Existe um ditado popular no qual diz: “O bom filho à casa torna”. Tal frase poderia ser perfeitamente usada para descrever a volta de Anderson de Andrade ao futsal de Foz do Iguaçu, ídolo da torcida iguaçuense nos tempos em que jogou pelo antigo Foz Futsal tricampeão paranaense em 1996, 97 e 01. O “Anjo Loiro”, como ficou conhecido na cidade, agora está com o visual um pouco diferente e, lógico, mais amadurecido como jogador e como pessoa.
Natural de Quedas do Iguaçu (PR), Anderson, 33 anos completados em fevereiro, agora é um homem casado, pai de família. Mas ainda não perdeu a malandragem em seu estilo de jogar. Malandragem no bom sentido, vale ressaltar. O ala que teve passagens pela seleção brasileira e diversos clubes do Brasil e do mundo, agora parece fincar, definitivamente, suas raízes na Terra das Cataratas.
Anderson recebeu a equipe de reportagem do portal Click Foz do Iguaçu no ginásio de esportes Costa Cavalcanti, sua “segunda casa”, como costuma dizer, para uma entrevista descontraída. Nela, ele fala sobre a carreira, a família, demonstra o tamanho de sua fé e, como não poderia deixar de ser, fala-se muito sobre futsal.
Assessoria ADEAFI |
ClickFoz: Como surgiu a possibilidade de voltar a jogar na cidade de Foz do Iguaçu?
Anderson: Sempre tive o sonho de voltar a Foz e jogar aqui. A primeira oportunidade surgiu conversando com o Secretário de Esportes Márcio Ferreira, que até então não era o secretário, mas tinha o projeto de voltar a apoiar o futsal iguaçuense juntamente com a diretoria da Adeafi que foram conversando comigo. Eu fiquei bastante feliz com a possibilidade de voltar. Eu estava na Malwee de Jaraguá do Sul (SC), uma das melhores equipes do país, talvez até do mundo, e a gente foi amadurecendo a ideia, conversando com secretário de Esportes e eu fiquei muito feliz em poder voltar a jogar em Foz do Iguaçu.
ClickFoz: O jogador Falcão, eleito duas vezes o “Melhor Jogador do Mundo” pela FIFA, que joga na Malwee teve alguma participação nesse seu retorno?
Anderson: O Falcão é um dos meus melhores amigos. Desde a época da seleção brasileira a gente sempre jogou junto e na Malwee também. Desde que surgiu a possibilidade de eu retornar a Foz do Iguaçu ele queria estar presente, queria ajudar em tudo que fosse necessário para que a Adeafi pudesse ter o mesmo sucesso obtido pelo Foz Futsal.
ClickFoz: O público voltou a lotar o ginásio Costa Cavalcanti, assim como era nos tempos do Foz Futsal. Grande parte disso se deve ao bom elenco montado pela diretoria para a disputa desse Campeonato Paranaense da Chave Ouro e também pelo seu retorno. Qual seria a explicação dessa “idolatria” do torcedor por você?
Anderson: Eu agradeço a Deus por tudo isso, porque isso é recíproco. Eu me sinto em casa jogando aqui. Eu amo tudo isso, tudo o que está acontecendo em minha vida. Amo vestir essa camisa. É o time que eu amo de coração, então quando eu entro em quadra, dou o melhor de mim sempre. Você estando em casa, com confiança e feliz torna-se fácil jogar. Eu agradeço ao torcedor, agradeço todo mundo por estar lotando o Costa Cavalcanti, dando o apoio ao time novamente. Sabemos que em Foz do Iguaçu o povo é apaixonado por futsal e isso para nós é bastante importante e nós temos um compromisso dentro de quadra, que é dar o máximo da gente e dar alegrias a esses torcedores, pois eles merecem.
ClickFoz: Quais as lembranças que você tem dos tempos do Foz Futsal e as comparações que se pode fazer com o time atual do Foz do Iguaçu Adeafi?
