Durante uma viagem à África do Sul, o paraguaio e apaixonado por cafés, Francisco Muzinaga, ficou incomodado quando, ao se deparar com uma gôndola de mercado que oferecia cafés provenientes de todas as partes do mundo, não encontrou nenhum com a bandeira de seu país. Ao retornar a seu país, juntou-se a Juan Manuel Samudio e após uma breve pesquisa, descobriu que, nos anos 1960, o Paraguai era um forte produtor do grão, que inclusive, era um dos principais produtos de exportação do país.
Porque não produzir um café que leve a identidade paraguaia aqui?
Foi com essa pergunta na cabeça que Muzinaga e Samudio chegaram ao departamento (estado) de Canindeyú, onde ainda se cultivam os grãos, e decidiram colocar-lhe uma identidade nacional. Canindeyú está aproximadamente 600 metros acima do nível do mar, que é uma altura baixa para o cultivo do café arábica (subespécie Mundo Novo), porém a qualidade do solo compensa, dando ao grão características não encontradas em grãos cultivados em outras regiões.
Assim surgiu o Café Guarania, um café tipo exportação, produzido com grãos orgânicos que passam por uma pré-seleção, com os grãos ainda verdes antes do processo de torra, o que agrega qualidade ao provar a xícara e sentir o perfil levemente ácido, muito doce, com notas de chocolate amargo. O produto participou do concurso “Con Vos Paraguay Crece” do projeto FDM – Fomento e Desenvolvimento de Microempreendedores (concurso impulsionado pela ITAIPU Binacional e a UIP que oferece financiamento para microempreendedores) e após passar por diversas etapas, venceu 446 planos de negócio concorrentes permanecendo entre as 20 microempresas que terão seus planos de negócios beneficiados com os valores oferecidos pelo FDM.
O nome “Guarania” faz referência a outro produto original do Paraguai, e que até hoje é muito consumido no mundo todo, inclusive no Brasil. Guarânia é um estilo musical, de origem paraguaia, criada em Assunção, em 1925, pelo músico José Asunción Flores.
Muitos brasileiros não sabem, mas, muitos dos “modões” – como são chamadas as músicas mais clássicas do sertanejo “raíz” – foram criadas com base na guarânia de José Asunción Flores.
E muitas músicas paraguaias dessa leva, acabaram fazendo sucesso no Brasil com suas versões “abrasileiradas” sem que o verdadeiro crédito fosse dado. Entre as mais conhecidas, “Índia” numa versão feita por José Fortuna e gravada por Cascatinha e Inhana, “Meu Primeiro Amor” também interpretada pela mesma dupla e claro, não poderíamos deixar de citar a clássica “Galopeira”, interpretada no Brasil por Donizete e também pela cantora paraguaia radicada no Brasil, Perla.
Nos dias atuais, o processo de seleção, torra, moagem e acondicionamento é feito na cidade de Luque, distante apenas 15 quilômetros da capital do país, e o produto final, pode ser encontrado em diversas cidades do país e nas principais redes de cafeteria da capital.