Entre os dias 19 a 22 de agosto, especialistas em conservação se reuniram em Foz do Iguaçu para um workshop com o objetivo de criar um plano de emergência para salvar duas espécies de aves brasileiras da iminente extinção, a rolinha-do-planalto (Columbina cyanopis) e a choquinha-de-alagoas (Myrmotherula snowi). No mundo restam menos de 20 indivíduos de ambas espécies.
O evento reuniu 29 especialistas de 15 instituições renomadas do mundo inteiro, incluindo biólogos que trabalham diretamente com as duas espécies em campo, especialistas em reprodução sob cuidados humanos, pesquisadores e conservacionistas.
“O workshop serviu para planejar ações de emergência para salvar ambas as espécies e trabalhar por sua recuperação na natureza, com atividades dentro dos Planos de Ação Nacional para a conservação das espécies”, comenta Eduardo Barbosa, do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres/Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (CEMAVE/ICMBio).
O workshop foi conduzido por facilitadores especializados do Grupo de Especialistas em Planejamento para a Conservação, que faz parte da Comissão de Sobrevivência de Espécies da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN CSE), Kristin Leus e Kathy Traylor-Holzer.
“Utilizamos uma metodologia testada e comprovada para desenvolver o plano, e os resultados do workshop são considerados componentes oficiais dos planos de ação do governo brasileiro, bem como recomendações no cenário internacional”, comenta Carmel Croukamp, diretora geral do Parque das Aves.
Trabalhando com espécies à beira da extinção
Há 75 anos não havia registro da rolinha-do-planalto, até que ela foi redescoberta em 2015. A Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil – SAVE Brasil (parceiro nacional da organização ambiental BirdLife International) implementou rapidamente um projeto de conservação para proteger o habitat da rolinha e aprender mais sobre a história natural da espécie, conhecida apenas de uma pequena área do Cerrado. Hoje, existem registros de apenas 20 indivíduos da espécie.
A choquinha-de-alagoas sobrevive em uma única área protegida no estado de Alagoas. O número de indivíduos dessa espécie diminuiu drasticamente nesse fragmento de Mata Atlântica altamente desflorestado e a população total pode estar reduzida a apenas 12 aves.
“Nos últimos anos, perdemos três espécies de aves que habitavam as florestas da Mata Atlântica do nordeste do Brasil. Não temos tempo a perder. Este workshop é um passo fundamental para reverter a maré de extinção de aves no Brasil”, comentou Pedro Develey, diretor executivo da SAVE Brasil.
Os esforços extensivos liderados pela SAVE Brasil em dois locais no país para proteger os últimos indivíduos de ambas as espécies e seu habitat foram bem-sucedidos, mas essas espécies precisam de ainda mais ajuda neste momento. “Há tão poucos indivíduos restantes que um único evento, como uma tempestade, uma doença ou um incêndio, pode acabar com essas espécies”, enfatizou Nigel Collar, da BirdLife International.
O plano de ação
Após extensas deliberações, foi desenvolvido um plano de ação para aumentar o conhecimento sobre as espécies e protegê-las em seu habitat natural. E como parte do plano, o grupo discutiu métodos para levar ovos com segurança aos cuidados humanos e criar uma grande população de aves dessas espécies para serem devolvidas à natureza. Simultaneamente, as equipes no campo trabalharão para reduzir as ameaças que causam o declínio das populações.
“Este é um trabalho extremamente delicado. Ambas as espécies são muito pequenas e muito particulares em relação à alimentação e ao habitat, e o grupo começará aprendendo como criar espécies de aves semelhantes sob cuidados humanos”, comenta Ben Phalan, chefe de conservação do Parque das Aves.
“A criação sob cuidados humanos só deve ser considerada em circunstâncias muito particulares, mas quando a população de uma espécie está reduzida a tão poucas aves, ela precisa ser uma opção”, diz Carl Jones, biólogo que participou do workshop. Jones foi fundamental para salvar nove espécies da extinção, trabalho pelo qual recebeu o prestigioso Prêmio Indianápolis, conferido por contribuições extraordinárias aos esforços de conservação.
Se técnicas adequadas puderem ser desenvolvidas para levar os ovos dessas espécies para o cuidado humano sem impactos negativos nas populações na natureza, elas serão mantidas em um local não revelado, no Brasil, garantindo sua segurança.
Esforços de muitas instituições
O workshop foi organizado pelo Centro de Sobrevivência de Espécies: Brasil da CSE da UICN, que tem sua sede no Parque das Aves, em Foz do Iguaçu. O evento foi organizado pela SAVE Brasil, pelo Parque das Aves e pelo Grupo de Especialistas em Planejamento para a Conservação, com apoio da American Bird Conservancy, da BirdLife International, do Zoológico de Chester, do Zoológico de Toledo, da Durrell Wildlife, da Vogelpark Marlow, da ESALQ/Universidade de São Paulo, Universidade de Alagoas, Universidade Federal da Paraíba, Universidade Federal de Roraima, Universidade Estadual do Norte Fluminense e ICMBio/CEMAVE.
“É uma grande honra trabalhar em conjunto com esse grupo de profissionais, entre os quais especialistas com experiência significativa em salvar espécies à beira da extinção. Todos os envolvidos continuarão trabalhando juntos para garantir um bom resultado”, comentou Carmel.