A primeira cena de Médico e amante expressa muito o que é esse filme ao mostrar um pai contando ao filho a história de uma ancestral que foi para o velho oeste afirmando querer conhecer coisas novas. Sabedores de que John Ford jamais filmou uma cena gratuita, muito menos a primeira, somos levados a refletir drasticamente sobre o intuito dessa instigante história, muito bem roteirizada por Sidney Howard, a partir do romance de Sinclair Lewis.
Nessa primeira cena, Ford quer evidenciar que o protagonista do filme foi educado para aceitar situações novas e não usuais. Ainda nesse início há outra revelação tipicamente fordiana, o mesmo pai afirma categoricamente ao filho, ainda menino, com pretensões de ser um médico: “a biblioteca de um médico é composta por três livros: A anatomia de Gray, a Bíblia e Shakespeare.” Após esse diálogo, Ford pula direto para a faculdade de Medicina, mas a síntese do filme já havia sido realizada em apenas poucos segundos.
Com isso, o cineasta monta sua tríade filosófica: a salvação do corpo (medicina), da alma (a Bíblia) e acresce Shakespeare, como grande conhecedor da natureza humana. Ford nos revela então o papel que ele reserva à arte, muito mais que uma mera narrativa, deve estar engajada positivamente na grande epopeia do homem. Reafirma assim uma visão artística herdeira da tradição homérica, de elevar os mais significativos feitos humanos.
SERVIÇO
MÉDICO E AMANTE
Arrowsmith | Dir. John Ford | EUA | 1931 | 98 min. | Classificação: Livre.
Local: Sesc | Av. Tancredo Neves, 222, Vila A.
Informações: 45 3576-1300.
A participação é gratuita e a pipoca por conta do Sesc, prestigie!