Anderson: As lembranças são as melhores possíveis, pois Foz do Iguaçu abriu as portas pra mim no cenário nacional. Em 1996, quando cheguei aqui era um jogador totalmente desconhecido e estava começando minha carreira numa equipe principal. Naquele ano, inclusive, fui o melhor jogador do Campeonato Paranaense e ainda conseguimos o título. Desde então se abriram as portas tanto a nível nacional, quanto mundial. Cheguei à seleção brasileira e as portas da Europa também se abriram para mim. Devo muito a Foz do Iguaçu, muito ao torcedor iguaçuense por terem me abraçado e me ajudado nessas situações. E, hoje, é mais ou menos parecido. Nós estamos aqui, lógico, com um pouco mais de experiência, fazendo as coisas bastante pensadas e podendo também colaborar para que a Adeafi seja um time campeão. Queremos recuperar a hegemonia no futsal paranaense, temos equipe pra isso, temos jogadores de qualidade para isso e acredito que temos tudo para fazer com que Foz volte a ser o que era nos tempos do Foz Futsal.
ClickFoz: Recentemente você esteve na cidade de Paranaguá, naquela vitória da Adeafi por 5 a 1 sobre o Rio Branco e reencontrou o técnico Joel de Locco, que foi seu treinador nos tempos do Foz Futsal. Em alguns momentos houve intrigas entre vocês e nesse reencontro houve troca de abraços e cumprimentos. A paz está selada entre você e o Joel de Locco?
Anderson: Por minha parte sempre esteve selada. Há uns quatro ou cinco anos atrás, eu pedi perdão a ele por tudo que tinha acontecido. Como jogador no início de carreira a gente não pensa nas consequências. Sempre tive um gênero muito forte, muita personalidade e, muitas vezes, não respeitava o que o Joel colocava pra mim dentro de quadra como treinador e faltei com respeito com ele muitas vezes, mas pedi perdão pra ele que é um excelente treinador e uma grande pessoa. Em Paranaguá conversei bastante com ele, depois ele me ligou. Não tem mais atrito entre a gente. É coisa do passado e desde o momento que a gente se perdoa, o que aconteceu fica apagado. Eu admiro bastante o Joel, aprendi muito com ele e só tenho a agradecê-lo por tudo que me ensinou nessa minha longa carreira de jogador de futsal.
ClickFoz: Como é o Anderson fora das quadras?
Anderson: Eu sou um cara muito tranquilo. Procuro estar o máximo de tempo possível com minha família – com meus filhos e minha esposa. Sou bastante caseiro também. Amo muito minha esposa, meus filhos e, como cristão evangélico, amo muito a Deus. Sei que Deus é o mais importante e a prioridade em minha vida. Quando não estou em casa com a família, estou com a família na igreja. Eu sempre falo pra todo mundo que eu não sou um jogador; sou um cristão disfarçado de jogador. Eu sei que tudo que tenho nessa vida foi benção de Deus, foi quem abriu essa porta maravilhosa em minha vida. Tenho honrado e louvado a Ele, porque Deus é maravilhoso e fiel.
ClickFoz: Você teve alguns momentos complicados na carreira, com algumas contusões sérias. Como foi encarar esse desafio em sua vida?
Anderson: Eu tive uma lesão muito grave no joelho quando jogava na Espanha. O que, teoricamente, era para ter sido quatro meses de recuperação, acabou durando um ano e meio longe das quadras. Mas como sou fiel e temente a Deus, sempre acreditei que havia um propósito naquela lesão e sabia que voltaria a jogar e aconteceria o que está acontecendo hoje na minha carreira. Nenhum jogador quer ter uma lesão, ainda mais uma grave como a que eu tive, mas quando Deus está no controle, as coisas se encaminham e as portas se abrem. Eu espero não ter mais lesões, porque é um momento duro, difícil e complicado. Lógico que lesões cotidianas, do dia-a-dia, sempre vão ocorrer. Hoje em dia não existe jogador que não entre em quadra com pelo menos uma “dorzinha”. Mas sabemos que isso é normal, então eu deixo na mão de Deus e espero nunca mais ter uma lesão grave como a que tive.
ClickFoz: Ainda existe muito assédio quando sai às ruas?
