O Brasil e a Argentina decidiram analisar, em profundidade, a repercussão das medidas protecionistas adotadas pelo governo de Cristina Kirchner. O assunto foi tratado nesta sexta-feira (24), em Assunção, pelo presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Cristina Kirchner, durante encontro à margem da Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul.
“O presidente Lula manifestou preocupação com as nossas exportações para a Argentina, que caíram de maneira muito acentuada, cerca de 43%”, relatou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.
Segundo o ministro, Lula disse a Cristina que, por meio de acordos com empresas e setores, o governo brasileiro vem se esforçando para limitar as vendas brasileiras para a Argentina, de forma a não comprometer a indústria do país. “A despeito desses acordos de limitação, algumas dificuldades burocráticas continuam”, disse Amorim, referindo-se às crescentes licenças não automáticas de importação impostas pelo governo argentino, com prazo superior a 60 dias.
De acordo com Amorim, Cristina Kirchner procurou demonstrar que poucos produtos estão sendo atingidos e que a redução na entrada de produtos brasileiros no mercado argentino não se deve, necessariamente, às restrições impostas.
Os dois presidentes também falaram sobre o imposto sobre bens pessoais, que existe na Argentina, mas não é aplicado no Brasil. Para Amorim, isso causa um certo desequilíbrio, o que, às vezes, dificulta um pouco os investimentos de empresas brasileiras lá.” Mais uma vez, Cristina Kirchner procurou demonstrar que há muitos investimentos brasileiros no país, inclusive em setores com esse tipo de barreira.
Depois de se encontrar com Cristina Kirchner, Lula esteve com o presidente da Bolívia, Evo Morales, e acertou para 9 de agosto uma visita àquele país. A visita será antes da posse do presidente do Equador, Rafael Correa, e da Cúpula da União de Nações Sul-americanas (Unasul), prevista para o dia 10 em Quito. Lula e Morales falaram sobre os prováveis acordos entre os dois países, que tratam de financiamentos para estradas, por exemplo, já negociados, mas ainda não assinados.
“[Eles] falaram de assuntos que podem ser agilizados, como o financiamento de tratores brasileiros para a Bolívia”, informou Amorim. Segundo ele, já foram licitadas vendas no total de US$ 12 milhões, mas os contratos ainda não foram assinados e ainda falta licitação para mais cerca de US$ 20 milhões.
O ministro mencionou, ainda, interesse brasileiro no lítio e no fosfato bolivianos. “Todos esses assuntos foram tratados dentro do espírito de bom relacionamento que temos mantido”, assegurou.
Perguntado sobre o clima de descrédito quanto ao processo de integração regional, dominante nesta cúpula, Amorim disse não acreditar em crise no Mercosul. “Há uma crise financeira no mundo, e isso acaba tornando mais difícil tomar medidas de integração. Não vejo uma crise no Mercosul, há reflexos da crise mundial, que afetou o comércio dentro do bloco. Isso é real”, afirmou Amorim.