Estava ali pelas bandas do IFPR e perguntei para uma simpática senhora onde eu poderia encontrar um ponto de ônibus. Ela, apontando para um vazio, localizado entre duas árvores, disse “ali”. “Ali?” – indaguei-a. “Sim, ali” – apontando novamente para o vazio. Percebendo ela que eu não estava muito contente com a informação (duvidando, inclusive), deu logo a dica: “ali onde a grama está baixa e tem o montinho de lixo. É ali que os ônibus param”. Saquei o telefone de dentro do bolso e fiz questão de tirar uma foto para que você, nobre leitor, possa tirar suas próprias conclusões de que o lugar indicado se parece com qualquer coisa, menos com um ponto de ônibus.
Foto: Luiz Henrique Dias |
Eu estava até acreditando ter caído em uma mentirinha de mau-gosto |
Mas aquela doce senhora falou com tanta convicção, que resolvi esperar uns minutos para ver se realmente era um ponto de ônibus aquele montinho de sujeira. E se foram dez, quinze, vinte, vinte e cinco, trinta minutos! E nada de ônibus. Eu estava até acreditando ter caído em uma mentirinha de mau-gosto. Até que apareceu um menino.
A única coisa que me aliviava a alma era pensar “pelo menos não está chovendo”.
“Oi. Aqui é ponto?” – arrisquei. “Sim.” “A que horas passa?” “Nem sei, mas já deve estar para passar”. E estava mesmo. Vinte minutos depois, cinquenta se eu somar com os trinta anteriores à chegada do menino. Eu precisava ir ao Centro, próximo ao JL. O sol estava escaldante. O anúncio luminoso dizia “Centro/TTU”, mas a plaquinha de metal contava a verdade: “via Rodoviária”. Entre mofar no ponto imaginário e ficar sentado no ônibus, preferi embarcar.
Cerca de vinte e cinco minutos depois, cheguei a meu caminho: esquina da República Argentina com a Castelo Branco. Somando todo o trajeto com a espera, foram 75 minutos! Para um deslocamento que, a pé, duraria pouco mais de meia hora e, de carro, cinco minutos. Se somarmos o fator ponto com o fator demora, encontraremos um resultado único, inequívoco: desrespeito. E entenderemos o porquê de as pessoas quererem tanto comprar um carro.
Quando falamos no transporte coletivo, queremos não só ônibus com ar-condicionado e linhas eficientes (isso é o mínimo). Queremos uma estrutura de transporte urbano completa, com pontos, paradas, abrigos, acessos, etc. Veja o acesso de ônibus para o ponto em frente à Unioeste. Um horror. Veja os novos pontos da JK: um chamariz para acidentes. Veja o ponto em frente a APAE, na Paraná. Todos já vimos batidas ou atropelamentos ali. São comuns.
E mesmo onde parece haver estrutura, ela não é dimensionada para o calor de Foz do Iguaçu. Experimente ficar no ponto da Almirante Barroso, ao lado do Mitre, às cinco da tarde. Ou mesmo no ponto da Catedral.
E, nos bairros, a situação é ainda mais grave.
Acredito que a melhoria do transporte coletivo de Foz é fundamental para o desenvolvimento social e turístico da cidade. Acredito, também, que tal melhoria deva ser participativa, com a população indicando o certo e o errado, não apenas como usuária, mas como dona do espaço urbano, público. Mas tudo isso só vai sair do papel se houver vontade ou pressão. Como não há vontade, caro leitor, fazemos a pressão.
*Luiz Henrique Dias é dramaturgo e usuário do Transporte Coletivo de Foz. Para ir de casa ao trabalho, ele utiliza roupas leves e bebe isotônicos, afinal, andar de ônibus em nossa cidade é sinônimo de passar calor e perder líquidos por um período lonnnnnngo de tempo. blogdoluiz.com.br e @LuizHDias