Há onze meses no comando da margem brasileira da Itaipu Binacional, o general Joaquim Silva e Luna tem como principal desafio, a partir de 2020, colocar em marcha o planejamento estratégico que vai preparar a usina para os diferentes cenários dentro de um mercado de energia elétrica complexo, dinâmico e competitivo. Em 2023, quando o Anexo C do Tratado de Itaipu será revisado por Brasil e Paraguai, a dívida da usina estará totalmente quitada.
Praticamente todos os cenários estudados apontam para a necessidade de diminuição de despesas de exploração. Com a revisão do Anexo C, que trata das bases financeiras e da prestação dos serviços de eletricidade do Tratado de Itaipu, a empresa terá em caixa US$ 1 bilhão. Hoje, Itaipu opera baseada nos custos de exploração e da dívida, mas poderá ir ao mercado e funcionar como uma empresa comum, com direito a lucros e prejuízos (hoje, o orçamento não prevê sobra de receita).
“Já sabemos que Itaipu precisa estar preparada para ‘novos tempos’. Precisa ‘acompanhar os movimentos’ do setor energético e ter uma estrutura flexível para responder às mudanças que virão”, antecipa o diretor-geral brasileiro. E ressalta: “as mudanças exigem que todos entendam o motivo; (precisam de) gente determinada, controle orçamentário e perseverança”.
“É 2023 olhando para Itaipu de 2020 com pressa”, diz ainda o general. Ele explica que “será um trabalho hercúleo, que vai precisar da colaboração de todos numa mesma direção”. O tripé que busca a eficiência empresarial e a valorização dos empregados, a partir da sistematização de processos e metas, reúne princípios e valores constitucionais com a preservação do capital humano da empresa em nível de motivação e excelência para as mudanças necessárias.
“Já fizemos grandes mudanças em 2019. Elas agora precisam ser sistematizadas dentro de processos institucionalizados. Nessa fase, precisamos de integração, racionalização e ‘downsizing’ (encurtamento dos processos decisórios)”. E complementa: “temos que continuar valorizando a austeridade, enxugando as estruturas com sobra de gordura”.
O mapa estratégico, baseado na missão de gerar energia elétrica de qualidade, com responsabilidade social e ambiental, impulsionando o desenvolvimento econômico, turístico e tecnológico sustentável, no Brasil e no Paraguai, tem como fios condutores:
- produção de energia com os melhores índices de qualidade e otimização de aplicação dos recursos;
- aperfeiçoamento da eficiência dos processos de produção de energia, que garantam a segurança hídrica;
- fomentar o desenvolvimento sustentável na área de influência, melhorando as práticas de gestão e governança empresarial;
- manter o capital humano com alto nível de motivação, desempenho e comprometimento. Dispor de informações e sistemas essenciais para a execução da estratégia da empresa.
Ações e projetos
No rol de ações e projetos, Itaipu fará o acompanhamento da reestruturação do Parque Tecnológico Itaipu (PTI) e trabalhará para conseguir autonomia financeira das fundações que dependem de Itaipu, como a própria Fundação PTI, a Fundação Itaipu Brasil de Previdência e Assistência Social e a Fundação Itaiguapy, que administra o Hospital Ministro Costa Cavalcanti.
Outra grande preocupação é em relação às negociações para a revisão do Anexo C do Tratado de Itaipu, que trata das bases financeiras da prestação de serviços de eletricidade. Já há um grupo de trabalho analisando as várias hipóteses para essa renegociação, que precisa ser concluída até 2023, conforme prevê o tratado entre o Brasil e o Paraguai.
Novos tempos
Desde que assumiu Itaipu, em fevereiro de 2019, Silva e Luna imprimiu na gestão da empresa uma das principais diretrizes do governo federal: fazer mais com menos. A reestruturação teve início com a mudança da concessão de patrocínios, com ênfase em ações e projetos especialmente voltados para a segurança hídrica e energética e o desenvolvimento regional.
Com o encerramento de convênios e patrocínios sem aderência à missão da empresa, somado à economia de custos de exploração e à redução do orçamento para 2020, Itaipu conseguiu um total de R$ 600 milhões de economia, dinheiro que já está sendo aplicado em várias obras importantes para a região, para o Paraná e, por consequência, para todo o Brasil.
Destaque para a construção da Ponte da Integração, sobre o Rio Paraná, que unirá Foz do Iguaçu a Presidente Franco, no Paraguai; a ampliação da pista de embarque e desembarque do Aeroporto Internacional de Foz do Iguaçu, para tornar o Destino Iguaçu mais competitivo com outros roteiros turísticos; a conclusão do mercado municipal de Foz; e a reforma e ampliação do Hospital Ministro Costa Cavalcanti, um dos mais importantes do Sul do país.
Um ponto emblemático de mudanças imprimidas pelo general Silva e Luna em Itaipu, concluído em janeiro de 2020, foi o encerramento das atividades do escritório de Curitiba, que consumia desnecessariamente muitos recursos em aluguel, reformas, passagens e estadia de funcionários que faziam a “ponte aérea” Foz-Curitiba. Os cerca de cem empregados do escritório foram transferidos para Foz, sede da usina na margem brasileira de Itaipu, o que permitiu um melhor aproveitamento da mão de obra e melhor utilização dos recursos disponíveis.
Projetos de 2020
Para 2020, a Itaipu planeja a criação de um circuito turístico ligando o futuro mercado municipal à usina de Itaipu; a transformação do Gramadão da Vila A em um parque de lazer; e mais investimentos no desenvolvimento social, econômico, turístico e cultural da região Oeste do Paraná.
“Agora, é sair do ponto A para o ponto B”, diz Silva e Luna. Na prática, é fazer a lição de casa, com o acompanhamento e a cobrança da conclusão de todos os projetos e ações iniciados em 2019. A premissa básica é: “Não desfaçam as malas. Estamos ainda de mudança”. Uma metáfora para reforçar que é preciso se preparar para as transformações que virão.
Segundo o general, a principal proposta desta gestão de itaipu é recuperar e preservar o ideal de grandeza que um dia uniu Brasil e Paraguai para desenvolver um empreendimento binacional gigantesco, que enche de orgulho brasileiros e paraguaios. “Queremos que todos os empregados preservem o sentimento de pertencimento à Itaipu que tão bem nos identifica; queremos que ninguém tenha dúvida sobre a necessidade das mudanças e que todos se sintam motivados e participem com ideias e muito trabalho para alcançarmos os objetivos da empresa”, conclui o general.