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Contra o Teatro Municipal de Foz

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É um chavão: “Que vergonha! Uma cidade sem um teatro! Um absurdo!”. As pessoas aprenderam a reproduzir o discurso raso que diz ser a falta do teatro, do grande teatro, do teatrão da cidade, o motivo para Foz do Iguaçu viver na idade das cavernas cultural. 

 

Quem usa tal discurso, cita, como exemplos, o Teatro Municipal de Toledo, ou mesmo o novo Teatro de Cascavel. 

 

Tais cidades, com seus valores à parte, investiram boas quantias em seus espaços belíssimos, com centenas de poltronas, grandes cortinas e lindos salões de entrada, mas eu confesso me perguntar, diariamente, se é disso (um teatrão) que precisamos.

 

E concluo que não. 

 

Para discutirmos a arte teatral contemporânea, infelizmente, temos de sair do rincão e parar de comparar nossa cidade com Toledo e Cascavel. Vivemos em uma terra ímpar, cheia de contrastes – bons e ruins -, enquanto as citadas (e valorosas) cidades são, na minha classificação, comuns. Prósperas, mas comuns. 

 

Tirando a baixa profundidade de nossas almas, vamos ao debate: eu pergunto, ao nobre leitor, quantos teatros grandes, de mais de mil lugares, há em Curitiba? Em Porto Alegre? Em Belo Horizonte? E em São Paulo? 

 

Agora, pergunto ao mesmo nobre leitor, quantas salas de apresentações pequenas, com cinquenta, cem lugares, no máximo, há nessas mesmas cidades? A resposta certamente será “várias”. 

 

As salas pequenas contemplam os grupos locais, as pequenas produções, os novos autores, os novos atores, os novos espectadores. E custam pouco! Vejam o “Novelas Curitibas”, na capital do estado. Vejam o “Arena”, em Porto Alegre. Observem o “Espaço dos Parlapatões” ou o “Club Noir” em São Paulo. O maior de todos que citei tem noventa lugares!

 

Os grandes teatros requerem estrutura, pessoal, equipamentos especiais e muito dinheiro. O aluguel é caro para os grupos. Então, os espaços acabam sendo utilizados como casa de shows e locais para formaturas ou para os “globais” espetáculos se apresentarem. 

 

Sem falar que, em sala grande, teatrão, o ingresso precisa ser caro para cobrir os custos, ou o gasto público é ainda maior, principalmente considerando que os resultados práticos para a cultura local são pequenos.

 

Ou o nobre leitor acha que stand up (que lota teatro) eleva o espírito de alguém? Eu não acho

 

Temos casas de shows em Foz. Temos auditórios para formaturas. Temos hotéis para os besteiróis e as peças caras e sem conteúdo. Foz do Iguaçu precisa de um teatro para artes cênicas. A maioria dos espetáculos não é dimensionada para esses locais. Não pedem mais que algumas dezenas de pessoas na plateia. Não pedem um palco de duzentos metros quadrados. 

 

Fiz uma conta esta semana: com trezentos mil reais, monta-se uma sala de apresentações para sessenta pessoas tranquilamente. Gastamos um milhão de reais e teremos três salas! E com o troco, arrumamos o Teatro Barracão e pronto: poderemos ter um festival de teatro sem precisar utilizar salas de cinema. 

 

Podemos contemplar todos os grupos da cidade, deixar que eles montem seus espetáculos, garantam seu público e ganhem dinheiro para continuar seus trabalhos, de forma autônoma e independente. Além de permitir a pluralidade artística e, ao expectador, a opção. 

 

Um Teatro Municipal custará mais de quinze milhões! 

 

Eu sempre falo, nesta coluna, que não devemos pensar pequeno. 

 

Agora, vou me contradizer: pensemos pequeno e paremos de pensar num elefante branco para contar a todos que nós somos cultos só porque fizemos um prédio bonito. 

 

Vamos gastar todo nosso dinheiro para parir um mamute?

 

 

 


 
 

 Luiz Henrique Dias é dramaturgo e chato. @LuizHDias (blogdoluiz.com.br)
 

 

 

 

 

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