De 2005 a 2008 eu morei em Ciudad del Este com a minha família, que eram empresários do setor da construção civil. Naquela oportunidade meus dois irmãos mais novos estudaram no Anglo Americano e eu e o meu irmão mais velho estávamos concluindo o ensino médio aqui no Brasil e começando a faculdade.
Tive uma experiência de me aventurar, no melhor sentido possível, por 8 meses em uma faculdade paraguaia. Comecei a fazer medicina. Foi ótimo para me aprofundar no espanhol e ter uma imersão na cultura paraguaia e hispânica. Tive os melhores professores de medicina do Paraguai. Alguns cubanos, espanhóis e argentinos. Descobri que a medicina dos países latino-americanos é diferente da do Brasil.
Descobri também que o Paraguai, por causa do espanhol, está muito mais ligada ao continente do que o Brasil. Lá assistimos a CNN em espanhol e a MTV Mexicana, que tem uma programação fantástica.
Como a maioria dos meus amigos eram de Foz do Iguaçu, grupo de jovens, terceirão e etc, eu tinha que cruzar a ponte quase todos os dias. O que facilitava era que meus pais, por serem imigrantes, tinham veículos emplacados no paraguai.
Morar no Paraguai me deu uma noção de como estas 3 cidades estão intrinsecamente ligadas. Os meus vizinhos lá adoravam vir ao shopping de Foz (era quase uma questão de status), fazer compras na Avenida Brasil e até mesmo ir ao Gramadão da Vila A e passear aos finais de semana nas Cataratas. É um programa da classe média “lesteña”. Ah, sem contar que para bailar é no Cuba Libre ou no Lá Barranca, em Puerto Iguazú.
Foto: Garon Piceli |
Adorova passear pelo Lago de la República em Ciudad del Este |
Morando em Ciudad del Este, o que mais gostava era ir ao mercado Gran Via. Uma grande rede de supermercados do leste paraguaio, que dá de 10 a 0 em grandes mercados brasileiros. Fácil encontrar produtos importados e me deliciava com os cereais a granel, coisa difícil de achar no Brasil.
Todo sábado de manhã era uma visita ao centro comercial com a família. O objetivo: descobrir coisas novas. Novos restaurantes, novas lojas e voltar para casa com umas bugigangas para os irmãos mais novos.
Como Ciudad del Este é capital de Alto Paraná e uma das cidades mais ricas do Paraguai, é fácil encontrar qualquer coisa. Desde uma saúde de qualidade (privada) até grandes marcas de fast food, como o Burguer King, por exemplo.
Era uma delícia morar em Ciudad del Este, pois lá eu realmente me sentia um residente da região trinacional. Consumindo produtos e serviços do Paraguai, do Brasil e da Argentina.
Entretanto, por questões comerciais, no começo de 2009 minha família resolveu voltar para Foz do Iguaçu. Continuamos a fazer compras em Ciudad del Este, mas fomos perdendo cada vez mais o contato com a cidade paraguaia.
Um dos motivos é a complicação que se tem ao atravessar a fronteira para o Paraguai com carro placa de Foz do Iguaçu. Na última vez que fui dar uma volta no Lado de la República, uma blitz policial me parou e queriam apreender o carro por eu estar trafegando com a luz do veículo desligada. Foi horrível e traumatizante.
Já não vamos mais ao Gran Via. E quando preciso ir ao centro comercial, uso transporte privado.
Morando em Foz do Iguaçu comecei a ter mais contato com Puerto Iguazú. Começamos a residir então na Avenida das Cataratas, a poucos metros da Aduana da Argentina. Então, às vezes era mais perto ir para a Argentina do que ir para o centro de Foz. Começamos a frequentar os mercados ótimos da Argentina, comprar carnes e produtos de limpeza lá. E também passei a frequentar os lindos restaurantes. A programação era: final de semana na argentina.
Até que outro trauma: um policial me parou e exigiu a carta verde e também quase levou o meu carro para o pátio. Resultado: tenho medo de ir para Puerto Iguazú, quando vejo uma blitz lá, eu tremo todo. E não temos ido mais ao mercado.
Resultado
Estamos cada vez mais trancados em nossas cidades, sem a possibilidade de usufruir dos serviços de qualidade que Ciudad del Este e Puerto Iguazú oferece.
Tem se falado dessa integração na tríplice fronteira, mas só no papel. Na realidade ela não acontece. As forças policiais dos 3 países não colaboram. O medo de algum problema é recorrente.
Hoje quando algum amigo me fala que está indo para o Paraguai ou Argentina com o seu carro me dá uns 40 tipos de medo. Está complicado!
As autoridades competentes deveriam abrir o máximo essa integração. O setor turístico desses três países deveriam se alinhar com as forças policiais afim de atrair as pessoas de bem e expulsar as coisas ruins, como contrabando e narcotráfico.
Não me importo de que eles revirem o meu carro, de fazer os trâmites legais de entrada/saída do país toda vez que atravesso a fronteira. Mas é uma pena eu me distanciar tanto assim dessas outras duas cidades que amo tanto.
Foto: Garon Piceli |
Eu não me importo de ficar na fila, fazer os trâmites legais e ser revistado… se não tiver problemas com policiais corruptos depois |
Remodelação
Nos últimos anos, Ciudad del Este, pela assessoria de um dos principais urbanistas do Brasil, Cassio Taniguchi, responsável pelos projetos urbanísticos de Curitiba – referência mundial – está passando por uma remodelação na área do micro centro comercial. A prefeitura de lá entendeu que o futuro são os turistas e não o sacoleiro como nos anos 90.
Esta atitude é louvável, mas não pode parar por ai. O pensamento deve ser mais amplo. Os iguaçuenses e os turistas também querem aproveitar mais da cidade. Ir passear no lago, curtir uma balada a noite e fazer compras no mercado.
* Garon Piceli é editor do portal Clickfoz, coordenador do Iguassu Social Media e organizador do clube de humor Foz é uma Comédia
. Siga no Twitter: @garonpiceli