Caro leitor, talvez você deva imaginar a vergonha que eu senti ao ver, em frente à minha casa, na rua Rui Barbosa, duas pessoas passarem e uma dizer para outra: “Que nojo esta cidade! Não há uma lata de lixo para eu jogar esse papel”.
Eu não soube onde enfiar a cara. Simplesmente fui andando, atordoado. A alguns metros encontrei uma dessas lixeiras públicas completamente lotada de lixo, talvez por ser a única da rua, mostrando a todos o quanto nós, cidadãos, queremos jogar os papéis e plásticos num local adequado, mas temos poucas opções. E o resultado: lixo pelas ruas, pelos gramados e pelos canteiros.
Posso parecer chato, radical quando defendo que alguns serviços públicos devem ser realmente públicos. Essa chamada “terceirização” de tudo só gera problemas, principalmente nos serviços mais essenciais. A coleta de lixo nos bairros é ineficiente, a sujeira se espalha por toda a cidade. Nos bairros, moradores passam o domingo fazendo corte de grama nas áreas de responsabilidade da prefeitura (ou de quem ela paga pelo serviço pessimamente executado) ou tirando “matinhos” nos meios-fios e calçadas.
Já cansei de falar e você, amigo leitor, já está cansado de ler nesta coluna, mas vou repetir: empresa privada só serve para dar lucro para o dono.
Empresa tem de ser confeitaria, loja de bolsa de madame, bomboniere, etc. Transporte público, coleta seletiva, manutenção da cidade, serviços básicos e atendimento ao cidadão devem ser públicos!
Esse discurso de que “é caro” para a cidade manter tais serviços como públicos é furado. Não procede. Como a empresa, com o dinheiro recebido do Estado, contrata o funcionário, executa o serviço e ainda tem lucro? Ou a empresa coloca as lixeiras por filantropia?
Enquanto não revermos esse modelo de entregar a cidade nas mãos de empresas preocupadas com seu lucro e inertes em relação à população, veremos a cena do início do texto se repetir todos os dias, por todos os lados: das ruas aos pontos de ônibus.
E nós, cidadãos, ou abaixamos a cabeça e fingimos não ver ou reclamamos. Eu reclamo!

*Luiz Henrique Dias é escritor. Para ler mais acesse www.blogdoluiz.com.br ou siga ele no twitter: @luizhdias