A cidade não para. E ela está cheia de problemas. E como nossa coluna aqui no Click só sai às quartas, durante a semana utilizo os meios digitais para debater um pouco sobre cidadania, política urbana e convivência e, também, sobre questões de interesse público. Apesar de ter criado um site para isso, o Facebook e o Twitter têm sido ferramentas importantes. Nesta semana, depois de apresentar minha opinião sobre determinado tema, gerador de 129 comentários, dos quais 90% me crucificaram, uma manifestação me chamou a atenção.
Uma pessoa, armada com seu perfil no Facebook – uma poderosa mídia social –, nos chamou, a mim e a todos que ali debatiam freneticamente a questão da construção – ou não – da Usina de Belo Monte, de “ativistas de sofá”.
Na hora, confesso, fiquei bravo. Respondi asperamente que “não faço política de sofá, mas acredito no poder das mídias sociais”. Mas, depois, pensando, refletindo sobre o tema, entendi a colocação do participante do fórum e passei a concordar com ele.
Do que adianta sermos ativistas de sofá?
Aqui, na coluna, ou mesmo nas mídias sociais, o debate é frenético. Quem me acompanha sabe que, diariamente, publico fotos sobre problemas do dia a dia, das ruas, como lixeiras quebradas, ônibus lotados, ações pouco cidadãs, etc. E sempre recebo apoio de diversas pessoas. E críticas de muitas, também. Mas nas três vezes em que tentei – sozinho ou com amigos – medir o poder das tais mídias para organizar mobilizações, o resultado foi péssimo. Ou conseguimos reunir três pessoas ou a coisa melou de vez. Inclusive chamei, algumas vezes, pessoas de posicionamento contrário para um debate real. E nada.
Todos os “grandes ativistas” desaparecem quando a proposta é sair de trás das telas dos notebooks.
E a culpa é das mídias sociais? Não. Elas cumprem seu papel de forma eficaz. Servem como veículo de comunicação e informação. Representam boa parte da notícia que circula no Brasil hoje.
E a culpa é dos usuários que botam lenha no fogo, mas, na hora, somem? Também não. Eles são vítimas de um “sistema de idiotização” nefasto e eficaz.
Então de quem é a culpa? É da sociedade. Da sociedade que criamos e a qual tanto veneramos.
A sociedade se despolitizou. Por mais que haja mudanças positivas no Brasil e em Foz, nos últimos anos, o pessimismo se espalhou de tal forma que virou uma praga. Não falo elogiando este ou aquele governo ou governante, político. Falo da política diária. De se falar. De se ouvir. De se respeitar. De se debater o mundo, o país e a cidade. Muitas pessoas se tornaram robôs, repetidores. E, como todo robô, são infelizes por sua falta de humanidade.
As próprias “marchas”, famosas, são desastrosas. Li em um jornal, certo dia, que “quase mil pessoas marcharam contra a corrupção em São Paulo”. Compare esse número com o público de um jogo de futebol ou de um show sertanejo. Sem se esquecer que, ao contrário do jogo e do show, a marcha contra a corrupção era de graça. As mídias sociais – e eu sou um assíduo usuário delas – transformaram as pessoas em fakes, escondidos por seus avatares felizes, feitos por fotos tiradas em nosso “melhor ângulo”. Lá (ou aqui) na internet, somos todos felizes e politicamente ativos. Mas, pelo menos aqui no Brasil, na hora de ir lá reivindicar alguma coisa, aí “não dá tempo”, ou “tá calor”, ou “já tenho compromisso”.
Amigos, falo isso porque me dei conta de que, apesar de tentar ser um cidadão ativo, estava virando um ativista de sofá e, sinceramente, não é de gente sem ação que o Brasil e a cidade precisam. Então, vamos agitar na internet e, depois, fazer nossas ideias valerem no mundo real. Porque ele – o mundo real – é bem mais complicado e, ao contrário de nos avatares, nem sempre estamos bonitos e felizes.
Boa semana a todos!
* Luiz Henrique Dias é escritor, estudante de Administração Pública e comunista (convicto). Ele é daqueles caras chatos, que passam o dia todo procurando coisas pra reclamar e, quando encontra, corre pra postar no Facebook ou publicar aqui no Click e, assim, causar a discórdia ou, no mínimo, encher o saco dos outros. O Luiz escreve às segundas no Jornal A Gazeta do Iguaçu, às quartas aqui no Clickfoz e, diariamente, em seu site www.luizhenriquedias.com.br. E dá pra seguir ele no Twitter: @LuizHDias
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