. Precisamos direcionar nossos esforços para segurar os índices de lotação dos hospitais, de não esgotar ainda mais os trabalhadores da saúde. A conclusão da audiência é união das forças pela vacinação e defesa incondicional da vida humana”.
Manifestação popular
Fabiano Severino afirmou: “Sou pedagogo na rede estadual, trabalho no Colégio Três Fronteiras. As crianças estão perdendo, os adultos também. O conhecimento teremos tempo para retomar, mas não conseguiremos repor vidas”.
Leila Bencke, professora do município, falou sobre o trabalho dos profissionais da educação neste período de pandemia: “Tivemos de aprender a gravar vídeos, tudo isso utilizando nosso próprio equipamento e internet. Deveria ser levado em conta a empatia com os alunos e professores. Os alunos continuarão tendo a opção do ensino remoto?”.
Silvana Souza, professora da Unioeste, ressaltou: “Temos de entender que este não é o momento porque os leitos hospitalares estão lotados. Um dos mitos que precisamos desfazer é que criança não pega covid, pega sim. Outro mito é das escolas particulares que voltaram. Precisamos entender que 86% das crianças estudam em escola pública e isso é colocar ¼ das pessoas na rua de um dia para o outro. Por mais que se faça protocolo, isso não será suficiente neste momento. Os professores hoje estão trabalhando mais do que o dobro. Hoje estamos tentando escolher qual o menor dano, é uma política de redução de danos”.
Ivan Seixas disse: “Não se trata mais de discutir uma questão técnica, é fundamental se discutir uma questão humanista. Hannah Arendt disse que havia banalização do mal. Importa que não podemos banalizar meio milhão de mortos. O que vamos fazer? Ficar discutindo gráficos, números, para ver se dá certo?”
Cátia Ronsani, diretora da APP- Sindicato afirmou: “Para nós trabalharmos em casa está muito mais difícil do que presencial. Nós mais do que ninguém queremos voltar, mas temos preocupação com o risco, das crianças, dos profissionais. Neste momento é a vida das crianças e dos profissionais que precisa ser preservada”.
Diversos pais de alunos se manifestaram pelas redes sociais favoravelmente ao retorno às aulas, considerando o tempo que os alunos estão afastados das escolas, a necessidade de retorno ao vínculo com ambiente escolar e a melhoria na aprendizagem quando é presencial.