A chegada recente de mais de 90 animais, entre eles, espécies ameaçadas de extinção, ampliou a biodiversidade no Refúgio Biológico Bela Vista (RBV), da Itaipu, em Foz do Iguaçu.
No fim de outubro, o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), de São José dos Pinhais (PR), repassou 80 animais ao RBV, que recebe novos moradores quase que diariamente.
Os animais são sempre trazidos por outras instituições que recebem animais resgatados, como a Polícia Ambiental ou o Ibama. Geralmente, são indivíduos encontrados em situação de vulnerabilidade (doentes, filhotes sem a proteção dos pais, passíveis da ação de caçadores, idosos ou sem condições de viverem sozinhos na natureza) ou por serem vítimas de tráfico, atropelamento e maus tratos.
Da lista recebida, há espécies inscritas no Livro Vermelho da Fauna Ameaçada no Estado do Paraná, como o macaco bugio-ruivo (Alouatta guariba), o papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea), o gavião-pega-macaco (Spizaetus tyrannus) e a paca (Cuniculus paca).
Entre os recém-chegados, alguns animais também são inéditos no RBV, como o próprio gavião-pega-macaco ou duas espécies de coruja – murucututu-de-barriga-amarela (Pulsatrix koeniswaldiana) e mocho-diabo (Asio stygius).
Há, ainda, filhotes de tatus (Dasypus novemcinctus), de tapiti (Sylvilagus brasiliensis (L.)) e de lontra (Lutra longicaudis), além de um ouriço-caixeiro Sphiggurus spinosus) ferido. Depois da chegada, todos passam pelo ambulatório médico do Refúgio para avaliação das condições de saúde. Passado o prazo de quarentena, parte fica no criadouro científico, enquanto outros vão para os recintos de exposição.
Manejo adequado e bem tratados
Sob os cuidados do médico veterinário Zalmir Cubas, da Divisão de Áreas Protegidas de Itaipu, o tapiti (tipo de coelho), por exemplo, está em recuperação de uma cirurgia da tíbia. “Ele está bem agora”, garante o médico veterinário. Mas nem todos têm a mesma sorte do coelhinho, que poderá até voltar à natureza.
Um gavião carijó (Rupornis magnirostris) recém-chegado acabou morrendo mesmo após o atendimento. Aparentemente, ele foi vítima de uma pedrada ou de um tiro, que atingiu uma de suas asas. “Vamos fazer a necropsia para tentar identificar a causa da morte”, disse Cubas. Aves de rapina como os gaviões são frequentadores comuns do hospital do Refúgio.
“Muitas pessoas atacam os rapinantes. Falta conscientização”, disse o biólogo Marcos José de Oliveira, da Divisão de Áreas Protegidas de Itaipu. Esta perseguição aos rapinantes talvez advenha de uma crença antiga, de que todos eles poderiam caçar animais domésticos, supõem os técnicos. “Uma pena que isso aconteça, apesar de a maioria deles não ser nenhuma ameaça”, afirma. “Temos que conviver com os animais em harmonia e respeitar o espaço deles”, completou Zalmir Cubas.
Não é a só a violência que interfere na vida silvestre. Outro problema da interferência humana acontece com os filhotes. “Isso é frequente com as aves e também com mamíferos. Às vezes, a mãe só foi buscar comida e o filhote está sozinho, próximo ao ninho, mas ainda não sabe voar bem”, disse o médico veterinário Wanderlei de Morais, também da Divisão de Áreas Protegidas de Itaipu. É nesta hora que o problema acontece. “Até na ânsia de ajudar, retiram o animal deste ambiente. Isso é um erro”, explica. O melhor a fazer é não interferir, recomendam os especialistas. Ou entrar em contato com um órgão especializado, como o IAP, Ibama e Polícia Ambiental.
No Refúgio, há a preocupação permanente de fazer o manejo da forma mais natural possível. O objetivo é reduzir a humanização e garantir a dignidade aos animais que não têm condições de voltar à natureza.
No caso dos feridos, depois do tratamento, eles são levados aos recintos do RBV. Quando há condições de sobrevivência na natureza, eles são devolvidos ao ambiente natural.