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Eles fugiram da aula de Física

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Meus alunos sabem: adoro definições. Sempre, nas primeiras aulas de mecânica, quando falo a respeito dos espaços percorridos pelos móveis, seja em movimentos uniformes ou variados, gosto de diferenciar as expressões físicas distância total percorrida e deslocamento.

Tal diferenciação é fundamental para o aluno, uma vez que é uma constante “pegadinha” em concursos e vestibulares.

Tentarei explicitá-la rapidamente, apesar das divergências conceituais – e saudáveis – entre professores de ciências: defino, em aula, distância total percorrida como a soma algébrica de todos os espaços executados pelo móvel. Por outro lado, deslocamento é o vetor que liga dois pontos (o inicial e o final).

Complicado?

Bom, posso facilitar.

Pense assim: você vai de uma cidade a outra de carro. Podemos considerar que o trajeto (com curvas, esquinas e desvios) é uma distância total percorrida. Agora, se você for de avião (considerando um vôo em linha reta), teremos um deslocamento. Guardadas as devidas proporções (e correções), é um jeito fácil para se entender a diferença.

Mas parece que as pessoas responsáveis pelo transporte público de Foz fugiram desta aula.

Na última sexta, fui até o terminal. A ideia era deslocar-me até a Vila A.

Um trajeto aparentemente curto, com um deslocamento de 3,89 km, segundo o Google Earth, ou de, no máximo, 5 km (aí seria uma distância total percorrida, mas ainda próxima do deslocamento), se feito diretamente do terminal até o local de desembarque, tanto pela Avenida JK quanto pela Avenida Paraná. Um trajeto que, considerando uma velocidade média de 35 km/h (que é baixa para o porte de nossa cidade), poderia ser feito de 7 a 10 minutos, fora do horário de pico (era o caso, inclusive).

O que vi, no entanto, foi um trajeto de – segure-se na cadeira! – 11,29 km.

Quase o triplo do deslocamento reto (de avião) ou mais que o dobro do deslocamento por avenidas (de carro).

Antes de chegar ao meu destino, fiz um city tour passando pela catedral, Boicy, Avenida Paraná, Terminal Rodoviário e, enfim, Vila A. O ônibus ainda levava placas indicando que passaria pela Uniamérica, Unioeste, Itaipu e, depois, Vila C.

É o chamado “aproveitamento de linhas”. Uma aberração muito usada por essas bandas.

O resultado foi uma viagem de 32 minutos até meu destino.

Enquanto, no jargão de professores de física, não utilizarmos lógica de “aproximar o real do ideal”, ou seja, aproximar a distância total percorrida do deslocamento nas linhas do transporte, teremos de submeter nossos cidadãos a essas viagens gigantescas que custam tempo e paciência, além de produzirem uma boas brotoejas neste calor de Foz.

 

 


 
 

 

 ** Luiz Henrique Dias é dramaturgo e usuário do Transporte Coletivo.  @LuizHDias (blogdoluiz.com.br)
 

 

 

 

 

 

 

 

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