Lidar com desabastecimento no início do ano não é novidade para os lojistas e distribuidores de Ciudad Del Este. Boa parte dos produtos importados que são revendidos em Ciudad Del Este, ou pelo menos, aqueles produtos cujo valor agregado é alto e o volume e peso são baixos, chegam até a cidade por via aérea, uma opção logística de alto custo, porém, eficaz. E para isso, utilizam warehouses nos Estados Unidos como “entreposto”.
Acontece que, boa parte dessas warehouses, entra em férias coletivas entre a segunda quinzena de dezembro e a primeira quinzena de janeiro, o que acaba ocasionando atrasos nos despachos de produtos para Ciudad Del Este, obrigando comerciantes da cidade a trabalhar com o estoque do ano anterior durante o mês de janeiro do ano seguinte.
Um atraso não previsto
Com o surgimento da epidemia de Coronavírus em Wuhan, porém, o que deveria ser apenas um “leve desabastecimento” acabou se tornando motivo de preocupação para os comerciantes e distribuidores da cidade, bem como para compradores que costumam frequentar a cidade para adquirir novidades tecnológicas.
Wuhan, na região central da China, é a sétima maior cidade do país, e entrou definitivamente no mapa mundial por ter sido origem do novo Coronavírus. A cidade de Wuhan tem várias zonas industriais. Cerca de 230 das 500 maiores empresas do mundo (classificadas pela lista da Fortune Global), possuem fábrica na região.
Ano Novo Chinês
A China possui um calendário de feriados diferenciado por conta do ano novo lunar. Neste ano (2020), o feriado do Ano Novo Chinês começou no dia 24/01 e iria até o dia 30/01, mas a epidemia do Coronavírus acabou modificando as coisas. Com a intenção de prevenir ainda mais a propagação do vírus, o feriado foi prorrogado até 03 de fevereiro, nas cidades de Xiamen, Tianjin e Qingdao. Já nas cidades de Shenzhen, Guangzhou, Shanghai, Ningbo e Chongqing, parte das atividades só retornaram em 09 de fevereiro. O feriado chinês, por si só, já afeta as exportações e importações, pois além das fábricas, os portos e aeroportos também param. Assim, todos estes fatores “garantiram” ainda mais atrasos no despacho de mercadorias para abastecer o mercado de Ciudad Del Este.
Em Ciudad Del Este
Em Ciudad Del Este, muitas lojas já enfrentam problemas com a falta de mercadorias. Principalmente dos produtos considerados “top de linha” como os das marcas Apple e Xiaomi e também os lançamentos anunciados em 2019, que deveriam estar disponíveis ao mercado já no início de 2020, mas não estão sendo encontrados.
Importadores de C.D.E enfrentam dificuldades para conseguir produtos junto aos fornecedores nos Estados Unidos e, os que ainda possuem estoque disponível por lá, com o aumento da demanda, vem promovendo frequentes acréscimos no valor do produto e esses acréscimos, inevitavelmente, serão repassados ao consumidor final em C.D.E.
Especialistas em tecnologia já apontam queda de mais de 10% na produção do iPhone 11 para o primeiro trimestre de 2020. A opinião dos especialistas contradiz um comunicado oficial da Foxconn que, no início de fevereiro, havia garantido que a epidemia não afetaria a capacidade das fábricas em produzir dispositivos e componentes. No caso específico da Apple, fábricas da Foxconn localizadas na região de Wuhan são responsáveis pela fabricação de câmeras e alguns outros componentes que são usados na montagem dos iPhones. Até mesmo a gigante das redes sociais, Facebook, teve a produção e lançamento de seu óculos, o Quest VR, afetada.
“Assim como outras empresas, esperamos impacto em nossa produção de hardware devido ao coronavírus. Estamos tomando precauções para garantir a segurança de nossos funcionários, parceiros de fabricação e clientes e estamos monitorando a situação de perto”, anunciou a rede social.
A entrega do acessório, que estava prevista para o fim do ano, acabou sendo adiada para o próximo dia 10 de março.
De acordo com o South China Morning Post, Asus, Oppo, Xiaomi, Lenovo e Huawei também estão com sua produção e distribuição comprometida por conta do Coronavírus.
Em Ciudad Del Este, a previsão para restabelecimento total de estoques e preços não é das mais otimistas. Os mais otimistas, aliás, afirmam que em um prazo de 90 dias, todos os estoques e valores estarão restabelecidos. Outros, porém, afirmam que esse processo pode levar até 12 meses. Só nos resta esperar.