Anderson: Ainda tem bastante. Quando eu saio à rua o povo reconhece, vem conversar, pede autógrafo, tira foto. Eu procuro sempre retribuir esse carinho da melhor maneira possível, porque sem esse torcedor, sem esse carinho para um atleta, fica difícil. Eu acho legal tudo isso, ser reconhecido pelo trabalho que venho fazendo, doando-se ao máximo, entregando-se de todo o coração ao time e para o torcedor que é o mais importante. Acho que um time sem torcida, não existe. Eu agradeço por tudo isso, principalmente pelas crianças, pois quando eu saí de Foz do Iguaçu, talvez essas crianças não eram nem nascidas e, no entanto, nesse curto espaço de tempo que estive fora, agora vêm centenas de crianças ao ginásio. A gente sente isso nas ruas – esse reconhecimento – e aonde a gente frequenta diariamente sentimos o carinho do torcedor.
ClickFoz: Pode-se dizer que os pais dessas crianças contaram para elas a “história do Anderson do Foz Futsal”.
Anderson: (Risos) É verdade! Pais, talvez avós, que acompanharam o começo da minha carreira em Foz do Iguaçu, que viveram aquela época maravilhosa de glórias aqui em Foz, com certeza explicaram às crianças. Mas, hoje em dia, essas crianças estão podendo acompanhar também minha carreira aqui dentro do Costa (Cavalcanti, ginásio de esportes onde o Foz do Iguaçu Adeafi manda seus jogos), assim como os pais delas acompanharam em épocas passadas. É legal tudo isso e devemos dar bom testemunho, pois sabemos que servimos de espelho para essa “meninada”. Devemos tentar ser sempre o mais correto possível, para que elas possam seguir nossa carreira, mas como um jogador exemplar, que ama de paixão o que faz e que seja um exemplo não só dentro de quadra, mas fora também.
ClickFoz: Como você encara o fato de ser uma referência dentro de quadra por alguns de seus companheiros mais novos e, às vezes, até por seus adversários?
Anderson: Eu me considero um jogador igual aos meus companheiros. Não existe o melhor, nem o pior; somos todos iguais. Tem jogo que um pode ser mais importante, tem jogo que é o outro. Às vezes um marca dois, três gols, como também pode marcar apenas um, mas o gol valer por três. Eu procuro com a experiência ajudar a contribuir com os jogadores mais novos, assim como outros jogadores experientes também procuram ajudar. É importante dizer que aqui é um lugar bom de trabalhar, pois o grupo é unido e há um ambiente bom de trabalho. Por isso, precisamos nos ajudar sempre, para que possamos conquistar o objetivo principal, que é ser campeão paranaense.
ClickFoz: Você sonha em voltar a vestir a camisa da seleção brasileira, ou isso está fora de seus planos?
Anderson: Sonhar, todo mundo sonha (risos). Mas eu sei que agora está tendo uma renovação dentro da seleção brasileira. Depois de um Mundial é normal dar oportunidades a novos jogadores e deve haver mesmo essa renovação para que possamos chegar sempre com forças nos torneios. Assim como eu cheguei muito novo na seleção brasileira, sei o quanto isso é importante para que nós possamos ter a hegemonia que reconquistamos.
ClickFoz: Pretende encerrar a carreira no Foz do Iguaçu Adeafi?
Anderson: Minha vontade – e de minha família também – é não sair mais de Foz do Iguaçu. Eu não quero mais sair. Até pelos meus filhos, pois moramos muito tempo fora e meus filhos estavam tendo dificuldades nos estudos. Até pela cultura diferente que era na Espanha, em relação ao Brasil. Recentemente tive propostas de ir para o Japão, Cazaquistão, Itália e até para o Catar. Propostas tentadoras financeiramente, mas eu valorizo demais a família. Minha prioridade sempre será a alegria da minha família e dar uma boa qualidade de vida para eles que estão felizes aqui. Eu também estou feliz e não vejo o dinheiro como primeiro plano em minha vida e, sim, a alegria de minha família.
Assessoria Adeafi |
Anderson e o jogador e amigo Falcão, ícone da Seleção Brasileira de Futsal |
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