Era um domingo. Janeiro. Em duas horas de trabalho contínuo e tenso, escrevi uma pequena peça de pouco mais de dez páginas e, depois de meses de ensaios, temos, hoje, algo inédito na cidade: 30 sessões apresentadas em menos de dois meses e convites para viajar o estado todo, representando a produção teatral de Foz do Iguaçu
Comecei a fazer teatro com 14 anos. Com meu professor e amigo Beto Virgínio. Tive uma pequena e intensa carreira amadora e fui embora.
Abandonei o teatro.
Fui tentar ser feliz. Mas vi que o outro lado da vida – o lado de lá, longe da arte e da escrita – é vazio.
Voltei ao teatro aos 25 anos de idade e nunca mais saí. Optei por escrever pouco, mas com rigor. Dediquei-me sempre, como sabem, a calibrar os dedos em crônicas, artigos, contos. Hora ou outra, sob potências criativas, faço uma peça.
Uma delas, pouco por sorte, pouco por motivação de meu amigo e professor Roberto Medina, foi parar nas mãos de Marcos Damaceno, de Curitiba, numa seleção e fui, assim, selecionado para o Núcleo de Dramaturgia do SESI, um projeto de excelência na produção de novos textos para teatro, reconhecido em todo o país e onde há teatro contemporâneo no mundo.
Lá, no Núcleo, conheci grandes nomes, como meu professor Roberto Alvim e o próprio Damaceno e tive (e tenho) colegas ilustres, como os dramaturgos Luiz Leprevost e Marcelo Bourscheid, entre outros, que me motivam apenas pela presença, mesmo sem saberem disso.
E trouxemos, com ajuda da Fundação Cultural, uma turma do Núcleo de Dramaturgia do SESI para cá – para Foz – e, hoje, temos 27 alunos estudando teatro conosco.
O resultado de todo esse trabalho foi posto, escrito, em um texto chamado Guizos. Convidei o ator Gabriel Pasini para encarar o monólogo. Apresentei a ele minha proposta de teatro minimalista, escuro, estático. Ele devolveu a confiança com uma interpretação digna de quem sabe a essência do teatro e não precisa plantar bananeira para transformar uma obra escrita em arte falada, pois esse é o teatro: palavra, espaço e tempo. E só.
Convidei Gabriela Keller para operar a luz em disjuntores, ao vivo, junto com a plateia, e para fazer a direção de fotografia. Natacha Pastore para, com toda liberdade, criar e operar a trilha. Yuri Amaral para elaborar a arte gráfica. Beto Virgínio para solucionar a falta de luzes que produzissem nossa escuridão. E, seis meses depois, a peça estava pronta.
Com a ajuda do Clickfoz, com mídia e dinheiro, inclusive, construímos um pequeno teatro – em vez de reclamar – e fizemos uma temporada inédita em Foz, chegando a quatro sessões semanais.
Terminamos, neste domingo, a primeira temporada, com lista de espera para a segunda, que começa no dia 24.
Assistiram à peça pessoas comuns, gente de teatro, jornalistas, amigos, etc. Tivemos em nosso pequeno “teatro de bolso”, inclusive, o motivador de toda essa proposta de companhia, o dramaturgo Roberto Alvim.
Foram lindos comentários (http://teatrodoexcluido.blogspot.com). Por toda parte. Inclusive de onde eu nunca imaginei vir um elogio. Tivemos críticas, também, mas aceitamos todas com muito respeito.
Exceto uma, de alguém que assina como “Antônio” (que não conheço, creio), que espalhou, pela internet, um texto mal escrito, cheio de clichês, incoerências e citações da Wikipedia.
Mas essa desconsideramos, pois a julgamos infantil, boba. Demais.
As outras (críticas) foram todas bem-vindas e fazem parte, agora, de nossa preparação para a segunda temporada.
Termino a temporada de Guizos com a sensação de missão cumprida. A peça foi exatamente o que queríamos que fosse. Cumprimos a promessa de sessões permanentes, sempre no mesmo horário e local, respeitando o público.
E se você não assistiu (ou se quiser ver novamente), faremos uma nova temporada a partir de 24 de setembro.
Seja sempre bem-vindo ao teatro, aqui, conosco, ou onde quer que seja.
*Luiz Henrique Dias é diretor da Cia Experiencial O Teatro do Excluído. Siga ele lá: @LuizHDias ou acesse luizhenriquedias.com.br